Capitulo 4.

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__ Nao bordar, arrumar as flores , nada.
__ E e impossivel ler.
__ Mesmo que eu os livros nos meus olhos, nao da para ler por muito tempo, pois acabo ficando com dor de cabeça.
__ Imagine o meu tedio .
__ Nao faço outra coisa a nao ser ficar sentada , tamborilando os dedos.
Julian teceu um comentario solidario embora seus labios esboçassem um leve sorriso .
A expressao amuada de Clarissa era deliciosa de se ver.
Ela era muito encantadora.
Ainda que talvez nao da maneira tradicional .
Os labios eram grandes demais para serem considerados bonitos , mas ele os achava simplismente sedutores.
E o nariz talvez fosse um tanto atrevido para os padroes da epoca , mas ele gostava.
Julian estava tao ocupado em observar as feiçoes de Clarissa que mal percebeu quando a musica mudou.
Finalmente acertou o passo para valsa , sem contudo desviar os olhos do rosto dela, enquanto ouvia as inumeras atribulaçoes de uma vida sem oculos.
E a lista era indidcutivelmente longa.
__ Vestir -se era uma tarefa difici, pois sempre dependia do humor da criada e ficava torcendo para estar com a roupa adequada.
__ Nunca sabia como estava o cabelo e tambem para prende -lo dependia da criada.
Ela ia explicando e parecia nao ouvir as afirmaçoes dele de que seu penteado estava perfeito e seu vestido era impecavel.
Clarissa obviamente nao buscava elogios.
Corando muito, ela ignou as palavras dele e continuou a explicar que tinha que ser guiada pela casa pela mesma criada, por temer cair da escada ou tropeçar em alguma coisa que nao visse .
__E , sem duvida, confundir uma pessoa com outra era mais um problema, embora começasse a ficar eximia em reconhecer vozes.
__ Era tambem irritante deixar a comida cair no colo, muito embora isso so acontece na intimidade, uma vez que nao tinha autorizaçao para comer ou beber na frente de visitantes.
__ So faltava usar babador para poupar as roupas.
Julian mordeu os labios para nao rir ao imagina -la de babador , mas as coisas que contava foram ficando mais graves, como quase ter incendiado a casa algumas veses ao acender as velas e ter derrubado o mordomo e varios criados inumeras veses, sabendo que todos a odiavam por causa disso .
__ Eles se encolhian quando ela estava por perto e ja cochichavam que ela era um desastre ambulante.
Clarissa contava cada detalhe de forma animada, e Julian tinha dificuldade de reprimir um ar divertido e conter a risada, ate que ela percebeu o esforço que, por delicadeza , ele estava fazendo e lhe disse que podia rir a vontade.
A sonora gargalhada que soltou surpreendeu o propio Julian.
Clarissa fez sua alma sentir -se leve e seu coraçao doer de amciedade.
__ Voce tem uma linda voz, milorde.
__ E uma linda risada tambem.
Ela elogiou , sorrindo.
__ Obrigado , Milady.
Disse ele, refazendo -se do riso.
__ E bondade sua me dizer isso, depois de meus maus modos em rir de suas desgraças.
__ Peço -lhe de coraçao que me perdoe.
__ Imagine !Clarissa retrucou.
__ Olhando em retrospectiva, parece mesmo engraçado, embora duvide que Lydia acharia.
A mensao do nome da madrasta , o humor de Julian mudou e , muito embora ela nao conseguisse ver, a expressao de seu rosto se fechou.
__ Desculpe -me a sinceridade, milady , mas sua madrasta me parece bastante maldosa, uma cretina.
__ Nossa!
Clarissa olhou -o de soslaio.
__ Nao diga uma coisa dessas.
__Por que nao?
Ele perguntou , divertido.
__ Nao tenho o minimo medo dela.
__ Nao , mas se ela soubesse ficaria furiosa e nao iria gostar do senhor por referir -se a ela desse jeito.
__ Nao faço a minima questao de que ela goste ou nao goste de mim...
Julian começou a dizer , mas foi interrompido por ela.
__ Oh , mas deveria .
__ Se Lydia nao gostar de voce , nao permitira mais que eu dance com o senhor e...eu estou adorando .
Desabafou Clarissa um tanto constrangida.
O ar de desprezo que havia no rosto de Julian esvaiu -se diante dessa confissao, dando lugar a um olhar terno.
__ Bem , nesse caso vou me esforçar por trata -la com o maximo respeito.
Ele percebeu o constrangimento dela e acrescentou:
__ Por que eu tambem gosto muito de dançar com boce.
Clarissa levantou o rosto radiante.
Foi uma pena nao conseguir enxergar o sorriso que ele lhe devolveu.
Como que por instinto , Julian dirijiu o olhar para o lugar onde Clarissa estava quando a viu pela primeira vez.
Dimimuiu um pouco o passo ao vislumbrar a dama que estava sentada nunto a ela naquele momento.
A madrasta estava de volta ao mesmo lugar depois de saciar a fome e percorria o salao com olhos a procura da enteada sumida.
Nao demorou muito para que localizasse a atrevida.
Como esperava , Lydia nao pareceu muito satisfeita ao ve-los dançando.
Na realidade , parecia horrorizada.
Ao perceber que ela começava agora a se encaminhar em linha reta em direçao a eles, Julian fingiu nao ve -la e procurou , como um guardiao, conduzir Clarissa para direçao oposta.
Imaginou que, ao se afastar , Lydia pararia e aguardaria que completassem a volta ate se aproximar dela , mas olhando de relance , viu que ela os seguia pelo salao.
Aparentemente , a madrasta era do tipo persistente.
Era o que deveria ter imaginado.
Ela lembrava um buldogue, pensou sem qualquer generosidade, e fitou a jovem em seus braços .
__ Por que toda essa determinaçao de sua madrasta para que voce nao use os oculos?
__ Ela quer que eu encontre o par perfeito.
__ Meu pai ficara zangado se ela nao conseguir , entende?
__ Bem de fato , nao entendo.
Julian balbuciou, mudando subitamente de direçao ao ver que corriam o risco de serem pegos pela madrasta .
Manteve -se em silencio por um momento, tentando evita -la e entao comentou:
__ Voce certamente teria mais chance de encontrar o par perfeito se pudesse ve -lo.
__ Devo confessar que tambem acho.
__ Lydia nao acha.
__ Ela diz que nao sou nada atraente de oculos e teme que isso acabaria com qualquer oportunidade , alem de meu passado comprometedor.
___ Passado comprometedor?
Surprezo com tal comentario , Julian parou de supetao na beira da pista de dança.
__ Voce nao soube do escandalo?
Antes que Julian pudesse responder que nao , um grande vulto escuro se projetou sobre ambos .
Virando -se ele franziu a testa irritado ao se deparar com a inconviniente madrasta que parou ofegante ao lado deles .
__ Clarissa!
Lydia disse bruscamente , e Julian sentiu a jovem enrijecer-se em seus braços sob a chicotada daquela voz , afastando -se dele de um sobressalto para voltar -se para a madrasta.
__ Diga , ly...
Clarissa foi agarrada por Lydia e arrastada pelo braço , sem a menor cerimonia , para bem distante de seu par.

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