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Eu ainda estava de luto, usando a expressão de Riwty, quando voltei para casa com Pablo. Ele me colocou em seu cavalo e montou atrás de mim. O doutor Pastin novamente ficou surpreso com minha cura rápida, será que eu estava abusando da sorte? Passei a mão na minha barriga lisa, que não cresceria nos próximos meses como eu tinha imaginado. Isso deve ter atraído a atenção do meu noivo, que me chamou.

-Sinto muito por isso. Por que não me contou?

-Não sei. 

Ele não insistiu mais.

Outra vez uma onda de ressentimento contra o mundo se abateu sobre mim. Por que tudo precisava ser assim? Por que eu precisava pagar pelas dificuldades de Pablo? Ele poderia se mudar para um condado em que isso não fosse proibido, como o de Beto. Eu não estava mais grávida, não precisava me casar. Podia continuar aqui sem esse peso. 

O problema é que a Mãe de Matias dependia dele para sobreviver. E que direito tinha eu de separar os pais de seus filhos? Olhei para cima e vi um coelho marrom correndo perto. Essa seria minha solução, o Riwty poderia resolver isso. Eu pediria a ele na primeira oportunidade. 

Pablo me deixou em casa, disse que ia esperar uma das minhas irmãs chegar, mas pedi que fosse embora. Mal havia deitado na cama e alguém bateu na porta, levantei gemendo. Não estava com dor, mas sentia um cansaço profundo. Não iria pedir nada para o Riwty hoje, queria dormir.

Abri a porta e vi Beto. Depois de olhar para o meu rosto, provavelmente procurando saber se eu estava bem, olhou para baixo e ali ficou. Fui ver o que havia de tão interessante ali. Meus pés descalços, com as unhas pintadas de vermelho. Parecia que uma era tinha passado desde que pintei as unhas. Meu rosto ficou da mesma cor da tinta, o de Beto também. O que me lembrou da noite em que ele me viu com elas pintadas assim, fiquei ainda mais ruborizada.

-Oi._ Consegui dizer.

-Oi, o doutor me contou que esteve muito mal então eu vim te ver e trazer algo para você comer. 

Meu coração ficou levemente apertado. Se eu pudesse escolher alguém para me casar no futuro, provavelmente seria Beto. Ele era confiável, compreensivo, carinhoso e obviamente gostava de mim. Os únicos problemas eram Riwty e Felipe. Eu tinha certeza que estava apaixonada pelo fae, mas não sabia quanto daquilo vinha da magia dele, fora que não tínhamos futuro nenhum nesse sentido. Já Felipe deixava meu coração confuso, as vezes o antigo sentimento voltava, como aconteceu hoje, as vezes eu só o achava inconveniente. 

-Obrigada, quer entrar?

-Eu adoraria.

Bolinho estava parado no meio da cozinha quando fechei a porta. 

-Miau. (O que o padeiro faz aqui?)

-Olhe, Bolinho. O Beto veio fazer uma visita para saber se eu havia melhorado.

-Miau. (Claro que melhorou, mas não foi graças aquele médico exibido. Eu deveria comer a vaca dele por levar os créditos que eu merecia.)

-Não.

Beto olhou para mim de olhos arregalados?

-O que aconteceu? 

- Bolinho ia te morder.

Por sorte ele estava virado para a pia, colocando as sacolas que havia trazido, então não podia provar se o que ele dizia era verdade ou não, mas pela expressão que fez podia ver que não acreditava muito no que eu disse. Ele virou para o gato e franziu o cenho. Aquilo me deixou desesperada, ele era o que mais sabia sobre os faes, já tinha os visto de perto em suas formas animais. Torci para que ele esquecesse essa ideia. 

-Você trouxe comida para o mês inteiro.

Sua expressão suavizou e ele sorriu para mim, os olhos virando fendas.

-Quando o médico passou na minha casa, eu estava na porta saindo para trabalhar. Eu voltei e perguntei à minha avó o que você gostava de comer. Fiz um pouco de tudo que ela me disse.

Fiquei novamente vermelha.

-Miau. (Vou embora porque o jeito que ele se joga para você me deixa enjoado.)

Bolinho foi para o quarto.

-Obrigada.

-Venha ver se era isso mesmo. Ela disse que as tortinhas de cereja eram suas preferidas, então fiz mais delas que do resto. 

Ele me entregou um embrulho, quando o abri havia dez tortinhas de cereja. Minha boca se escancarou e eu sorri.

-Trouxe também aqueles salgados com damasco que você tinha gostado.

-Uau.

-Por último alguns pães recheados com queijo e frango.

-Foi muita gentileza sua, estou muito agradecida pela atenção.

Beto me olhou com uma intensidade profunda e segurou uma de minhas mãos. Meu coração bateu descompassado e devo ter prestado mais atenção nisso que em qualquer outra coisa porque não percebi que ele se aproximava até estar a centímetros de distância. Seus lábios tocaram os meus com delicadeza, mas sua outra mão me abraçou e me apertou contra seu corpo. Levei as minhas até seus ombros, não sabendo bem se para empurrá-lo ou apenas me apoiar. Ele abriu minha boca com a língua e ele a roçou na minha. Retribuí o beijo aos poucos, como se estivesse lentamente entendendo o que acontecia. Eu chupei seu lábio inferior e ele gemeu. Beto levou uma das mãos ao meu pescoço e enfiou os dedos no meu cabelo, me fazendo gemer. Mas quando senti sua ereção eu puxei a cabeça.

-Ellie._ Ele ia voltar a me beijar, mas eu o empurrei.

-Eu preciso descansar.

Beto ficou vermelho.

-Claro, desculpa, você passou o dia mal. Bem, vou para casa então.

Beto bateu a canela na mesa da cozinha enquanto saía. Dei um sorriso e fechei a porta assim que ele se foi.

-Quer dizer que eu te curo para você sair se agarrando com o primeiro que aparecer.

-Na verdade, o primeiro que apareceu depois de você ter me curado foi o Pablo e eu não saí me agarrando com ele.

-Por que será? Bem, suponho que vai dividir esses doces comigo. 

-Vou sim, mas fique de olho para saber quando minha irmã vai chegar.

-Qual delas vai vir?

-Suponho que Elise.

-Precisamos guardar algo para ela?


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