Dentro do restaurante, tirando Carolina, que tinha sua idade, as demais pessoas aparentavam ser um pouco mais velhas. Lisa cogitou que deveriam ter uns 25 anos. A primeira pessoa que viu foi uma garota loira, com a pele mais branca e uniforme que já havia visto, e pequenos olhos de um azul violeta. O nariz era delicado e levemente arrebitado, os lábios eram finos e o rosto oval e comprido.
Ela usava um vestido branco de mangas longas que parava no meio de suas coxas finas e marcava seu corpo magro; usava meias pretas e sapatilhas da mesma cor. Mesmo sem salto, ela era bem alta, mais do que Carolina. De uma beleza andrógina, a mulher, definitivamente, chamava a atenção. Ela conversava animadamente com Rafael, que estava atrás de um balcão, cortando alguns pães com uma imensa faca de cabo preto.
Sentada sozinha em uma cadeira, com os cotovelos na mesa, estava uma menina ruiva, com óculos de aros grossos preto e um suéter surrado. Tinha estatura média e era ligeiramente roliça.
— Pessoal, essa é a Lisa. Chegou hoje na França. É brasileira, de São Paulo. Ela vai jantar com a gente hoje — disse Carolina, em inglês, apresentando Lisa para o pequeno grupo.
— Essa é a Carmem — disse, apontando para a loira. Ela é francesa. Essa é a Alana. Ela é irlandesa o que explica esse cabelo vermelho que é um escândalo! — disse, animada, Carolina. — O senhor mal-humorado você já teve o desprazer de conhecer — continuou, olhando para o rapaz que tinha acabado de sair por uma porta equilibrando quatro pratos brancos, dois estavam sobre os braços e dois sustentados pelos dedos. Ele os depositou na mesa e voltou a sumir pelos corredores do bistrô.
— Prazer em conhecê-la, querida — disse Carmem, sorrindo amavelmente. Lisa percebia por seu sotaque que o inglês não era a língua nativa da garota. O que já não acontecia com Alana, que tinha um inglês fluido, apesar de ter um acento diferenciado do inglês britânico e americano.
— Oi. Espero que esteja gostando da França. É a terceira vez que eu visito o país, mas não me canso — disse Alana, com voz baixa. Terminou sua fala com um despretensioso sorriso que formou covinhas nas suas bochechas arredondadas.
— E por onde as senhoritas andaram? — perguntou Rafael, terminando de alojar os pães em pequenos cestos e os levando para as duas mesas que estavam colocadas uma ao lado da outra, para permitir que todos pudessem jantar juntos.
— Nós andamos muito, fomos na Catedral de Notre Dame. Achei perfeita a arquitetura gótica — disse Lisa, animada.
— Tentei imaginar o corcunda de Notre Dame naquele lugar. Coitado, se balangando de um lado para o outro. Será que existem descendentes dele? Será que herderam a corcunda do parente famoso? — divagou Carolina.
— O corcunda é um personagem do escritor Victor Hugo. Não é real — disse Derek, voltando para junto deles, dessa vez carregando três pratos.
— É real o que eu queira que seja real — respondeu, encabulada, Carolina.
— Se você quiser, Carol, pode vir comigo na casa de Victor Hugo, o escritor. A minha ideia é ir ainda essa semana.
— E de onde você conhece ele? Ele te convidou?
— Só se foi o espírito dele que fez contato com a sua amiga... — interrompeu novamente Derek.
— Lisa, meu nome é Lisa — avisou, com o semblante sério, no que foi recebida com um olhar de indiferença.
— Costuma ter esses tipos de contatos mediúnicos, senhorita Lisa?
— Não, não acredito nisso. As conversas mais assustadoras que costumo ter são com pessoas vivas, principalmente as consideradas mal-humoradas — disse ela frisando o apelido dado a ele por Carolina.
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As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)
ChickLitQuando Lisa perde a sua avó Rose, a única pessoa que entendia seu amor por livros, ela repensa o seu relacionamento nada saudável com um viciado em jogos digitais, o tratamento contra a lúpus que enfrenta, seu emprego sem futuro e sua tendência a pr...