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Desci para o café da manhã, mas o lindo empregado de tranças me parou.

-Você pensou no que eu disse?

-Sobre?

-O gato, aquele animal é o mal encarnado.

Tentei transmitir a aparência mais descrente possível.

-Eu sei que algumas pessoas não gostam de gatos, mas não compartilho dessa opinião.

-Meu problema não é com gatos, é com aquele bicho especificamente. Você deveria afogá-lo.

Fiquei desesperada, se Riwty morresse eu morreria e se ele tentasse matá-lo e não conseguisse, acabaria morto.

-Ele é meu bichinho de estimação, é quase da família. Espero que não tente fazer nenhum mal a ele fora da minha presença. A senhora Lint também gosta muito do Bolinho.

O homem levantou a sobrancelha ao perceber que Bolinho era o nome do mal encarnado. Quase ri ao perceber que o nome realmente não combinava com Riwty.

-Tudo bem, senhorita, mas ficou avisada.

Estava irritada e nervosa, com um pouco de medo também.  Vi o empregado virar as costas e sair. Nesse momento senti algo peludo roçar minha perna.

-Miau.
(Está tudo bem? Conseguia sentir seu medo lá do quarto.)

Saber que ele podia ler minhas emoções me incomodava, principalmente porque não podia fazer o mesmo, já que ele sempre levava aquela cara de deboche.

Peguei Bolinho no colo e entrei na primeira sala vazia que achei. Tranquei a porta e percebi que era uma biblioteca. Ela era muito maior do que a da minha vila, uma biblioteca particular que atendia um casal era maior do que a que duas centenas de pessoas usavam. Deveria haver milhares de livros ali.

Devo ter perdido a noção do tempo encarando aquela quantidade absurda de livros, porque o gato pulou do meu colo e Riwty apareceu na minha frente, tampando minha linha de visão.

-Então, o que te assustou?

Ele não tinha a expressão debochada de sempre, estava muito sério e com o olhar frio. Isso me assustou muito, tanto que demorei alguns momentos para formular a frase.

-Aquele empregado que não gosta de você falou que eu deveria te afogar. Tenho minhas suspeitas de que ele possa tentar te matar.

Seu olhar se suavizou um pouco.

-Não se preocupe comigo, consigo me defender.

-Eu sei, mas me preocupo do mesmo jeito, já que minha vida depende da sua. Além disso, acredito que você o mataria se ele tentasse algo contra você. 

-Claro, seria em legítima defesa.

O olhar sarcástico havia voltado e isso me deixava mais confortável.

-Em legítima defesa do seu estômago.

Riwty gargalhou, me aproximei correndo e tampei sua boca com a minha mão. Aquilo fez com que ele parasse de rir. Percebi que estava perto demais e tentei me afastar, mas ele segurou minha cintura e me manteve ali.

Riwty mordeu minha mão e aquilo mais a proximidade estavam me deixando maluca. Ele tirou minha mão de sua boca e sussurrou em meu ouvido:

-Você não precisa arrumar tantas desculpas, sei que ficou preocupada por mim.

Em um piscar de olhos ele voltou a ser um gato e por algum motivo eu me sentia insatisfeita. Eu não precisaria nem investigar para descobrir qual era, estava apenas fingindo não ver.

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Capítulo curtinho, mas deixei assim para não misturar os pontos.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora