Capítulo 8 Cruzando o Atlântico

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Após passar a madrugada em claro, Lisa ficou grata quando serviram o café da manhã. Tinha acabado de entregar a bandeja com um guardanapo sujo e um copo com restinho de café para uma bonita comissária de bordo, morena e alta, quando deixou de ver nuvens e passou a ver terra. Grudou a cara na janela para observar melhor as tonalidades de verde das áreas gigantescas de terra. Uma terra estrangeira.

O que estava fazendo quilômetros do chão? De um chão há quilômetros da sua casa? Como iria se virar sozinha? — questionou-se.

Nunca havia se sentido tão só como naquele momento. Sua vontade era ficar dentro do avião, voando sem destino; não queria que ele pousasse em lugar nenhum. Isso significaria agir, tomar decisões. E ela era inexperiente nisso. Estava aterrorizada.

Fora do avião, Lisa passou na imigração do aeroporto Charles de Gaulle, na França, fez de tudo para que suas mãos parassem de tremer, em vão. Um senhor de cerca de 50 anos, cabelos grisalhos e os lábios tão finos que dava a impressão que eram dois riscos de lápis vermelho, checou seus documentos. Olhou para o rosto de Lisa e para a foto de seu passaporte algumas vezes.

O funcionário da segurança fez perguntas em francês que ela não entendeu muito bem. Deduziu que era alguma coisa relacionada ao local onde ficaria hospedada. Apontou para o comprovante de reserva de seu hotel no centro de Paris. Ele falou mais algumas coisas que ela também não compreendeu, sendo que a todo instante dava um fraco sorriso e balançava a cabeça como que concordando com alguma coisa que nem mesmo ela sabia o que era.

Só entendeu que poderia seguir adiante quando o francês lhe devolveu os papéis, deu um carimbo no passaporte e olhou para o próximo da fila.

— Prochain — gritou ele.

Lisa imaginou que ele estava chamando o próximo da fila, recolheu seus documentos e cedeu espaço na cabine para outra pessoa.

Depois de ter recolhido sua mala em uma esteira circular, atravessou uma porta automática que dava acesso à área de desembarque do imenso aeroporto. Viu diversas pessoas que esperavam outros passageiros, elas seguravam cartazes e exibiam semblantes ansiosos e também cansados de ficar segurando placas.

Nos cartazes, tinham nomes que Lisa nem sabia que existiam: Chermont, Dideron, Aaminah, Gilca. A sua vontade era procurar uma placa com seu nome, agarrar na pessoa que a estivesse segurando e implorar para dali, mandá-la de volta ao Brasil. De preferência, de primeira classe, com tudo pago.


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