Acordei no dia seguinte cansada por ter costurado até tarde, ainda faltava tanto, pensei desanimada.
Tomei só um copo de leite e coloquei um pouco para bolinho porque precisava passar no armarinho e não tinha conseguido levantar mais cedo.
Precisei colocar uma blusa de gola alta, para tampar o corte da noite anterior. Ela era de um rosa claro com um laço amarrado no pescoço. Completei com uma saia azul e meias de lã compridas, pois o dia tinha amanhecido frio.
Cheguei ao armarinho e sorri para a senhora que trabalhava lá, ela era baixinha e gorducha, com grandes bochechas rosadas. Ela tinha uma verruga na sobrancelha direita e olhos azuis. O cabelo branco estava preso em um coque com um palito de madeira, sempre me perguntei como ela fazia isso.
-Oi dona Maria, tudo bem com a senhora?
-Olá, Ellie. Tenho passado bem.
Ela não me tratava mal, nunca me desrespeitou ou se recusou a me atender quando outra cliente estava na loja, mas também não era simpática.
-Eu gostaria de 5 metros de tira de renda preta e meio quilo de contas brancas.
Compraria a mais para bordar depois.
-Temos dois tipos de tiras de renda, a com rosas e a com margaridas.
Olhei os dois tecidos e escolhi a de rosas.
-7 cobres.
Arregalei os olhos, aquilo era muito dinheiro. As vezes também achava que ela cobrava mais caro para mim.
-Eu trouxe 3, posso pagar o resto amanhã?
Ela assentiu com a cabeça. Saí de lá me sentindo assaltada, precisaria pedir a discriminação dos produtos no dia seguinte para cobrar o valor certo para as meninas. Por esse tipo de coisa que eu pedia para as minhas irmãs comprarem os tecidos que eram para uso pessoal.
Quando estava saindo vi um tecido de algodão vermelho, um tom bem escuro, lindo. Nunca tinha visto algodão vermelho, instintivamente toquei-o.
-Você não vai comprar isso, não é? Você ainda não chegou nesse ponto, não é cor para pessoas decentes.
A raiva fervilhou em mim, meu rosto esquentou e eu me virei para ela.
-Não sabia que pessoas decentes tinham cor específica, mas sei que não é decente cobrar a mais de um cliente só porque não gosta dele, mas sabe que precisa dos seus produtos. Passar bem.
Saí bufando do armarinho, falaria para Ester ou Elise entregarem os 4 cobres que faltavam. Velha desgraçada.
Pensei naquele lindo tom de vermelho e lembrei que era o terceiro dia de atraso do meu sangramento. Senti meu sangue gelar, instintivamente segurei minha barriga. Precisava trabalhar, não ia pensar nisso agora.
Fui para a padaria com meu embrulho e encontrei Dona Gema e Beto já trabalhando.
-Estou atrasada?
-Não, minha florzinha, nós começamos mais cedo hoje.
-Estamos fazendo os testes, amanhã começaremos o trabalho de verdade_ completou Beto.
-Experimente esses.
Dona Gema me entregou um bolinho com uma calda vermelha por cima, mordi na expectativa de que fosse de cereja, mas era de morango. Mesmo assim estava delicioso.
-Vovó isso está perfeito.
-É uma receita do Beto.
Olhei para ele e o vi corar, sorrindo envergonhado.
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Aceito
FantasyOs fae são criaturas da floresta, lá eles vivem e predam. Porém, quando escolhem um humano a vida do mortal muda para sempre, pois ganhará todos os favores que quer do fundo do coração. Porém, a lenda também diz que esses favores têm um preço, a alm...