As semanas passaram e finalmente o dia da viagem chegou. O despertador ressoou acordando praticamente todos na casa, com exceção de Lisa, que havia tomado um remédio para dormir na noite anterior, pois estava sem sono.
Duda correu para o quarto de Lisa e desligou o despertador barulhento. A garota abriu os olhos com o menino chacoalhando-a pelos braços, sentiu certo desespero de saber que em algumas horas estaria indo para o aeroporto.
— Acorda! Vai perder o voo! São quantas horas mesmo dentro do avião, mana? — perguntou Duda, enérgico.
Lisa olhou para os olhos grandes e sempre lacrimosos do irmão. Ele agora tinha a ideia fixa de que seria tatuador e vivia testando tatuagens de henna nas paredes de seu quarto. Teve certeza de que sentiria muita falta dele.
— São mais de dez horas de voo. Mas pode ficar sossegado que vou te mandar fotos de todos os meus passos.
— Vou cobrar! — disse ele, que parou seu olhar no ombro esquerdo de Lisa, que estava vestindo uma regata vermelha.
— O que foi? — perguntou ela.
— Nada não! — desconversou ele, que logo saiu correndo para a cozinha.
Lisa foi checar novamente todos os documentos, para passar na imigração do aeroporto, que estavam em uma pequena pasta de papelão verde. Verificou a reserva do hotel de duas semanas em Paris, o comprovante de pagamento do seguro viagem, seu passaporte, assim como o bilhete de ida e volta.
Também estava com um cartão de uso internacional para o qual transferiu dinheiro suficiente para se manter em seus passeios.
Sua ideia inicial era ficar duas semanas na França, depois seguiria para a Rússia. Deixou para comprar as demais passagens já na Europa. Visitaria a casa de Cora Coralina no Brasil assim que tivesse ido todas as demais casas, quando finalmente voltasse para o convívio de seus familiares.
Lisa tomava café preto, sentada em uma banqueta na cozinha, quando sua mãe gritou
— Ah! O que é isso?
— Credo! O que aconteceu — perguntou Lisa, assustada.
— Primeiro, quer viajar, fugir de casa. Agora faz uma tatuagem, apesar de sempre ter falado que não gosta — acusou Teresa.
— Tá louca, mãe? Do que a senhora tá falando?
— Da borboleta tatuada nas suas costas! — Lisa girou o rosto para o lado esquerdo para tentar ver algo e, surpresa, conseguiu ver apenas uma asa de borboleta no ombro.
— Duda! Seu peste! — gritou ela.
Mas o garoto já havia se trancado em seu quarto. Lisa subiu as escadas o mais rápido que suas articulações doloridas lhe permitiam e forçou a maçaneta na porta do aposento do garoto.
— O que é isso que você colou em mim, seu monstrinho?
— Não é colagem, é uma tatuagem. — Fez-se ouvir uma voz do outro lado da porta.
— Você sabe que eu não curto tatuagem, caramba! Na verdade, eu odeio! Por que fez isso comigo?
— Eu estou aprendendo a fazer tatuagem de henna pela internet, precisava tentar em uma pessoa. Você tomou aquele remédio pra dormir, e eu resolvi testar, ficou bem quietinha. Não se preocupe, sai em duas semanas.
— Quero que tire isso de mim agora! — mandou Lisa.
Duda abriu a porta do quarto, dessa vez com os olhos mais molhados que de costume.
— Deixe só por mais alguns dias, para você se lembrar de mim — suplicou ele, lançando dois pequenos braços em volta de sua cintura.
— Droga! — reclamou Lisa, já conformada que viajaria com uma tatuagem no ombro; quando seu irmão chorava assim, ela não conseguia dizer não a ele.
(Se você chegou até essa parte do livro, só tenho uma coisa a te dizer: "Sou grata pela sua vida!". Nada faz sentido para um escritor se ele não é lido. Sair do ninho nunca é fácil, mas, às vezes, é a única solução!)
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As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)
ChickLitQuando Lisa perde a sua avó Rose, a única pessoa que entendia seu amor por livros, ela repensa o seu relacionamento nada saudável com um viciado em jogos digitais, o tratamento contra a lúpus que enfrenta, seu emprego sem futuro e sua tendência a pr...