Tin estava a ponto de enlouquecer.
Todas aquelas semanas se arrastaram como seu próprio inferno pessoal, lento, tormentoso, dilacerante. Dormia porque era obrigado, comia pelo mesmo motivo e trabalhava como se não houvesse amanhã, porque Can fazia o mesmo.
Can...
Saber que ele estava tão próximo e ter desespero em vê-lo, mas com o medo ainda maior de vê-lo e ver o que podia lhe tirar a pessoa mais importante da sua vida, seu pilar, sua consciência, seu ar, simplesmente não era capaz daquilo. Can era seu oxigênio e se aquela gravidez lhe tomasse seu Cantaloupe, ele não sabia o que seria de si mesmo.
E o medo, e o terror, e a fraqueza daquelas semanas que pareciam milênios lhe fez perceber o quanto era fraco naquilo que mais devia ser forte: Apoiar seu Can, que precisava dele naquela situação louca e ele... Falhou.
Sua falha lhe corroía ao ponto do excruciante. E naquele desespero em que enlouquecia a cada segundo dos dias intermináveis, lhe fazia ainda mais insano para beber e apagar.
Porém seria ofensa para Ae que permanecia do lado de Pete o cuidando com zelo por ele enquanto ficava ali e trabalhava, seria ofensa ao Pete que estava levando a própria gravidez delicada com coragem exuberante, contudo, seria uma ofensa ainda maior para o homem que enfrentava a própria gravidez impossível e assustadora, escondido e em silêncio e acima de tudo com a serenidade de um santo.
Queria ser digno e libertar o Can, afinal não era merecedor daquela pessoa, mas era mesquinho demais para se permitir algo tão digno. E em seu amor e dúvida, e medo e pavor, ele continuou o mais longe que pode até aquele momento. Aquele momento... Aquele momento em que ele só soube que ia acontecer.
Sabia que seria aquela noite.
Sentia febre e um desespero ainda mais profundo. Sufocava e não sabia bem se suportaria tudo o que significava, ainda mais porque aquela mulher andava pelos corredores, jardim e passava horas na beira do lago quase como um vaso vermelho maldito!
A mulher que faria o parto do amor da sua existência.
Se ela machucasse seu Can... Ele a mataria! Mas isso serviu para ele saber que fariam no jardim - Fosse o que fosse que fariam naquela loucura toda, porque logicamente não parecia ser possível tirar aquelas... Crianças de dentro do seu Can - E por isso naquela noite ele saiu do Domo e foi para o prédio mais alto para ter uma visão completa do lago e ainda ficar em um ponto discreto. E esperou, esperou angustiantemente até que viu Can sair do Domo vestido em um penhoar leve e finalmente o viu, depois de mais de dois meses o viu e viu... A barriga imensa.
Perdeu o ar e caiu de joelhos no telhado plano sentindo ar faltar em seus pulmões e sua cabeça pesar.
Uma coisa era saber que ele estava mesmo grávido, outra era ver. Pete era algo mais natural, talvez porque sua mente sabia que ele tinha um corpo feminino internamente, mas Can não tinha e... Em sua mente pensou que ia ver algo horrível demais, contudo não era o que via. O que via era uma barriga menor que a do Pete no corpo do seu primeiro amor.
E ali se deu conta que seu medo infundado fez ambos sofrerem com uma distância ridícula. Quis se bater, mas não teve tempo, não teve tempo algum, pois ao longe viu sombras negras se empoleirarem em outros pontos dos telhados dos prédios ao redor do lago e congelou, mas se ergueu nervoso e letal. Tinham esvaziado o palácio todo e só alguns guardas ficaram de guarda e bem longe do lago como Can pediu e devido a sua tempestade de emoções não estava armado nem nada assim, ainda assim pegou o telefone para avisar Yuan quando uma mulher parou do seu lado e disse baixo, mas serena:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu seme engomadinho
FanfictionTin sabia que desistir, por mais que quisesse depois daquele dia, não era opção. Ele amava Can e lutaria por ele, por mais complicado que fosse. Aquele garoto do programa Tailandês era seu! Seu pequeno e inocente Cantaloupe.