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Eu acabei não falando sobre a minha proposta com a minha irmã. Depois da conversa que tivemos não sabia se queria que eles adiantassem o casamento.

Estava pensando nisso enquanto colocava meio quilo de pão para a senhora à minha frente. Desde o acidente de John as pessoas me olhavam com menos ódio e nojo e mais pena.

O problema é que aquela não era uma decisão minha, Ester deveria decidir se queria casar com ele ou não. Seria injusto retirar essa escolha dela, além disso já havia falado com Pá. Conversaria com Elise para saber se ela concordava com essa ideia, então resolveríamos isso.

-Quer almoçar aqui?_ Perguntou Beto enquanto eu arrumava o balcão e me fazendo pular de susto.

-Desculpa, não queria te assustar.

-Tudo bem.

Beto estava vermelho. Não entendi o motivo, já que já tínhamos nos agarrado algumas vezes.

-Depende, vamos comer o quê?

Ele sorriu.

-Estava pensando em fazer uma torta salgada.

-Parece ótimo, vou aceitar.

Beto estava visivelmente feliz com minha aceitação ao seu convite. O que ele queria comigo? Sexo ou algo mais? Esperava que fosse apenas sexo, minha vida já estava bastante complicada.

Quando o horário de almoço chegou fechamos a porta da frente e nos sentamos nos banquinhos na parte de trás da padaria. Beto serviu meu prato e para minha surpresa havia vinho para acompanhar a comida.

-Uau, por que tudo isso?

Beto ficou vermelho mais uma vez e eu sorri para ele.

-Queria fazer algo especial, esses dias têm sido difíceis para você, então queria que tivesse algo alegre entre todas essas situações ruins.

Pensei na perda do meu filho e meus olhos se encheram d'água. Sorri para o homem à minha frente, agradecida.

-Muito obrigada, foi muito delicado da sua parte.

-Miau.
(Se eu soubesse que queria algo especial poderia ter providenciado e seria muito melhor do que um jantar atrás da padaria.)

O mais importante não era o que ele havia feito, mas o gesto em si. Além disso, eu nem precisei dizer nada para Beto e ele havia feito isso para mim. Mas desconfiava que Riwty não entenderia isso.

-Bolinho, volte para a taverna.

O gato apenas se sentou, olhando feio para mim e Beto. Meu chefe apenas riu.

-Deixe ele.

Beto se levantou e colocou leite em uma vasilha para o gato beber. Bolinho, como o guloso que era, bebeu imediatamente. Depois a criatura ainda me dizia que eu comia feito um porco. O sujo falando do mal lavado.

-Como John está?

-Melhorando.

-Miau.
(Infelizmente.)

Fiz um esforço para não fazer uma careta para o gato.

-Vi sua irmã mais velha outro dia, ela não parecia nada bem.

-Ela não está. Ester ficou muito assustada com o que aconteceu, isso a fez pensar sobre a vida.

-Miau.
(Ela está no meio de uma crise existencial.)

-O que você quer, Bolinho?

Disse, para disfarçar.

-Miau.
(Participar da conversa.)

-Acho que ele está com fome. O que o seu gato come?

-Frutas e carne. 

-Vou procurar algo para ele.

-Você nunca vai terminar de comer se tentar atender todos os miados do Bolinho, ele mia o tempo todo.

Beto sorriu e colocou mais um prato com carne moída para o bicho.

-Miau.
(Pelo menos ele se importa comigo.)

Aproveitei que Beto ainda estava de costas e revirei os olhos.

-Pronto, se ele miar agora deve ser apenas para participar da conversa.

Tentei sorrir inocentemente, mas não sei se consegui controlar minha expressão de medo e choque.

-Não fique assim, seu fae estava sendo muito óbvio. Mais cedo ou mais tarde eu reconheceria os sinais.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora