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Riwty me girou e eu ri enquanto enfiava o rosto em seu pescoço. Eu sorria e chorava ao mesmo tempo. O que tinha acontecido comigo? Tinham se passado apenas cinco dias e eu já estava desse jeito. Talvez não sentir mais uma dor quase insuportável no peito ajudasse nessa felicidade.

-Se eu soubesse que você ia sentir tanto assim a minha falta eu teria vindo mais cedo.

-Mais cedo? Isso seria possível?

-Eu teria dado um jeito.

O fae me apertou com força e cheirou me cabelo. Então levantou meu rosto, olhamos um para o outro e ele esfregou o nariz no meu.

-Senti tanta saudade, Ellie, você não faz ideia.

Minhas lágrimas começaram a cair de novo, mas ele as secou com os polegares enquanto ainda segurava meu rosto e me beijou. Nos beijamos até eu ficar sem fôlego, então percebi que de algum modo estava deitada na grama.

-Ellie, eu preciso te contar uma coisa, mas estou com medo.

-Por quê?

Riwty tinha um olhar vulnerável que eu nunca tinha visto, aquilo me deixou preocupada então segurei sua bochecha assim como ele tinha feito comigo.

-Porque eu já te disse com outras palavras e você não me respondeu e agora eu quero expressar meus sentimentos sem deixar espaço para qualquer esquiva.

Arregalei meus olhos e meu coração começou a bater mais rápido.

-Eu te amo, estou completamente apaixonado por você. Não sei como isso aconteceu tão rápido, pensei que faria como vários faes e perderia o interesse em você para então voltar para minha vida normal. Mas não foi isso que aconteceu e não foi porque ligamos nossas almas.

Riwty me abraçou e enterrou meu rosto em seu peito. Tentei empurrá-lo, mas ele não deixou.

-Por favor não me rejeite, só não fale nada. Sei que já tem homens demais te perturbando por retribuição de afeto, mas eu precisava te dizer. Perdoe meu egoísmo.

Empurrei mais uma vez, dessa vez ele me deixou ir. O fae tinha uma expressão arrasada.

-Eu não posso dizer que te amo.

O olhar de Riwty ficou cada vez mais desesperado, então ele fechou os olhos com força.

-Mas eu gosto de você, mais do que já gostei do Felipe. Eu não sei se isso é amor, mas se não for agora, com certeza vai ser em algum momento.

-Eu posso esperar, espero o quanto você precisar.

Ele me beijou novamente. Conseguia sentir o coração dele bater tão rápido quanto o meu.  Nossas línguas se enrolavam e quando mordeu meu lábio inferior fez dois pequenos furos e puxou meu sangue.

-Seu cheiro é incrível, seu gosto é uma delícia. Se eu não te amasse ia querer te comer nas duas maneiras possíveis, mas agora adoraria te comer no sentido figurado.

Dei uma batida leve no seu braço, não queria me machucar.

-Você está estragando o clima!

O fae deu uma gargalhada e me beijou de novo, já tinha perdido a noção de quanto tempo tinha passado beijando Riwty e quando isso passou pela minha cabeça lembrei que precisava trabalhar.

-Merda.

-Você não precisa ir, fica aqui comigo, depois eu converso com o padeiro.

-Você não precisa ler minha mente quando está nessa forma.

-Já falei que não estou lendo sua mente, você está projetando.

Nunca vou entender o que ele quis dizer, quando fui levantar ele me puxou para cima de seu corpo e tentou me seduzir. Não posso mentir que estava quase funcionando.

-Mais tarde, à noite, deixo você fazer o que quiser comigo.

Seu olhar se aprofundou.

-Essa é uma promessa que eu vou cobrar.

Então Riwty me colocou de pé e se transformou em gato. Saí da floresta tão calma que até esqueci que alguém poderia me ver saindo da floresta com meu gato e se isso fosse comentado aquele sacerdote ficaria mais desconfiado ainda. Para meu azar, justamente Felipe apareceu na floresta. Porém, quando ele ia se virar na nossa direção, ficou tonto e começou a cambalear, logo em seguida desmaiou. Cheguei a pensar que ele tinha voltado a beber, mas quando bolinho me apressou percebi que tinha sido obra do fae e segui em frente torcendo para que nada de ruim acontecesse com ele.

Depois de atravessar a praça principal suspirei, detestava passar por ali em horário de movimento. Uma das coisas boas de se trabalhar em uma padaria era entrar cedo e não precisar ver quase ninguém. Também saía relativamente tarde, então era a que trabalhava mais horas na família até pouco tempo atrás. Agora Ester precisa cuidar de Jhon, se isso fosse considerado trabalho.

“Não se sinta culpada, foi uma decisão totalmente minha fazer aquilo, foi uma vingança pessoal”

Balancei a cabeça, não muito convencida.

Quando finalmente cheguei à padaria, entrei pela porta dos fundos, porque já havia clientes. Quando Beto terminou de atendê-los, começou a vir para a parte de trás da loja perguntando

-Ellie você está bem? Você não é de fal...

Beto estacou e arregalou os olhos.

"O coração dele val explodir de quão rápido está batendo. O padeiro parece um ratinho encurralado."

Eu não duvidava, suas mãos tremiam enquanto ele apertava o avental. Bolinho lambeu os lábios. como gatos fazem quando veem comida e Beto precisou se apoiar no balcão. Podia ouvir a risada que Riwty projetava em minha cabeça. Filho da Puta sem com coração. Belisquei a bunda do gato gordo, que chiou indignado e me conformando em sentir a mesma coisa.

-Achei que e ele ia ficar mais dias fora.

Beto inspirou e suspirou algumas vezes, pareceu acalmá-lo um pouco, senti pena, nem me passon pela cabeça pedir para Riwty se distarçar de passarinho e ficar do lado de fora da padaria.

"Nem pensar, agora eu me acostumei com a forma de gato”

“Um dia não teria feito diferença, Riwty, só para eu contar a ele que você tinha chegado.”

Consegui sentir a raiva de Riwty e o que eu acho que era ciúmes. Desde que aceitei o último desejo senti que estávamos muito mais conectados e o sorriso do fae quando falei a palavra foi um tanto sinistro.

“Pergunte, meu porquinho, pergunte o que significa aquele sorriso”

-Porra!

Joguei o gato no chão, agora não queria saber de nada. Porquinho? Que merda de apelido era aquele?

“É carinhoso, você me chama de gato obeso o tempo todo, eu respondo que você come feito um porco, achei que combinaria com o nosso relacionamento esse apelido.”

Bolinho se esfregou na minha perna, mas o ignorei completamente.

-Tudo bem com vocês? _ Beto perguntou cauteloso

-Sim, é que bolinho voltou com pulgas.

-Isso é possível?

Ele parecia definitivamente horrorizado, depois olhou para os pães e de volta para o gato, que estava enfurecido, mas não falou nada.

Bolinho tentou me morder, mas me esquivei.

-Ele parece com raiva.

-Ele não gostou que eu contei a intimidade dele.

Riwty chiou, conseguia sentir a raiva fervente dele, mas esperava que ele também sentisse a minha.

“Pois esqueça a minha promessa de hoje à noite. Esse porquinho não vai fazer mais nada.”

“Mas isso nem pensar! Estava aqui morrendo de saudade, você não pode fazer isso comigo, fiz tudo para chegar o mais rápido possível. Ainda te deixei me chamar de pulguento.”

“Você tentou me morder.”

“Sabe que se eu quisesse você não teria conseguido se esquivar.”

Era verdade.

“Então o que significava aquele sorriso?”

“Vou te contar à noite”

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora