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Senti como se meu chão tivesse sido arrancado de mim. O medo invadiu meu peito dez vezes mais forte do que quando Gregório desconfiou de um fae.

Minha irmãzinha poderia ser torturada e provavelmente morreria. Não podia deixar isso acontecer. Tenho certeza que conseguiria convencer Matias a se casar com ela. Pablo e ele me devem isso, afinal. Conforme a ideia foi tomando forma a decepção me atingiu. Ela só tinha 14 anos, faltava um ano e meio para que pudesse se casar com autorização de Ester. A chance de ser descoberta antes disso era muito grande.

Além disso, não era justo. Já bastava eu me casar sem amor e menor de idade por causa dessa lei estúpida. Não. Eu convenceria Riwty a me ajudar. Não desistiria até que ele fizesse esse favor. Trocaria toda a minha alma pela segurança das minhas irmãs. Aceitaria qualquer coisa, qualquer preço. 

-Nós vamos dar um jeito, tudo vai ficar bem.

Abracei Elise com força, sem deixar nem um centímetro entre nós. Ela chorou em meu ombro e  senti meus olhos ficarem embaçados. Eu embalei minha irmã, balançando-a para um lado e para o outro. Elise era a melhor de nós três, não era justo que isso acontecesse com ela. A menina só tinha 14 anos. Comecei a chorar com força e a apertei ainda mais.

-Vo, você está com raiva de mim?

-Nunca, meu amor. Você não fez nada de errado. Seu amor não é feio e não merece o ódio que nossa sociedade destila em pessoas diferentes. Tudo vai ficar bem, eu prometo. Não vou deixar ninguém te machucar. Precisamos falar com Ester também.

Eu a puxei para a cama e ficamos deitadas abraçadas como se uma fosse a âncora da outra, o que acho que era verdade. Olhei para a parede e vi bolinho me olhando com entendimento nos olhos. 

"Você aceita que eu mude a lei contra transviados?"

Falei o mais baixo que podia para que Elise não ouvisse. 

-Aceito.

Quando a última letra saiu dos meus lábios senti como se todo o meu ar fosse puxado de mim. Consegui ver uma corda prateada grossa ligando meu peito ao de bolinho, eu conseguia sentir todas as suas emoções, sua satisfação, seu desejo e algo que preferi não definir. Então o gato sorriu. O. GATO. SORRIU.  Aquilo foi extremamente assustador e a satisfação maliciosa cobriu todas as emoções de Riwty. 

"Precisamos montar um plano."

"Sei disso."

"O príncipe, quem verdadeiramente governa esse país no momento, também foi escolhido por uma fae. Isso torna tudo mais difícil, mas conseguirei fazer. Um fae é obrigado a cumprir qualquer favor prometido."

"O que acontece se ele não cumprir?"

"Depende do tamanho e dificuldade do favor, quanto mais fácil menos consequência vai ter, o fae pode substituir um favor por outro que esteja no mesmo nível, mas um muito difícil que não tenha substituição pode causar a morte da minha espécie."

Aquilo me assustou, nunca imaginei que a sua própria mágica pudesse matá-los.

"Afinal, fomos nós que escolhemos oferecer o favor, então a culpa é inteiramente nossa."

Nesse momento quase me arrependi de ter pedido aquilo para ele, afinal Riwty poderia morrer e eu continuar com o mesmo problema e ainda sem ele. Por mais que tenha me ressentido dele no começo, jamais desejei sua morte. Atualmente gostava muito de sua presença e até o considerava um amigo.  Senti  novamente nossas emoções interligadas e assumi que éramos mais do que isso, só ainda não sabia o que. Mas foi só olhar para o rosto adormecido banhado em lágrimas de minha irmã que decidi que o risco valia a pena. Riwty tinha condições de sobreviver e se defender muito maiores que uma garotinha meiga de 14 anos. 

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora