Eram 11 da noite quando chegamos à capital. Eu estava exausta, meu enjoo havia permanecido durante toda a viagem.
Peguei o baú e Bolinho pulou em cima.
-Miau.
(Não é bom que grávida carregue peso)Olhei com raiva para Bolinho, ele era mais pesado que o baú. Tudo bem, eu estava exagerando, mas o gato estava quase lá.
Tínhamos parado nos correios da capital. Pá nos avisou para esperarmos ali enquanto ele conseguia uma carruagem de aluguel.
Pouco tempo depois estávamos sentados em uma carruagem preta com um condutor que não parava de reclamar da presença de Bolinho.
-Pá, você falou com seus amigos sobre Bolinho?
-Falei e eles disseram que estava tudo bem. O que eu não entendo é porque você não deixou o gato com a Elise.
-Bem, eu, eu. O Bolinho fica deprimido sem mim e eu já me apeguei demais, sabe.
-Tudo bem.
Ester e Pá me olhavam como se eu não tivesse juízo algum. Ai, como ia fazer daqui para frente?
Apoiei a cabeça no vidro da carruagem e fiquei olhando a rua. Era tudo muito maipr do que eu estava acostumada. A cidade estava vazia a não ser por alguns bêbados e prostitutas com seus clientes.
Ali havia uma grande variedade delas, desde algumas muito bonitas e arrumadas acompanhadas por homens visivelmente ricos, até alguns fiapos de ser humano que mal se aguentavam em pé e eram companhia de bêbados sujos.
As casas ali eram todas feitas de tijolos, na minha vila apenas algumas eram assim. Vi até mesmo uma que parecia feita de pedra e fiquei encantada.
O cocheiro parou em frente à uma casa de três andares bem larga. Fiquei impressionada, os amigos de Pá eram donos daquela mansão?
Pá e o condutor nos ajudaram a descer e passamos pelo pequeno jardim e Ester tocou a campainha.
Após alguns minutos um homem careca e magro atendeu a porta. Ele usava um terno e camisa pretos e a blusa tinha um babado estranho no pescoço.
-Boa noite, em que posso ajudá-los?
-Sou esperado. Meu nome é George Telles.
Os olhos do mordomo ganharam vida e ele chamou mais algum criado.
-Entrem por favor, se puderem esperar na sala vou pedir para Maria trazer água enquanto chamo o sr. e sra. Lints.
Agradecemos e fomos para a sala que ele indicou. Um outro criado pegou nossas bagagens, todas as três. Ele era alto e bem musculoso, era negro como Mariane e seu cabelo estava preso em diversas tranças que chegavam até o meio das costas.
O cômodo era muito bonito, todo rosa com detalhes brancos, uma das paredes possuía um forro de flores de cerejeira. Era tudo bem feminino. Os sofás eram brancos e bem macios.
Ester preferiu ficar em pé encarando um quadro de natureza morta que mostrava uma espécie de fruta rosa com espinhos em cima de uma mesa.
Bolinho cochilava no meu colo e após alguns segundos sentado Pá também caiu no sono.
-É tudo bem rosa aqui, não é?_ Falou Ester.
-Sim, tudo bem delicado._ Respondi olhando para o lustre de cristal que pendia sobre minha cabeça.
O aparador, de madeira clara, que ficava na parede florida era coberto por objetos dourados. Eu me sentia ligeiramente sufocada ali.
Nesse momento um casal desceu as escadas. Cutuquei levemente Pá para que acordasse. Levantei para cumprimentar os donos da casa sem tirar Bolinho do colo, não sabia qual seria a reação deles ao animal.
-Boa noite.
A senhora Lint era uma mulher no final de seus trinta anos e combinava perfeitamente com a sala. Seu cabelo loiro platinado estava preso no alto da cabeça e alguns cachos caiam distraidamente pelo rosto. Seu robe de seda era rosa claro e seus chinelos de dormir possuíam plumas. Não queria imaginar essa mulher vestida para uma festa.
O senhor Lint era um homem bem mais discreto. Era magro e tinha os mesmos cabelos espetados e olhos puxados que Beto. A semelhança me deu saudades de casa. Ele usava um robe preto de veludo com pantufas pretas, por baixo do robe era possível ver um pedaço de seu pijama xadrez azul.
-Boa noite._ Respondemos.
-Faz muito tempo que não vem aqui em casa George._ Falou o senhor.
-Eu preferi ficar em um hotel das últimas vezes que vim, Hiroshi. Não queria dar trabalho.
-Mas que absurdo, você é nosso amigo de longa data, não dá trabalho nenhum. Fora que vocês homens saíram para beber, mas eu não te vejo nem aos meninos faz pelo menos dois anos.
-Sinto muito Belinda, não foi minha intenção.
A mulher fez um biquinho, mas logo voltou ao normal.
-Bem, deixe-me apresentá-los às minhas futuras noras. Essa é a minha querida Ester e essa é a minha filha Ellie.
Não sei quão vermelha fiquei após o claro favoritismo de Pá. Ester murchou visivelmente e eu senti pena.
-Miau.
(Bom ver que ele gosta das duas igualmente.)Riwty nunca perdia a chance de fazer uma de suas observações.
-E quem é essa coisinha fofa no seu colo?_ Perguntou a senhora Lint.
-Esse é o meu gato Bolinho.
-Que lindo, nunca tinha visto um gato marrom.
O gato chiou para ela quando a mulher se aproximou.
-Desculpe senhora Lint, ele é um pouco tímido. Seja bonzinho com a dona da casa Bolinho._ Tentei enfatizar a parte do dona da casa, esperava que ele tivesse entendido.
-Oras, me chame de Belinda Ellie, você também Ester. Não tem problema, eu entendo, meu gato também era assim.
-Era?_ perguntou Ester.
-Sim, morreu mês passado._ seus olhos se encheram de lágrimas que ela tentou segurar.
Bolinho, por algum milagre resolveu mostrar compaixão e pulou para o colo de Belinda. Ela levou um susto, mas se recuperou rápido e dessa vez as lágrimas caíram enquanto ela apertava meu gato.
Quando me devolveu o bicho ela parecia muito feliz e em paz. Cocei a cabeça de Bolinho em forma de agradecimento.
-Venham, vocês devem estar cansados. Vou mostrar o quarto de vocês._ Falou Hiroshi._ Por favor, também me chamem pelo primeiro nome.
Nós subimos as escadas e eles mostraram três quartos no fim do corredor.
-Vou pedir um banho para vocês e um lanche para que comam antes de dormir. Boa noite._ disse Belinda muito solícita.
Fiquei com vergonha, meu cheiro e aparência não deveriam ser dos melhores.
Entrei no quarto. Algum tempo depois, uma criada chamada Eleonora preparou meu banho, trouxe meu lanche e desembaraçou meu cabelo enquanto eu comia. Após essas coisas eu simplesmente me joguei na cama e dormi.
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Aceito
FantasyOs fae são criaturas da floresta, lá eles vivem e predam. Porém, quando escolhem um humano a vida do mortal muda para sempre, pois ganhará todos os favores que quer do fundo do coração. Porém, a lenda também diz que esses favores têm um preço, a alm...