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Andamos até a sapataria, que era bem próxima ao atelier. Sentia vontade de pular de pedra em pedra como via algumas crianças fazendo. Logo eu teria a minha criança, encostei uma das mãos na barriga por instinto. A senhora Lint olhou meu gesto e pareceu entender. Não falei nada.

A sapataria era bem menor que o atelier e com mais coisas. Parecia uma verdadeira biblioteca de sapatos. Desde botas masculinas até saltos extremamente altos provavelmente usados pelas meninas da capital.

Três poltronas vermelhas redondas ficavam no meio da loja, que apesar de menor que a anterior, ainda era enorme.

-Boa tarde senhora Lint e senhorita.

-Boa tarde, Roger. Essa é a senhorita Ellie, ela será sua cliente hoje.

-E o que busca, senhorita?

Olhei para a senhora Lint, não sabia o que buscava.

-Precisamos de sapatilhas, uma forrada de tecido e uma bota.

-Claro, claro.

-Já trouxe o tecido que quero que use nessa especificamente.

Virei para ela e vi um corte do mesmo tecido do meu vestido de noiva, seria para o casamento então.

-As outras serão de couro comum ou tingido?

-Que tal algumas de couro comum e outras de couro tingido, Ellie?

-Tudo bem.

Quantas sapatilhas ela faria para mim?

-Deixe-me tirar suas medidas, por favor.

Descalcei minha bota, perdendo a meia, como sempre. Estiquei meu pé e ele foi virado e medido de várias formas. Quando comprei essa bota só tinha experimentado até que uma coubesse.

-As suas medidas são as dessas três prateleiras. Pode escolher um modelo que esteja só em outra para encomenda também.

Obviamente meus olhos vibraram par uma sapatilha vermelha, com uma tira de couro preto que faria uma amarração no tornozelo. Ficaria linda com a saia que iria fazer com o tecido que me esperava em casa.

Olhei para a Senhora Lint e cochichei em seu ouvido.

-Quantas sapatilhas devo escolher?

-Quantas quiser.

Continuei olhando para ela, que suspirou e acabou respondendo.

-Escolha cinco, então.

Parecia um absurdo e isso deve ter ficado claro em minha expressão porque ela logo retrucou.

-Sua irmã escolheu oito.

Sacudi a cabeça levemente e voltei a olhar para as sapatilhas. Escolhi então uma azul, a vermelha, uma marrom escura, uma marrom clara e uma preta. A bota que decidi era em um estilo diferente da que eu usava, tinha detalhes trançados no cano, mas era do mesmo tom de marrom.

Nunca tive tantos sapatos em minha vida, agora possuía oito pares no total, mesmo que um nunca mais fosse usado. Estava parecendo uma moça rica. Tudo bem que Pablo gostava de roupas e tinha várias, a maioria costurada aqui ou por mim, mas nunca tinha visto mais de três modelos de sapato com ele, parecia um luxo exagerado. Desconfiava que a senhora Lint estava doando parte de seu dinheiro para o meu enxoval.

Não sabia se deveria falar algo sobre isso, mas achei melhor não. Ela e o marido pareciam muito ricos e talvez ela pensasse que eu estava duvidando de suas condições financeiras se dissesse algo.

-Muito obrigada pela atenção, Roger.

-Não foi nada, sabe que adoro atender sua família.

Com o dinheiro que ela devia deixar ali não duvidava em nada disso.

-Além de tudo, a senhorita pareceu gostar dos modelos do jeito que estavam. O brilho nos olhos dela quando viu a sapatilha vermelha valeu meu dia.

Enrubesci, não queria saber qual seria a opinião dela sobre meu gosto por vermelho.

-Vermelho é realmente uma cor muito bonita, mas eu particularmente prefiro rosa.

Era visível. Estava impressionada com quão doce a senhora Belinda era, ela tinha ganhado um espaço em meu coração nesses poucos dias. Isso fez com que eu perguntasse logo após sair da loja.

-Você iria ao meu casamento?

Tive vergonha assim que terminei de falar, por que ela iria ao casamento de alguém como eu?

-Eu adoraria._ Ela disse com um sorriso enorme.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora