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Entrei em minha casa e vi minhas irmãs na cozinha. Elise cortava uma cenoura e Ester mexia uma panela, devia ser sopa.

-Ellie_ cumprimentou alegremente
minha irmã mais nova.

Minha outra irmã olhou para mim e deixou cair a concha.

-Que bicho é esse?

-Esse é o meu gato, o Bolinho.

Bolinho arreganhou os dentes quando disse seu nome, eu controlei o riso. Elise veio até nós e o gato chiou, ela esperou o fae se acostumar à sua presença e estendeu a mão. Eu pensei que Riwty morderia seu dedo e lamberia os beiços, mas ele simplesmente deu uma fungadela e virou a cabeça para o outro lado. Elise arqueou a sobrancelha para mim.

-Desculpe, ele é um pouco arisco.

-Isso no seu braço foi ele que fez?

-Foi, mas o bichinho estava assustado.

-Miau
(Pare de dizer que fui eu que fiz isso, você mesma se cortou e o único bichinho assustado era você)

Eu o ignorei com um sorriso amarelo e esfreguei sua cabeça.

-Eu não sei se quero esse bicho na minha casa.

-Nossa casa, sustento ela tanto quanto você.

Elise reprimiu uma risadinha.

-Eu não vou me responsabilizar por ele.

-Tudo bem. A sopa é de quê?

-Canja.

-Posso pegar um pedaço de frango para o bolinho?

Minha irmã revirou os olhos mas pegou um pedaço de frango cozido. Enquanto isso eu procurava três pratos de madeira. Um eu coloquei água, o outro um pouco de leite e o terceiro, o frango que Ester me entregou.

Bolinho andava distraidamente pelo ambiente, mas parou para beber água e comer um pouco do frango.

-Como você achou esse bicho?_ Perguntou Ester.

-Eu fui para a floresta procurar Pablo, porque ele tinha sumido e achei Bolinho perdido.

Minha irmã bateu com força na mesa e Elise que colocava sua sopa em um prato levou um susto e derramou tudo.

-Você não tem vergonha? Mentir na minha cara? Procurar Pablo na floresta? Você foi se esfregar em Matias.

-Eu não tenho porque mentir para você. Eu realmente estava procurando Pablo.

Bolinho chiava no canto da cozinha.

-Perdi a fome, vejo vocês amanhã._ disse me dirigindo ao quarto.

Fechei a porta e deitei na minha cama, só percebi Bolinho quando ele pulou na cama. Sentia muita falta de quando nós três éramos unidas. O gato se enroscou na minha barriga e eu peguei no sono chorando.

Eu estava deitada ao lado de Riwty em sua forma comum, ele passava a mão nos meus cachos e me lançava um olhar terno. Quando viu que eu acordei, sorriu e colocou um dedo sobre os lábios indicando silêncio. Gritei.

-Ellie, Ellie.

Acordei com minha irmã me sacudindo.

-Eu tive um pesadelo. Onde está o Bolinho?

-Não sei, mas ele deve ter saído pela janela. Fique calma, seu gato vai voltar.

Eu devia estar com uma aparência de desamparada, porque Elise deitou de conchinha comigo, aquilo me deixou mais feliz.

Pela manhã, Elise não estava mais na minha cama e encontrei Bolinho bebendo água.

-Vou trabalhar Bolinho, você não pode me acompanhar.

Bolinho pareceu me ignorar. Não estava com muita fome, as brigas recentes estavam me deixando cansada pela manhã. Será que eu já estava grávida? Aquilo me deixou com um misto de sensações, perda da liberdade, alegria e muita ansiedade. Meu sangramento seria na próxima semana, só restava esperar.

Andei calmamente até a padaria e encontrei um homem muito bonito conversando com dona Gema, eles tinham os mesmos olhos castanhos.

-Olha quem chegou. Minha flor, esse era o neto de quem eu te falei. Ele vai passar o mês aqui comigo.

Entendi no mesmo momento as intenções de dona Gema.

-Olá, meu nome é Ellie.

-Oi Ellie, meu nome é Beto.

Ele sorriu para mim e seus olhos já puxados se tornaram fendas. Ele era realmente muito bonito. Breno ajudou o dia todo na padaria e foi tudo muito tranquilo e divertido. Ele parecia ser uma pessoa muito doce e por um momento me permiti pensar em como seria minha vida se aceitassr a proposta de dona Gema.

Imaginei a viagem para um condado longínquo, nunca tinha passado de duas vilas de distância da minha. Trabalhar na padaria dele, com dona Gema de avó de verdade. Pais postiços e em um futuro não tão imediato como eu precisava que fosse na mibha realidade, uma casa com crianças ruivas de olhos castanhos puxados correndo pela casa.

-Boa noite, Vovó. Até amanhã. Prazer em te conhecer Beto.

-Deixe que eu te leve em casa.

Acabei deixando. Estava tudo indo bem até vermos uma mulher cambaleando pelo meio da praça. Primeiro pensei que era uma bêbada, mas então vi a marca na testa e saí correndo para ajudar.

A moça era negra e tinha longos cabelos cacheados, seu vestido cinza estava manchado de sangue e ela caiu assim que colocamos as mãos nela.

-Leve-a para a taberna. Vou procurar o médico.

Eu corri pela praça da vila, levantei a saia sem me importar que alguém visse minhas canelas, aquela mulher estava morrendo.

Depois de passar pela segunda rua à direita cheguei a uma casinha de tijolos vermelhos e bati na porta desenfreadamente.

-Ellie, o que aconteceu?

-Uma moça acabou de chegar da punição.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora