Olhei para Pablo, que estava bem a minha frente, enquanto Beto me olhava preocupado.
-Sinto muito, acabei me distraindo_ falei enquanto esfregava meu peito.
-Está tudo bem?
-Sim, só um pouco cansada.
-Obrigada por me acompanhar, Beto.
-Não foi nada.
Pablo ainda me olhava preocupado, mas preferi ignorar. Dei boa noite para todos na cozinha e subi. Precisaria esperar a taverna fechar para falar com Pá. Hoje os quartos estavam vazios, então ele voltaria mais cedo.
Estava nervosa, não tinha certeza se ele sabia que não era filha biológica do meu pai, mesmo com a opinião de Riwty. Ser a única ruiva fora da família de Richie era realmente algo que deveria ter me feito pensar. Mas meus pais pareciam se amar tanto.
Andei nervosa pela sala, não sabia o que fazer até a hora de Pá chegar. De repente ouvi um barulho de algo se quebrando e Jhon xingando o mundo. Resolvi sair do meio da sala e ir para a cozinha, vai que aquele homem resolvia ir para lá.
Acabei fazendo o ritual de sempre, quando não era eu mesma fazendo, era Pá. Peguei leite, manteiga e chocolate e fiz meu chocolate quente, em seguida virei o rum. Como estava emocionalmente alterada, coloquei mais álcool que de costume. Ainda assim estava bom, só queimou um pouco.
Ouvi os barulhos para não encontrar meu cunhado e fui para o meu quarto. Lá deitei na cama e depois de tomar minha bebida acabei pegando no sono.
Não sei quanto tempo tinha passado quando acordei, mas pela janela percebi que ainda não havia amanhecido. Fui para a sala levando minha caneca. Pá estava lavando a louça que eu tinha deixado.
-Desculpa, Pá, eu esqueci completamente.
O idoso levou um susto, mas se virou e sorriu para mim.
-Nenhum problema, minha filha, é só uma panela. Ainda não estou inválido.
-Pá, será que podíamos conversar?
Ele deve ter visto algo no meu rosto porque ficou sério imediatamente.
-Eu só vou passar água e nos sentamos para conversar.
Quando ele se sentou no sofá ao meu lado eu respirei fundo e tentei começar a falar, mas não conseguia fazer um som.
-Calma, respira, temos todo o tempo do mundo _ ele disse apertando minha mão.
-Eu sou realmente filha de Richie? Minha mãe teve um caso com ele?
Seus olhos se arregalaram e várias expressões cruzaram seu rosto, mas quando vi pena em seu olhar soube que era verdade.
-Quem te disse isso?
-Ouvi Richie falando enquanto estava bêbado e como somos os únicos ruivos da aldeia me pareceu certo.
Pá desviou o olhar e ficou quieto por um momento.
-Por que você não me contou?
-Porque não era importante e seus pais não queriam que você soubesse.
-Richie?
-Não.
-Por que ele escondeu isso? Por que continuou com a minha mãe?
-Porque ele a traiu primeiro. Depois que sua mãe teve a Ester ela ficou muito doente, não saía de casa, mal levantava da cama, cuidar da sua irmã era a única coisa que podia fazer. Seu pai precisou trabalhar ainda mais, já que ela parou de costurar e eu mandava comida para eles todos os dias, para ser um gasto a menos. Assim, Mauro conseguiu contratar uma mocinha para ir as vezes limpar a casa, ele não tirava folga, trabalhava o dia inteiro. Enfim, os dois se enrolaram e ela engravidou. Sua mãe ficou sabendo disso e a menina passou a morar na sua casa, ela não podia voltar para a família, Benta ficou incrivelmente triste, isso piorou sua doença. Infelizmente a moça morreu no parto, dessa vez seu pai se afogou em culpa, já que as duas mulheres que ele engravidou tiveram finais ruins. Achou que tinha algo de errado com ele. Quando sua mãe viu que ele não conseguia mais dar conta das coisas enfiou a tristeza no fundo do coração e focou em melhorar e cuidar da Ester.
A história inteira estava me deixando em choque. Como meu pai pôde fazer isso com uma mulher acamada, doente por ter parido um filho dele?
-Depois de dois anos sua mãe estava quase completamente recuperada e já tinha voltado a costurar e cuidar da casa. Apesar de seus pais nunca brigarem, pelo bem da sua irmã, o relacionamento deles que antes era um exemplo de casal apaixonado murchou. Seu pai não tinha coragem de se aproximar da sua mãe e ela também não dava nenhuma abertura.
Penso que teria feito a mesma coisa.
-Sua irmã então cresceu com muito cuidado. Porém, Richie, que tinha mais ou menos a sua idade, vinha buscar as roupas das mulheres idosas da vila na sua casa, ele recebia uns trocados pelas entregas e complementava o salário de separador de cartas. Sua mãe e ele se deram bem logo de início, ela era muito bonita, gentil e todos sabiam que na verdade estava separada do seu pai. Richie era um jovem engraçado, vivo e querido em toda a vilã, mas se apaixonou loucamente por sua mãe.
Não conseguia visualizar o bêbado da vila desse jeito.
-Então os dois tiveram um caso e sua mãe também engravidou. Seu pai morreu de ciúmes, mas não podia falar nada, apesar de tudo era um homem decente. Então ele não se intrometeu, porém decidiu que era hora de reconquistar Benta. Sua mãe continuou não se importando com ele, mas quando ela engravidou Richie teve a reação de um garoto imaturo e fugiu por um período. Mauro aproveitou a oportunidade para se aproximar dela, o que funcionou. Quando Richie criou coragem de falar com ela, você já tinha nascido e seu pai já te adorava e tratava como se fosse dele. Richie nunca desistiu de sua mãe, começou a beber e deixou de ser aquele jovem alegre e querido. Apesar disso, ainda vivia como uma pessoa normal.
Pá parou por um tempo, tomando fôlego e pensando um pouco.
-Dois anos depois sua irmã nasceu e Richie só pôde observar seu amor e sua filha de longe, o que seus pais permitiram, já que era sua filha biológica. Eles até faziam um jantar com ele as vezes para que tivessem contato.
Pensando bem, eu me lembrava disso. Ele era um homem sério e melancólico e me olhava como se apenas eu existisse no cômodo. Fazia mil perguntas para mim e apesar de meu pai fazer cara feia as vezes, sempre o deixou a vontade. Era incrível como esses detalhes tinham passado despercebidos por mim.
-O problema foi quando sua mãe morreu. O mundo dele caiu e ele se afogou no álcool. Conseguiu manter o emprego, por pura pena, mas ainda foi rebaixado de cargo. Os poucos momentos de lucidez fora do emprego eram quando ele te observava. As vezes até me entregava algum dinheiro para sustentar você.
Aquilo era demais, eu não conseguia acreditar naquilo apesar de fazer todo o sentido. Não dava, era muito para mim.
Levantei do sofá e fui para o meu quarto.
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Aceito
FantasyVocê trocaria sua alma pela realização dos seus desejos? Os fae são criaturas da floresta, lá eles vivem e predam. Porém, quando escolhem um humano a vida do mortal muda para sempre, pois ganhará todos os desejos que quer do fundo do coração. Porém...