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O dia foi relativamente calmo, Bolinho não atraiu mais atenção de Beto e resolvi ir para a taverna quando meu expediente acabou, precisava ver Ester. Saí levando o gato no colo. Vi o pai de Felipe atravessando a praça, o fae chiou em meus braços e vi que o homem levava um grande pingente feito da árvore sagrada.

-Fique quieto, não me arrume problemas._ Sussurrei em sua orelha. 

-Miau. (Você viu o que ele está usando?)

-Sim, mas não faça nada. Se ele desconfiar do que você é pode me matar. Vá atrás dele em sua casa.

-Miau. (infelizmente isso não é possível.)

-Por que não?

-Miau (Você me mandou ficar quieto, depois conversamos.)

Franzi os olhos em sua direção, mas o gato nem se importou. Entrei na taverna pela porta dos fundos, que dava direto para a cozinha. Mariane e Elise estavam lá, conversando muito baixo.

-Olá, garotas. 

Elas levaram um susto e jurei que pude ver Bolinho levantar uma sobrancelha, mas não sabia se gatos podiam fazer isso. 

-O, oi, Ellie.

Achei estranho minha irmã gaguejar, obviamente as duas discutiam algum segredo. Estava curiosa, mas como eu mesma escondia várias coisas resolvi não interrogar.

-Pensei que viesse para casa ontem.

Ela corou antes de me responder.

-Resolvi ficar com Ester. Por que não fica também?

A culpa se cravou como uma faca em meu peito. Não tinha dado apoio à minha irmã por remorso.

-Como John está?

-Bem o suficiente._ Falou Mariane com amargura.

-Ele fez algo com você?

-Não.

Mas ela se virou de costas para dizer aquela única palavra. A culpa diminuiu conforme a raiva tomava lugar. Lembrei de Riwty dizendo que ele faria minha irmã infeliz.

-Onde Ester está?

-No salão com Pá.

-E Pablo?

-No balcão.

-Vou ver com Pá se posso ficar por aqui, você está no meu quarto?

-Sim, mas posso desocupar e dividir um com Mariane.

-Não tem necessidade, posso ficar com Pablo.

-Tudo bem.

-Como você está, Mariane?

-Bem, não esperava que tivesse essa vida.

-Você deveria ter algo melhor. Não ser obrigada a ficar na taverna para não ser molestada.

-Já discutimos isso antes, Elise. Eu só tenho a agradecer.

Olhei para a interação à minha frente e dessa vez fui eu que levantei a sobrancelha.

-Que bom que viraram amigas.

Elas arregalaram os olhos e ficaram visivelmente embaraçadas, minha irmã se tornou mais vermelha do que um tomate. O que estava acontecendo ali? A sensação de que era algo óbvio, mas que eu não captava me fez me sentir burra novamente. Talvez eu realmente fosse, pensar nisso me deixou com vergonha.

Coloquei Bolinho no chão e me preparei para sair, mas o gato me chamou

-Miau.
(Sinto fome)

Tentei não revirar os olhos.

-Meninas, acho que Bolinho está com fome, poderiam dar algo para ele?

Elas concordaram e eu saí em direção ao salão. Pá havia trocado de lugar com Pablo, o que facilitou a conversa.

-Oi, Pá.

Ele enchia uma caneca com cerveja quando me viu.

-Filha. Como você está?

-Bem, como estão Ester e John.

Seus olhos ficaram ligeiramente mais tristes ao observar minha irmã.

-Ele está muito melhor, até faz algumas caminhadas curtas pelo quarto. As marcas vão ficar horríveis, infelizmente. Sua irmã continua triste, não sei o que fazer por ela.

-Pensei que ela ficaria feliz dele ter melhorado.

-Isso ela está, mas se sente mal o casamento não vai acontecer tão cedo. De que perderam a fazenda também.

-Ela poderia se casar e morar aqui com você, ou eu e Elise poderíamos mudar para cá e ela continua em nossa casa.

A imagem de morar com Ester depois do casamento me deu calafrios. A ideia de casar também fazia isso, mas queria ver minha irmã feliz novamente.

-Você faria isso?

-Claro.

-Isso adiantaria as coisas em pelo menos um mês.

-Vou conversar com ela então.

-Filha?

-Oi.

-Queria conversar com você mais tarde. Se puder ficar um pouco mais.

-Eu ia pedir para ficar aqui.

Alegria apareceu nos olhos de Pá.

-Vou falar para Pablo ficar naquele quarto que tinha separado para você, assim vai ter privacidade, já que Elise está no seu.

Sorri para ele, não ia dizer que não precisava se incomodar, porque não tinha muita vontade de dividir o quarto com Pablo.

-Obrigada, Pá.

-Então mais tarde conversamos.

-Tudo bem. Precisa de alguma ajuda por aqui?

-Não, está tudo tranquilo. Pode subir e descansar. Vou fazer um chocolate quente com rum para você depois.

Sorri e subi as escadas.




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