Capítulo 39 Grama de desenho animado

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Lisa e Derek entraram pela entrada principal do parque St. Stephen's Green. Derek carregava uma sacola de papelão grande. Lisa já havia estado no local com Carolina, mas foi apenas uma visita rápida; dessa vez, ele iria desfrutar dos espaços do parque. Derek apontou uma área perto de uma árvore imensa. Lisa reconheceu que nunca havia visto uma grama de um verde tão vivo, como se fosse pintada de tão perfeita.

— A grama dos parques e campos do Brasil são de um verde mais escuro, a da Irlanda é da cor de grama dos desenhos animados de crianças, mais clara e viva. Parece surreal.

— É, tem seu charme — disse ele, sentando-se na grama. Ela ainda ficou de pé, olhando ao redor.

— Quanta gente deitada na grama dormindo! — Ela ficou surpresa como um dia de temperatura amena tirava as pessoas de suas casas. Ela via executivos de terno, com as mangas de suas camisas arregaçadas, dando um cochilo na grama fresca, grupos de adolescentes conversando e dividindo o lanche.

— No Brasil não é comum deitar na grama? — perguntou ele curioso.

— Em alguns lugares, é comum, mas não no meio da semana, assim. E não tantas pessoas. Moro em uma cidade que não dorme. É uma das maiores cidades do mundo, o centro de trabalho do Brasil.

— Sei...

— Acho que a gente trabalha demais. Muitas horas, longos caminhos até o trabalho. Momentos assim são mais raros — disse ela, resolvendo sentar-se. — Vamos comer? Tô morrendo de fome!

— Já te falei que você tem um apetite impressionante?

— Nunca fale para uma mulher que ela come muito.

— O que devo fazer então? Mentir?

— Às vezes é a saída mais elegante — disse ela, finalmente se sentando.

— Não faço questão de ser elegante. E isso nunca me atrapalhou para, digamos, ter companhia feminina.

— Romance?

— Não, digo companhia mesmo. Romance é outra coisa, que eu nunca fiz muita questão. Mas a gente muda de ideia, né? No momento, estou inclinado a tentar ser mais... Não sei a palavra certa...

— Flexível?

— Essa serve. Na verdade, ando bem flexível ultimamente.

— Me dá exemplos dessa sua flexibilidade.

— Me preocupar com o que a pessoa está sentindo e não só em ir pra cama com ela, apesar dessa última coisa ser algo que frequentemente vem à mente — disse ele, passando os dedos no cabelo que havia sido bagunçado por um vento inesperado.

— Continue — pediu ela.

— Cogitar até mesmo em conhecer o país de certa garota, um lugar onde a grama é um pouco mais escura do que essa que a gente está sentado. Também cuidar dela quando está doente e não conseguir dormir imaginando que ela está com dor — disse ele, finalmente olhando pra Lisa. — Ansiar por uma oportunidade de fazer o prato predileto dela — continuou —, para que, quem sabe assim, ela possa esquecer o idiota que eu fui — disse ele, dando uma pausa para abrir um pote de sorvete, mas logo continuou com sua fala, enquanto Lisa olhava acanhada para o chão: — Flexibilidade ao ponto de mudar de um apartamento maravilhoso no centro de Dublin para uma casa distante do meu trabalho, só para estar no mesmo local que ela e poder vê-la.

— O quê? Você fez isso? — perguntou Lisa, surpresa.

— Assim como sentir uma porrada na boca do estômago toda vez que ela está no mesmo lugar que eu. Ah! Lógico, quase esqueci dessa, ficar magoado quando ela acha que minha comida é insossa e quando ela vem pra Dublin ansiosa para encontrar um outro alguém.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora