Capítulo 66 Pote de vidro vazio

36 9 0
                                    

Haviam se passado vinte dias da inauguração do restaurante e do sebo, Derek, Rafael e Jonas se desdobravam para dar conta de tudo, pois o espaço estava atraindo muitos clientes.

Derek vivia apreensivo, a médica havia dito que a situação de Lisa estava piorando, os órgãos continuavam inativos e, em suas pesquisas, Derek havia lido que, quanto mais tempo a pessoa ficasse em coma, mais difícil era dela acordar. Fazia quatro meses que Lisa estava naquela situação.

A notícia da médica deixou Derek abalado, ele pensou nas falas de Duda e resolveu visitar Lisa com uma nova postura. Ele não pediria mais para ela acordar, como fazia a todo instante.

Estava em pé ao lado da cama dela, segurava sua mão.

— Quero dizer que percebi que meu sentimento tem uma porção de egoísmo, de não querer perder, de desejar vencer as adversidades pelo simples fato de elas não apontarem para o meu querer. Fiz de tudo, eu acho, para que você acordasse, pra te provar que, por você, eu mudaria de país, me adaptaria a outro lugar, mas, em nenhum momento, eu te falei que eu quero o que é melhor pra você.

Derek deixou a emoção livre, não bloqueou as lágrimas, que agora molhavam seu rosto e caíam em cima do braço de Lisa.

— Eu não tenho direito nenhum de te prender, o que é o amor a não ser dar liberdade da pessoa ser o que ela quer ser, seguir o caminho que tem que seguir? Não sei se já é a sua hora de sair desse mundo que foi bem árduo com você. Se for o caso, eu fico aqui dia após dia te falando pra acordar, acordar e acordar. Não sei se isso está te atrapalhando a seguir aquilo que é pra ser. E, se hoje for seu dia de se tornar uma estrela no céu, uma alma livre e linda fora desse mundo aqui, eu não quero te impedir — disse Derek, abaixando-se e a beijando no rosto, tomando cuidado para não esbarrar em nenhum fio dos aparelhos ligados a ela. — A médica disse que seu estado piorou. E eu estou cansado de te dizer o que fazer ao te pedir pra acordar. Talvez você só queira que eu te liberte pra ser como uma borboleta que deixa de ser larva, como aquela da sua tatuagem falsa. Se é dessa maneira, não quero que você fique sendo larva por meses e meses, talvez anos, porque, pela minha vontade, quero te ter. Às vezes, não era para termos muito tempo juntos, mas foi amor no seu tempo, será amor para sempre dentro de mim. Apenas não posso mais colocar essa borboleta dentro do meu pote de vidro vazio e depois fechá-la lá dentro.

O celular de Derek vibrou em seu bolso. Ele desligou.

— Desculpe, Li — disse ele. — Não sei se sente dor, não sei se me escuta — continuou ele. — Não sei se está sofrendo ouvindo tudo o que eu digo e tendo sua alma presa dentro do corpo sem poder se expressar. Isso seria horrível. Como não sei se é assim, digo apenas que te quero bem, seja no céu, seja se preparando para ele, seja viva, seja como for. Quero o seu bem, seja com você perto de mim, seja longe. Faça seu caminho, meu amor. Eu prometo que nunca vou te esquecer. Não sou de fazer o impossível!

Dessa vez, ele teve que secar as lágrimas com o punho de sua blusa de moletom bege, elas embaçavam sua visão.

— Se precisar partir, eu aceito isso. Vou sentir como se parte de mim fosse junto com você, mas, com o tempo, vou perceber que essa parte ainda está comigo, mudada, mas comigo. E vou voltar a ser feliz um dia, pois como não ser feliz tendo tido a alegria de ter te conhecido? Concluindo, dragãozinha, eu aceito o que acontecer. Se você acordar, eu aceito. Se você dormir definitivamente, eu aceito. Só aceitaria te deixar partir por um amor maior que o meu, e acredito que somente Deus poderia ter isso mesmo. Então, talvez adeus, talvez até logo. O que for para ser, Lisa, o que tiver que ser — falou ele —, eu aceito, eu só não quero que você sofra mais, eu só quero que você seja luz, como foi um dia para mim, em qualquer lugar deste mundo ou fora dele.

Derek pegou uma pequena toalha limpa e secou o braço dela.

— Desculpe. São muitos anos sem chorar e agora tô parecendo um garoto sensível e perdido. Não conte isso pra ninguém, por favor — disse ele, fungando. — Prontinho — avisou, terminado de secá-la. — Vamos fazer um trato? Vamos seguir o caminho que é pra ser? E nos alegrarmos com o bônus de tudo ou aceitarmos o ônus? Vamos simplesmente deixar a vontade de Deus suplantar a nossa vontade confusa e falha? Topa? — perguntou ele.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora