Capítulo 52 A mentira

54 8 3
                                    

As luzes do quarto estavam apagadas, Lisa dividia o espaço com mais duas mulheres; conseguia ouvir a respiração pesada de uma delas, a mulher de 35 anos com câncer de mama, a outra era uma senhora de 70 anos, que estava com úlcera gástrica.

Lisa não conseguia dormir porque os remédios tomados durante toda a semana afetaram seu sono. Falaram que a medicação poderia fazer com que ela engordasse, mas Lisa, em uma semana, havia perdido três quilos.

A dosagem de remédios era tamanha que chegava a doze comprimidos só na parte da manhã. Ela perdia cada vez mais o apetite. Agora também apresentava problemas no pâncreas.

Dos efeitos colaterais dos remédios, o que ela mais detestava eram os distúrbios de humor. Em alguns momentos, animava-se de forma exagerada, imaginando que logo ficaria boa e encontraria Derek, no mesmo dia chorava copiosamente e decidia que terminaria com ele.

Sentia-se tão afetada com a medicação, que evitou falar com ele por três dias, limitava-se a mandar mensagens, dizendo que seu celular estava sem sinal, que a internet da sua casa tinha caído, que, logo que possível, ligaria para ele.

Havia completado onze dias internada e, há apenas algumas horas, a médica havia dito que ela não teria alta na próxima semana. Os remédios não estavam fazendo o efeito desejado.

Lisa havia compreendido a gravidade da sua situação. Não veria Derek tão cedo, não tinha condições psicológicas no momento para manter um namoro a distância. Não poderia se mudar para ficar com ele, como era o planejado.

Seus pais a aconselharam a ser sincera com Derek, mas Lisa tinha medo de contar pra ele que estava doente para vê-lo aos pés da sua cama de hospital, olhando-a com espanto, imaginando como seria difícil ter um relacionamento com alguém que precisaria de cuidados constantes.

— Eu vou terminar com ele. É o melhor — disse baixinho, Lisa, em seu quarto de hospital, mas algo dentro dela queria lutar contra essa decisão tomada em um aposento demasiadamente branco de hospital. Contudo, já estava quase amanhecendo quando ela havia tomado sua decisão. Um torpor apático se abateu sobre ela, que finalmente adormeceu.

Era um final de tarde nublado. Mesmo sem sol, Lisa teve que passar protetor solar para sair para uma área externa da unidade hospitalar, destinada aos pacientes internados.

A enfermeira empurrou sua cadeira para fora e a deixou perto de uma samambaia apoiada em um suporte na parede. Lisa olhou ao redor, havia somente mais dois pacientes no local, conversavam em um banco de madeira a alguns metros.

Tirou o celular de uma pequena sacola de plástico que havia amarrado no braço esquerdo da cadeira. Procurou o número de Derek. Pressionou a tela e fez a ligação.

A milhares de quilômetros, um barulho ecoou em uma cozinha que estava em uma agitação frenética, era a hora do jantar. Derek trabalhava com o sub-chef francês e mais três ajudantes de cozinha, sendo que um deles era Rafael.

Enquanto checava três pratos antes de serem servidos, Derek olhou rapidamente para o relógio cromado na parede e constatou que já passava das 20 horas. Lembrou que ainda deveria ser dia no Brasil.

— Tem respingo de molho na borda do prato, Gisela. Limpa isso! Não posso virar as costas e você monta os pratos de forma desleixada! — Derek chamou a atenção da ajudante alemã.

— Seu celular, chef. Tá tocando! — avisou Rafael.

Derek havia colocado o celular em um balcão de mármore, afastado da área de alimentos. Correu para atender, viu o nome de Lisa na tela.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora