17

84 18 4
                                    

Minhas irmãs adoraram os biscoitos, mas como Ester não pode deixar de reclamar ela falou que sobraria muita comida da janta. Eu e Elise simplesmente ignoramos.

Enquanto elas foram dormir eu coloquei meus tecidos sobre a mesa e acendi outra vela para enxergar melhor.

Costurei por muitas horas e consegui terminar a base do vestido verde, agora faltava o babado do busto, o bordado da cintura e a renda. Precisaria comprar as contas para o bordado e a renda no dia seguinte, então deixei para fazer o babado junto.

Peguei o tecido amarelo, esse vestido era um pouco mais complicado pois tinha mangas bufantes, mais aplicações de renda e bordado por todo o corpete. Respirei fundo pensando em como terminaria tudo isso. A dona desse vestido era mais magra e com seios menores que a do verde, por isso o decote era mais baixo também.

Enquanto costurava não vi sinal de Bolinho e uma chuva muito forte começou a cair por volta das 3 da manhã. Mesmo sabendo que Bolinho não era um gato de verdade, fiquei muito preocupada. Então coloquei minha capa, minhas botas e saí. Estava levando também uma pequena vela, mas aquela hora já era possível ver alguma coisa sem luz artificial.

Andei pelo quintal da casa e não vi nenhum animal ou fae, acabei caminhando em direção à floresta. Ainda sentia medo de ir até lá, mas como o pior já havia acontecido poderia entrar sozinha.

Depois de alguns metros ouvi vozes, uma delas era de Riwty. Por causa disso apaguei a vela e tentei me aproximar o mais silenciosamente que consegui.

Quando cheguei bem perto me agachei atrás de um arbusto. Não precisei da vela para ver o que estava acontecendo pois uma bola de luz pairava acima de Riwty e do outro fae.

Riwty usava apenas uma calça nesse momento, mostrando uma coleção de músculos. Sua túnica, dessa vez era uma verde, pendia em sua mão esquerda.

A outra figura, uma fae fêmea de voz muito delicada, raspava as garras prateadas pela pele de Riwty deixando um rastro de sangue.

A fêmea era completamente prateada e estava nua, ela era muito alta e seu cabelo liso, que parecia prata derretida, escorregava até o início das coxas.

Porém, o que mais me chamou a atenção foram as asas de libélula que iam de suas costas até o chão. Elas tinham um brilho suave e as vezes estremeciam, fazendo o cabelo balançar.

-Eu pensei que você fosse melhor do que isso, Riwty.

-Não escolhemos isso, Syara.

-Pode até ser, mas demonstra que você é fraco.

-Não sei se ter sentimentos é ser fraco. Você também não sabe pois tem uma pedra no lugar do coração.

Syara arreganhou os dentes para Riwty.

-Cuidado com seu tom, você me deve obediência.

Riwty franziu o cenho, mas fez uma mesura.

-Sinto muito, minha lady.

Quando Riwty se levantou ela fez um círculo ao seu redor cortando levemente seu pescoço. Senti a dor na minha pele, mas quando olhei não sangrava como ele.

-Quanto tempo planeja ficar aqui?

-O mínimo possível, minha lady.

-Espero que isso seja rápido, não estou disposta a esperar mais de cinquenta anos. Se isso não estiver acabado eu mesma darei um fim em seu serviço.

Riwty fechou o rosto de vez e senti meu rosto gelar, se Riwty não terminasse com seu serviço, que era eu, ela mesma faria isso.

Em um instante Syara encostou na árvore sagrada ao seu lado e desapareceu junto da esfera de luz.

Nesse momento meu corpo começou a sangrar. A chuva parecia ter aumentado e eu estava encharcada. Pensava em como dar um jeito de sair dali quando alguém me agarrou por trás.

-Parece que você é muito bisbilhoteira.

-Você faz o mesmo comigo Riwty._ disse completamente assustada e sem fôlego.

-Mas você é apenas uma humana cercada de predadores, já falei que eu não posso te fazer mal, mas os outros fae podem. Principalmente os do tipo de Syara.

-Quem é ela?

-Uma de nossas princesas.

Senti meus olhos se arregalarem, Riwty disse que os fae da família real não tinham limite de idade, quantos anos aquela fêmea teria? Quão poderosa ela era?

Nesse momento senti a língua de Riwty no meu pescoço e meu corpo todo se arrepiou.

-O que você está fazendo?

Tentei me soltar, mas Riwty prendeu ainda mais meu corpo e sugou todo o sangue que escorria do meu ferimento.

-É o mínimo que eu mereço por ter salvado sua vida impedindo que seu sangue pingasse na presença dela.

-Você sabia que eu estava aqui?

-Eu consigo sentir suas emoções, você é ligada a mim. Agora tire sua blusa para que eu limpe o sangue do seu peito.

-Nem pense nisso seu tarado.

Riwty riu e me apertou contra ele.

-Você iria adorar.

-Passo a experiência.

-Então vamos para casa antes que pegue uma pneumonia.

-Espere, o que ela quis dizer com terminar o serviço?

-Nossa ligação ter chegado ao fim.

-E como isso acontece?

-Existem duas maneiras, você pode dizer que quer que eu vá embora logo após um favor.

-Qual é a outra?

-Não compete a você.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora