As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)

Capítulo 43 A rival

As dores estavam espalhadas pelo corpo todo, ter dançado metade da noite e ter se equilibrado em sapatos altos cobraram seu quinhão. Lisa teve que tomar analgésicos e ficou com as pernas estendidas no sofá por um bom tempo. Não sabia de Derek desde a noite passada. Ele não mandou nenhuma mensagem, e ela preferiu não ligar para ele. 

Alguma coisa estava errada e Lisa não estava com um bom pressentimento. Carolina tinha saído para andar de bicicleta com Chain e parecia que a casa estava vazia. Lisa fez um rápido almoço, composto de salada e filé de peixe empanado assado, daqueles que são vendidos congelados. 

Após a refeição, resolveu subir para seu quarto e descansar um pouco; estava para pegar no sono quando ouviu alguém bater na porta. Levantou-se apressada.

— Derek! — chamou ela, correndo para abrir a porta. O sorriso se desvaneceu no rosto quando ela viu quem era. 

— Carmem? Aconteceu alguma coisa? — perguntou Lisa assustada. 

— Sim, aconteceram muitas coisas — respondeu, com o rosto sofrido. 

— Meu Deus! O Liam está bem? 

— Sim.

— Aconteceu alguma coisa com o Derek?

— Calma. Ele está bem. 

— Você me assustou... Então, no que posso te ajudar?

— Eu preciso ter uma conversa com você, de mulher para mulher. O seu colega da Polônia abriu a porta para mim, e eu tomei a liberdade de subir para seu quarto, pois preciso conversar em particular com você. 

— Tudo bem, mas o que você precisa falar de tão urgente? 

— Preciso colocar as cartas na mesa. Não aguento mais viver como estou vivendo. Sou um ser humano e não posso mais me permitir ser magoada dessa maneira. 

— Senta aqui nessa poltrona. Você quer uma água para se acalmar? — perguntou Lisa, realmente preocupada com a francesa. Alguma coisa séria deveria ter acontecido, senão ela não viria falar justamente com ela. 

— Não, obrigada — disse Carmem, sentando-se na poltrona enquanto Lisa sentava-se na cama. 

— Vou ser bem direta. 

— Ok. 

— Eu e o Derek sempre fomos muito amigos, mas não queríamos reconhecer o que estava rolando. Eu tinha meus namorados e ele os casos de um rapaz que não quer compromisso. Sou três anos mais velha que ele, mas certo dia nos olhamos de forma diferente. 

— Carmem, eu não acho que você deve contar essas coisas para mim, eu não preciso saber disso.

— Precisa. Pois você está sendo enganada.

— Do que você esta falando? 

— Eu e Derek temos uma ligação maior do que qualquer paixãozinha barata que apareça. Nós temos um relacionamento forte. Ele até se aproxima de outras pessoas, mas é sempre para mim que ele volta. 

— Não foi o que ele me falou. Ele disse que vocês ficaram juntos há um ano e que são só amigos agora. 

— Em que mundo você vive? Não há amizade entre um homem e uma mulher. Pensei que as brasileiras fossem mais descoladas, mais espertas. Você parece uma menina medrosa e que vive no mundo da ingenuidade. 

— Não vou ficar aqui sentada sendo insultada por você — reagiu Lisa, levantando-se. 

— Por mais que eu não seja uma santa, tenho meus princípios e acho que ele passou dos limites. Achei muita crueldade da parte dele te usar para atingir Ethan. 

— Do que você está falando? 

— Você nunca percebeu que ele e Ethan não se dão bem? Não sei bem a razão, já que eles são muito discretos quanto aos motivos, mas eles se detestam. 

— Havia percebido que eles se estranham às vezes. 

— Há algumas semanas, ocorreram alguns problemas graves entre os dois, o que exaltou os ânimos. Derek é uma pessoa de temperamento difícil, você lembra como ele te tratava mal quando vocês se conheceram em Paris? Essa é a real personalidade dele. 

— Não é verdade. Ele é diferente, aquele comportamento é uma couraça para se proteger. 

— Como dizem, o pior cego é aquele que não quer ver. Aquele Derek de Paris é o verdadeiro. É o meu Derek. 

— Ele não é seu! — disse Lisa. 

— E você acha que ele é seu, sua estúpida? Ele te usou para se vingar do Ethan, porque o pobre rapaz tinha se interessado por você. Derek faz de tudo, até mesmo ser imoral, para bater de frente com o seu rival. 

— Você só pode estar mentindo — disse Lisa, voltando a sentar-se na cama, desalentada. 

— Sei que temos um relacionamento aberto no momento, que ele sempre volta e que, dessa vez, pensávamos até mesmo em morar juntos — disse Carmem, enxugando o rosto molhado com um lenço de papel que ela retirou da bolsa. 

— Mas usar uma garota — continuou —, ainda mais tão lerda como você, foi demais. Pensei até em desistir dele por essas atitudes ridículas, mas vou ser bem sincera com você, eu não vou desistir dele, nunca. Ele errando ou acertando. Ele e eu simplesmente vamos ficar juntos no final.

— Isso não pode ser verdade! 

— Você merece o que está passando, porque se recusa a ver a realidade. Se ele te quisesse, teria se interessado por você logo no começo. Você só passou a valer alguma coisa para ele quando ele percebeu o interesse do Ethan. 

— Saia daqui! — gritou Lisa. 

— Ele, do nada, virou o cara mais romântico do mundo. Cuida de você doente, faz o seu prato predileto. Lembra que ele falou que te carregou só de toalha na frente do Ethan? Por que você acha que ele fez isso, minha filha? Foi tão desnecessário, a não ser que ele quisesse magoar o Ethan. 

— Eu vou conversar com ele. Isso vai ser esclarecido. Eu vou contar o tipo de cobra que você é. Vou falar que se fantasia de amiga, de moderninha, mas só sabe cuspir veneno. Ele disse que está apaixonado por mim. 

— Ele disse isso? — perguntou, surpresa, Carmem. 

— Realmente, dessa vez ele está jogando pesado. E foi justamente por isso que eu resolvi te alertar. Aproveite ao menos os seus últimos dias por aqui com dignidade, não se enganando. 

— Acho que quem se engana aqui é você. 

— Só mais um recadinho. Se você falar pra ele que eu contei todo o plano dele, eu vou desmentir até a morte, vou fazer uma cara de vítima. 

— Pode apostar que vou contar. 

— Se você contar, em quem você acha que ele vai acreditar? Em mim, que sempre esteve ao lado dele em todas as horas, ou em você, que surgiu do nada de um país distante e que vive correndo atrás de escritores mortos? Pensa bem! — disse Carmem, saindo pela porta e a deixando aberta.

Lisa foi a passos trôpegos fechar a porta e trancá-la, virando a chave duas vezes. Voltou para a cama e deu vazão ao choro. Para seu desespero, lembrou-se de que Ethan falou a mesma coisa que Carmem, na comemoração do aniversário de Liam. 

Na ocasião, desconsiderou as falas do rapaz, pois ele estava bêbado. Agora, a dúvida de que ele falara a verdade a assombrava.