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-Você vai me apresentar o fae que vai tomar conta de nós?

-Acho melhor não. Sabe que vai ser incômoda a minha partida, não sabe?

-Sei. A cidade real é bem longe.

-Sim, por isso mesmo vou tentar não demorar muito. Vou ficar longe duas semanas, no máximo.

-Parece muito tempo.

Riwty sorriu maliciosamente e me roubou um beijo. Eu aproveitei a proximidade e o abracei. Estava preocupada com ele, não apenas porque qualquer coisa que acontecesse com ele repercutiria em mim, mas pelo próprio fae.

-Tome cuidado.

-Vai dar tudo certo.

Sorri para ele, que retribuiu. Vi Riwty desaparecer e suspirei. Era estranho  pensar em quanto tinha me acostumado com sua presença constante em menos de 2 meses.

O dia foi normal, como outro qualquer. A única diferença era que Beto estava visivelmente mais confortável sem o fae por perto.

-Quanto tempo ele vai ficar fora?

-Duas semanas.

-O que ele vai fazer enquanto isso?

Dei de ombros, se eu contasse o motivo de sua partida, Beto iria querer o motivo daquele pedido e não iria expor o segredo da minha irmã.

Esfreguei meu peito para diminuir o incômodo do puxão, mas obviamente não resolveu, infelizmente acabava fazendo aquilo de tempos em tempos.

-Está se sentindo bem? Tem massageado aí o dia inteiro. Sente algo no coração?

-Não é nada, apenas a distância que machuca.

-Dói fisicamente ficar longe dele?

-Sim.

Beto fez uma careta, mas voltou sua atenção para o forno enquanto tirava uma travessa de biscoitos. Me virei e fui para o balcão, o movimento na padaria estava muito lento hoje, o que era esperado com essa chuva torrencial.

Não iríamos vender quase nada hoje, ficaria tudo para amanhã. A maior parte dos produtos não tinha problema, mas os pães ficavam duros e os clientes reclamavam de pão dormido.

Fiquei meia hora parada olhando a chuva quando Beto apareceu ao meu lado.

-Devíamos fechar mais cedo. Ninguém vai aparecer.

-Mas o que faremos com o pão?

-Você pode levar a maior parte para a taverna, George deve ter mais clientes e as pessoas não costumam reclamar de pão duro com sopa.

-É um bom prejuízo.

-Sim, mas foi culpa minha. Não sei porque cozinhei tanto com essa chuva.

-Você poderia vender por metade do preço amanhã.

Beto passou alguns momentos pensando.

-Acha que funcionaria?

-Creio que sim.

-Foi uma ótima ideia, Ellie.

Beto tentou me beijar e eu me afastei.

-O que aconteceu?

-A porta está aberta, qualquer um poderia ver.

Isso e eu só conseguia me preocupar com Riwty. Beto entristeceu, isso me deixou tão culpada que o puxei para os fundos da padaria para beijá-lo, mas ele me impediu antes que nossos lábios se tocassem.

-Você entendeu errado, não fiquei triste porque por não te beijar, mas porque você não quer ser vista comigo.

-Eu sou noiva, Beto.

-Mas você foi vista com Matias.

Senti meu rosto queimar.

-Primeiro, com quem eu sou ou deixo de ser vista é apenas da minha conta, segundo eu estava com meu noivo também.

-Por que você está com Pablo se o trai?

-Eu não traio o Pablo, nós temos um acordo.

-Então nenhum dos dois se ama. Você pode muito bem terminar o noivado com ele.

-Não. Beto, eu nunca te prometi nada. Você sempre soube que eu estava noiva e em nenhum momento eu demonstrei que me separaria do Pablo.

Beto se afastou de mim e apoiou as mãos em uma das bancadas da cozinha.

-Beto, você deveria desistir dessa daí. Ela só seduz e depois esmaga os corações dos homens.

Eu e ele congelamos ao som daquela voz. Era Felipe, mais uma vez bêbado.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora