Capítulo 44

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Grey

Eu sacudia as grades. Eu queria sair. Ela não tinha voltado. Bati com força nas grades. Minhas mãos já sangravam. Mesmo depois de eu ter as limpado. Só que nada importava agora. Minha ruiva não tinha voltado, minha, minha Claire. Tudo em mim gritava por tê-la de volta.

O pensamento que alguém tivesse a prendido para não deixar que ficasse do meu lado era doloroso. Mas logo eu comecei a pensar que ela simplesmente podia ter me deixado. Só que fiquei me perguntando porque então veio a minha cela, me tocou, eu estava sujo e mesmo assim ela me tocou. Será que queria apenas brincar comigo? Não, isso era perigoso, todos sabiam.

Continuei a tentar sair, rosnando, eu esperava que um técnico viesse. Iria tentar matá-lo e ir atrás dela. Eu queria-a para mim. Não podia e nem queria acreditar que aquela fêmea por quem eu estava delirando pudesse estar mentindo. Disse que era minha. Me tocou sem violência ou medo. Ao inferno. Podia não me lembrar de onde eu a conhecia, mas por nada desse mundo me faria esquecer, que ela era minha.

¶°¶


O copo de vinho na minha mão enquanto eu olhava distante pela janela do escritório não era capaz de me afogar, na verdade só me afogava nas mágoas dentro de mim mesma. Eu era uma mulher cruel. Abandonei o único homem quem já tinha amado, naquele lugar.

Não adiantava ninguém dizer que isso era mentira. Porque com o passar das horas, enquanto meus advogados debatiam e entravam com pedidos sucessórios na corte pela libertação do Kall e do Grey, mas eu tinha certeza que tinha o abandonado. Não tinham notícias boas.

A opinião pública tinha os vídeos do ataque e viu Grey sendo letal. Ele matou não uma ou duas pessoas, matou várias. Kall tinha machucado muito gente também. E por mais que fossem pessoas loucas doentias, que odiavam-os sem nem ao menos conhecer, ou simplesmente simpatizantes do programa do ECP, os direitos humanos não estavam contentes com o massacre.

Era o que estava sendo chamado. Massacre. Eu simplesmente havia me cansado daquilo tudo. Me isolei na minha sala com uma garrafa de vinho na mão. Eu estava fugindo? Bom, sim, quem não faria. Quando todas as perspectivas apontavam para uma tragédia. Sim, eu estava sendo covarde, não queria ouvir a verdade. Mas no fundo eu sabia.

- A consideração quanto ao seu pai é imensa não?

A voz de Charles soou clara. Não olhei

- Oi pai.

- Podia ter ligado dizendo "eu sair viva daquele massacre papai, tudo bem".

Meus olhos continuaram fixos na imagem do jardim ao fundo do escritório de vidro. Estava escuro. Como eu.

- Tinha muito coisa na cabeça e eu sabia que você iria saber. Loren te avisaria também.

A cadeira de rodas dele veio até meu lado o trazendo. Senti bem próximo. Seus olhos estavam em mim. Eu não quis olhar novamente. Ele pegou da minha outra mão a taça de vinho meio vazia.

- Você nunca foi de beber quando o mundo estava caindo ao seu redor.

Dei de ombros. Levantei a taça de vinho da outra mão e bebi.

- Talvez eu não queira saber do mundo caindo ao meu redor.

- Autopiedade nunca se encaixou nem com você!

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