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Só consegui observar o quarto em que estava quando acordei. As paredes tinham um papel de parede rendado de cor creme. A cama era larga e macia, constatei sentindo pena de levantar. Havia um armário e uma cômoda de madeira escura, em cima da cômoda um vaso com rosas brancas.

Nunca tinha visto nada como aquilo. Era tudo tão luxuoso que fiquei embasbacada. Nunca imaginei que alguém precisaria dessas coisas, mas depois dessa noite eu bem poderia levar essa cama.

-Eu achei que só os condes tinham esse tipo de casa.

-Miau.
(Isso está bem abaixo de um conde.)

-Não consigo imaginar o que seria acima dele então.

-Você é muito pobre e mora em uma vila isolada, isso é completamente normal.

Riwty estava sentado em sua forma de fae ao meu lado. Hoje ele usava um conjunto marfim, que ficava lindo na pele dele. Ele com certeza era o homem mais bonito que eu já havia visto.

Fiquei encarando aqueles olhos verdes, de um tom tão mais interessante que os meus. Eles pareciam brilhar com malícia e Riwty sorriu para mim. 

-Gosta do que vê?

Fiquei vermelha na hora, me entregando ainda mais. O problema é que eu realmente gostava do que via, gostava muito. 

-Não se esqueça que eu consigo sentir suas emoções.

Quis fugir do quarto, mas diante daquela declaração eu senti certa curiosidade. Eu não sabia quase nada sobre os fae.

-Você sente as emoções de todos os humanos ou só as minhas?

-As dos outros humanos são mais diluídas, as suas eu consigo compreender perfeitamente. Só não sei os motivos. O que eu não daria para saber o que se passa dentro dessa sua cabeça.

-O que você daria?_ Perguntei me inclinando para ele.

-Depende do tipo de pensamento que você estivesse tendo._ Ele também veio na minha direção.

-E agora?

-Muita coisa. Você vai me contar?

-Só se você me der o que eu pedir depois. 

Eu estava ligeiramente ofegante, ele me encarava com uma intensidade surpreendente. Seu sorriso era predatório e eu não sentia nenhum medo por isso. A única coisa que eu conseguia pensar é que eu queria que ele mordesse minha boca e me beijasse, queria enfiar as mãos nos cabelos dele, sentir a textura e puxar.

-Eu prometo.

-Estou pensando em como é a textura do seu cabelo.

Foi o mais longe que eu consegui ir, não tive coragem de falar o resto. Ele pareceu momentaneamente desapontado, mas se recuperou e riu com deboche.

-É mais macio que a melhor seda. 

-Eu duvido._ Eu acreditava piamente nele, mas esperava que aquilo me rendesse um convite.

Ele me olhou como se soubesse exatamente o que eu estava pensando e seu sorriso aumentou ainda mais.

-Não preciso provar nada para você.

Eu levei um choque com a súbita grosseria, senti uma onda de raiva e ela subiu ainda mais ao ver que ele se divertia com minha ira. 

-O que você vai querer de mim?

-Vou guardar o pedido para algo importante.

Ele arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada. Eu resolvi me arrumar para o café da manhã, estava morta de fome. Coloquei o primeiro vestido que saiu do baú, um verde que depois eu reparei, era da mesma cor dos olhos de Riwty. Fiz uma trança frouxa, já haviam me falado que mulheres não usavam o cabelo solto em público nas cidades maiores desse condado, principalmente na capital. 

Desci as escadas pensando em como havia me acostumado a trocar de roupa na frente de Riwty. Se minhas irmãs soubessem quem Bolinho realmente era desmaiariam. Era estranho eu sentir desejo por ele em um momento e conseguir ficar nua na sua presença como se ele fosse uma parede. Minha mente deve ter arranjado um método para se proteger da loucura, deveria ser isso. 

Quando cheguei ao primeiro andar, me deparei logo com o criado negro de tranças que havia prendido minha atenção na noite anterior. Durante o dia ele era ainda mais lindo. 

-Bom dia, poderia me dizer onde posso preparar meu café da manhã?

-Oras, a senhorita não precisa preparar nada. Dentro de alguns minutos o café será colocado na sala lilás.

-Como eu chego lá?

-Eu acompanharei a senhorita.

A voz dele tinha um timbre maravilhoso, era baixa e rouca e me fazia pensar em como seria ter esse homem sussurrando no meu ouvido.

-Miau. (Cuidado para não babar)

Ignorei o gato. Infelizmente o homem ao meu lado não o ignorou e seu rosto se fechou completamente.

-Se eu fosse a senhorita daria um jeito de me livrar desse bicho o mais rápido possível, nada de bom vai vir desse aí. Ele é um problema.

Bolinho chiou para ele.

-Viu, ele sabe que eu não gosto dele, esse bicho é inteligente. Cuidado com ele senhorita.

-Pode me chamar de Ellie._ Falei para desviar o assunto.

-Não seria apropriado.

-Então senhorita Ellie.

-Tudo bem. Chegamos senhorita Ellie.

-Qual o seu nome?

-Baltazar, se precisar de algo me chame.

A sala lilás era chamada assim porque tudo era lilás.




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