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Dizem que os fae são seres de beleza estonteante, que é normal se apaixonar assim que os vê em sua verdadeira forma, por isso as pessoas aceitam os acordos. Outros dizem que é porque qualquer um aceitaria ter uma vida perfeita por um longo tempo, esquece-se que ela será tirada de você. Diz-se que os fae escolhem seus humanos observando-os a partir de suas formas de animais. Que é por isso que tantos lenhadores são escolhidos, por isso que é tão perigoso andar na floresta. Já eu, eu não digo nada, mas não entro na floresta sozinha. Na minha vila os escolhidos dos fae são degolados e eu gosto da minha cabeça onde ela está.

Estava pensando nisso por estar no bosque, sempre ficava apreensiva aqui, mesmo que mais duas pessoas estivessem comigo. Bem, não estavam prestando atenção em mim, mas estavam ali perto, o mais perto que eu me permiti ficar sem invadir a privacidade dos dois.

Não gostava de quando eles resolviam se encontrar aqui, mesmo que fosse mais seguro e mais explicável o porque de eu e meu noivo termos saído e voltado em um trio. Matias era lenhador, eu e Pablo tínhamos ido namorar no bosque e na volta encontramos o Mat. Era difícil ser transviado, mas a pena não era a morte, achava que eles podiam se encontrar no estábulo da taverna. Tinha esquecido meu livro em casa, uma tristeza porque era realmente muito difícil me distrair dos sons dos dois.

Sentei ao pé da árvore, tirei os sapatos e enfiei os pés na grama. Não era próprio para uma moça, mas eu não tinha nada de direito, era só a vadia da vila. A moça que se deitava com o noivo antes do casamento e com o libertino mais famoso do lugar, por vezes com ambos ao mesmo tempo, mal sabiam. Apesar de ter perdido várias amigas, não ser convidada para a casa das que me sobraram e receber reprimendas frequentes da minha irmã, aquela farsa tinha algumas vantagens. Como eu era uma mulher sem reputação, tinha muito mais liberdade que as outras.

Arranquei uma flor amarela do chão e ouvi um barulho que já sabia identificar como Matias terminando. Estava tranquila rodando a flor no meu dedo quando ouvi a voz de alguém. Corri até meu noivo e empurrei Matias para longe dele. Abaixei as calças dos dois, subi minhas saias e grudei minha boca em Pablito enquanto Mat colava os lábios no meu pescoço. Poucos segundos depois ouvi uma exclamação de susto. Eram os outros dois lenhadores da vila começando o dia de trabalho.

-Ora Ora, parece que perderam a noção do tempo._Falou Jeremiah

-Assim fica difícil te defender Ellie.

-Não que você já tenha tentado não é Felipe?_Disse, com raiva do que já sabia que ia acontecer.

-Se Você me oferecer o que está dando para o Matias eu fico de boca fechada.

-Nossa jeremiah, ganancioso você hein, eu prefiro o tradicional mesmo, Ellie.

-E vocês vão querer ao mesmo tempo, queridos?

Os dois patifes sorriram e Matias grunhiu para mim, como se perguntasse que merda eu tinha na cabeça, já Pablo abaixou minhas saias e me puxou para um abraço.

-Ela não vai fazer nada com vocês e não admito que difamem minha noiva.

-Ah, Pablo. Se não admite isso por que a divide?

Não aguentei o insulto e dei um soco em Jeremiah.

Felipe me segurou antes que eu batesse nele também, eu estava com lágrimas nos olhos.

-Ellie, me desculpe. Não deveria ter zombado de você.

-Por que você está defendendo essa vadia?

Dessa vez foi o próprio Felipe que socou ele, meus "amantes" também começaram a surrar o cara, que já estava no chão.

-Parem!_gritei desesperada_ Soltem ele, vocês estão sendo covardes.

Os três abandonaram o desgraçado no chão, Matias foi para o meio da floresta sem nem mesmo se despedir.
Pablo e eu fomos andando em direção à vila, mas Felipe segurou meu braço e sussurrou:

-Posso te ver no lugar de sempre?

Não respondi nada, estava com muita raiva do que ele tinha feito.

-Você deveria parar de ver o Felipe.

Olhei para Pablo sem acreditar no que ele tinha dito. Depois do que eu tinha acabado de fazer por ele? Todos os boatos da vila agora tinham comprovação e para piorar meu caso com o Felipe ia virar fofoca também. Jeremiah podia ser terrível, mas não era burro.

Olhei com ódio para o meu noivo e corri para o meu trabalho, não me importei que Pablo vinha atrás de mim, nem que as pessoas me vissem chorando. Porém, meu sogro viu a cena e me parou.

-Minha filha, o que está acontecendo?

-Eu, eu, eu não posso continuar com isso.

-Espere aqui um minuto.

Ele saiu de perto de mim por um momento, acredito que para falar com o filho e voltou.

-Vem comigo, minha querida. Eu pago o seu dia de trabalho.

Tentei negar com a cabeça, mas ele insistiu. Fomos para a taberna, meu sogro era o dono e um dos homens mais ricos da nossa vila minúscula, as pessoas não se cansam de beber. Subimos até o último lance, onde ficava a casa dele.

Ele me colocou no sofá e arrancou as botas dos meus pés, então foi para a cozinha. Enquanto isso eu chorava de raiva, frustração, de saber que joguei minha reputação fora e se um dia quisesse ter um casamento de verdade teria que sair de Pinha e deixar minha família para trás, porque ninguém nesse lugar iria me querer, nem mesmo Felipe, que antes tinha me pedido para largar Pablo, depois de hoje não me respeitaria.

Meu sogro, mais meu pai que qualquer outra coisa, voltou com uma caneca na mão.

-Aqui, minha filha. Chocolate com rum, para te dar um ânimo antes de você me contar o que o ingrato do meu filho fez dessa vez.

Quando estava na metade da caneca consegui começar a contar. Pá, que era como eu o chamava, foi ficando cada vez mais carrancudo até que bateu na parede com muita força quando falei a última frase do meu noivo.

-Desgraçado! Dessa vez aquele bastardo apanha!

Ele me abraçou, a ponta do bigode branco roçando minha testa.

-Você tem um coração de ouro, mocinha. Se eu fosse menos egoísta te dava um belo de um dote e explicava para aquele seu Felipe toda a situação e vocês seriam felizes, mas depois do que ele te disse hoje eu entenderia se você não o quisesse mais.

Eu dei um riso chorado.

-Ele é bom para aquecer as palhas, pá.

-Falando em palha, não quero mais você se esgueirando pelo celeiro. Para todos os efeitos eu sou seu pai. Vou deixar um quarto aqui separado para você para quando você quiser trazer quem você quiser, sem questionamentos. E se você engravidar eu assumo como meu neto e te caso ainda mais rápido.

Eu ri e apertei pá ainda mais forte, depois da morte de nossos pais ele foi tudo o que eu poderia querer.

-Vocês precisam se casar, para resolver essa situação. Posso fazer os preparativos para o próximo mês?

Não me sentia particularmente animada para me ligar a Pablo, mas eu devia isso a pá. Eu não poderia deixar o filho mais novo dele ser expulso da vila, e era isso o que acontecia com os transviados. Assim que nos casássemos eu daria um jeito de engravidar o mais rápido possível e assim ele teria a proteção da lei mesmo que o vissem em delito. Era o mínimo que eu poderia fazer por aquele que permitiu a nossa sobrevivência nos últimos anos.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora