Quando se viu do lado de fora, apertou os dentes em um sinal de nervosismo. Nunca havia discutido dessa maneira com ninguém. Só não trançou as pernas porque a adrenalina era maior do que qualquer nervosismo. Ela avistou Carolina conversando com um homem e correu até ela.
— Oi, desculpe. Preciso falar com você agora mesmo — avisou, pegando a mão de Carolina e a afastando apenas uns dois passos do rapaz de terno cinza, com olhos esbugalhados e sorriso lascivo.
— O que foi? Tá louca? Tô falando com um alemão gato. Preciso voltar lá, antes que ele escape! Você não ia embora?
— Mudei de ideia, você trouxe a sandália que falou? Preciso tirar esse tênis.
— Leva a minha bolsa. Tá aí dentro, também tem um colar e maquiagem, tá precisando — disse Carolina, largando a bolsa com Lisa de forma impaciente e voltando para perto do alemão.
Lisa sabia que não estava vestida de forma adequada e que estava longe de ser uma garota antenada em moda, mas a forma como Derek falara com ela o deixava sem razão alguma. Nunca havia sido tão insultada daquela maneira. Diferentemente do que sempre fazia, que era correr pelos cantos a chorar, ela iria mostrar que ele não passava de um cara sem vocação para a gentileza.
As sandálias de Carolina ficaram um pouco grandes, mas Lisa sabia que era capaz de andar com elas. O colar em cima de seu vestido preto deu um toque final. Ela caprichou na maquiagem, esfumaçando os olhos de marrom e abusando da máscara de cílios. Fez um coque despojado no alto da cabeça, com a ajuda de alguns grampos.
Não estava vestida como gostaria, mas não se sentia mais envergonhando a si mesma. Ela queria que Derek engolisse cada palavra proferida contra ela, principalmente sobre o fato dela ser uma garota inexperiente na arte da conquista. Tudo bem que era verdade, mas era uma verdade somente dela, que ele não tinha autorização para proferir.
Uma vez fora do toilet, como Carolina ainda conversava animadamente com o rapaz de terno cinza, que agora mantinha os ombros caídos, Lisa resolveu passear pelo salão principal sozinha. Ela não chegou a sentir frio, apenas um frescor ameno, afinal, o ar-condicionado do local estava a todo vapor, possibilitando que as mulheres mostrassem mais pedaços de carne do que era possível do lado de fora do bistrô.
Os garçons passavam com bandejas repletas de taças de vinhos de diversas tonalidades. Lisa queria muito beber, mas sabia que era bom evitar, por isso, resolveu procurar mais dos canapés que havia experimentado antes da palestra. Viu Rafael se aproximar servindo vinho branco. Lisa se sentia mortalmente envergonhada e queria ao menos se desculpar com o rapaz.
— Rafael — chamou —, desculpe ter desconectado o retroprojetor. Não quero queimar você no restaurante. Apesar de que, eu acho, já ter te queimado.
— Relaxa. Já falei com o Derek. O cara surtou um pouco, mas a gente é amigo desde que eu cheguei aqui. Tenho meus créditos com ele. Não se preocupe — disse ele, acalmando-a.
— Fico mais aliviada — disse ela, finalmente conseguindo esboçar um sorriso.
— Você não tem alguma coisa pra beber que não seja vinho? Não tem aqueles sucos naturais de uva, bem concentrados, mas que não tem álcool? Antes que ele pudesse responder alguma coisa, Derek respondeu por ele:
— Não, senhorita Lisa — disse ele, enfatizando o seu nome.
Lisa fechou os olhos pesarosa, antes mesmo de virar-se e se deparar com Derek, que parecia mais sofisticado do que nunca, destacando-se entre os demais por sua altura. — Esse evento é para adultos, para quem sabe apreciar um bom vinho, para quem sabe ingerir álcool com responsabilidade. Os verdadeiros e mais conceituados vinhos do mundo são os secos. Se quer algo doce para bebericar, te aconselho a ir em alguma festa infantil tomar aqueles sucos em pó, coloridos e cheios de glicose.
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As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)
ChickLitQuando Lisa perde a sua avó Rose, a única pessoa que entendia seu amor por livros, ela repensa o seu relacionamento nada saudável com um viciado em jogos digitais, o tratamento contra a lúpus que enfrenta, seu emprego sem futuro e sua tendência a pr...