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A moça me olhava com olhos cansados e tristes. Seu corpo parecia muito abatido, o que eu considerava normal depois da caminhada, do sangramento e da febre. Ela levou a mão até a marca e ia coçar, quando a impedi.

-O médico pediu para você não mexer aí até cicatrizar completamente.

-Mas coça muito.

-Calma, vou pegar a pomada.

Fui até a mesa onde estava a tigela de mingau e abri a gaveta, dentro dela havia um pequeno pote com uma pomada branca.

Passei delicadamente o creme no losango em sua testa, os olhos arregalados da moça me mostraram que ela se esforçava para não sair correndo dali.

-Qual é seu nome?

-Mariene

-É um nome bonito. Doutor Pastin tinha me pedido para acorda-la, mas você se adiantou. Trouxe um mingau para você.

Ela estendeu as mãos, mas elas tremiam.

-Não precisa, eu posso te alimentar, a comida já está morna.

-Desculpe.

-Não tem pelo que se desculpar, vamos levantar você um pouco. Pode me ajudar?

Ela balançou a cabeça afirmativamente. Eu a puxei para cima e coloquei os travesseiros em pé. Peguei o mingau e sentei na beirada da cama. Ela estava tão assustada, achei que deveria conversar, ou pelo menos falar, para que ela se distraísse um pouco.

-Você sabe onde está?_disse pegando uma colher do mingau.

Ela balançou a cabeça negativamente.

-Aqui é Pinha, uma vila bem pequena.

Ela comeu o mingau, não respondeu nada, então achei melhor continuar falando.

-Apesar disso, temos uma quantidade até que variada de serviços. Estamos na taberna, ela é do meu futuro sogro. Eu trabalho na padaria, os doces de lá são maravilhosos. Você gosta de doces?

Ela balançou a cabeça afirmativamente.

-Então vou trazer alguns para você qualquer dia desses, é só me dizer quais são seus preferidos.

Mariane tentou sorrir, mas não conseguiu.

-Aqui também temos a escola, minha irmã mais nova ainda tem treze anos, então ainda frequenta. Há o armarinho, onde compramos os tecidos, linhas e agulhas. Temos até uma pequena biblioteca.

Os olhos da menina se arregalaram de surpresa.

-Sim, realmente incrível. Um velhinho que morava na capital do condado se mudou para cá e trouxe seus livros, como ele viu que as pessoas daqui sabiam ler, mas não tinham nada, criou essa biblioteca. Nós pagamos três cobres por mês e podemos pegar um livro por semana. Apesar de puxar um pouco no orçamento todas as famílias são filiadas, geralmente dividem uma conta só e revezam a vez de ler.

Mariane começava a parecer mais interessada na conversa, aquilo me fez sorrir.

-Aí temos os fazendeiros e os lenhadores e é isso._ ignorei propositalmente a igreja._ A vila é uma praça, onde ficam esses serviços e cinco ruas que levam até as casas e a estrada. A minha fica na rua que leva até a estrada, a número 5. As que levam até as fazendas são as 2 e 3. E em volta de tudo isso fica a floresta.

Nesse ponto o mingau tinha acabado, limpei a boca da menina, que agora eu via que era mais nova que eu e coloquei a tigela na mesinha.

-Você quer que eu fique com você?

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora