O dia seguinte chegou sem nenhuma notícia de Riwty. O puxão era muito incômodo, mas precisei seguir assim mesmo.
Enquanto me vestia não consegui deixar de olhar para a minha barriga. Mas aquilo era ridículo, eu tinha muitos anos para engravidar.
Segui para a padaria e vi Richie jogado no chão com uma poça de vômito ao redor do rosto. Era um desperdício, disseram que ele começou a beber subitamente. Fui até lá e o cutuquei.
-Richie, Richie.
O homem fedia, os cachos ruivos caídos no vômito e baba seca ao resor da boca. Esse homem não tinha família? Ninguém para cuidar dele? Por que ainda vendiam bebida para ele? Ia perguntar para Pá.
-Richie, Richie.
Sacudi seu ombro com força. Ele abriu os olhos, do mesmo tom de verde que os meus.
-Miau
(Ele tem o mesmo cabelo e os mesmos olhos que você.)Não respondi àquilo que era óbvio.
Richie se ergueu aos poucos até ficar sentado.
-Você precisa de alguma coisa?
-Não, só queria te tirar do próprio vômito.
-Obrigada.
Ele esfregou o a boca com as costas da mão e uma onda de repulsa me atingiu. Tentei sufocar aquilo, afinal ele não fazia mal para ninguém além dele mesmo.
-Miau.
(Não precisa ter vergonha de sentir nojo desse aí, é uma miséria mesmo.)Não retorqui que a miséria não era digna de desprezo porque Richie já estava acordado.
-Bem, vou indo.
-Obrigada mais uma vez. Também vou para casa.
Peguei bolinho no colo e saí sem olhar para trás.
-Miau.
(Não vi nenhum outro ruivo na vila além de vocês dois.)-É porque não tem outros.
-Miau
(Seus pais eram ruivos?)-Não.
-Miau
(Nenhum dos dois?)-Não.
Quando olhei para baixo, Bolinho me encarava com uma expressão enigmática. Não tinha a mínima intenção de me perguntar o motivo daquele interrogatório.
-Por onde andou?
-Miau.
(Por todo lugar e lugar nenhum.)Bufei. Finalmente chegamos à padaria. Abri o balcão e soltei o gato.
-Oi Ellie.
-Oi Beto.
-Trouxe seu gato.
-Miau.
(Desconfortável com a minha presença, padeiro?)Realmente, Beto fazia uma cara estranha para Bolinho.
-Quer que eu o leve de volta para casa ou o deixe na taverna?
-Miau.
(Você não ousaria!)Esse miado foi mais agudo e definitivamente parecia indignado. Beto arregalou os olhos e encarou o gato.
-Ele realmente parece nos entender.
Comecei a suar frio. Esse fae desgraçado ia ser descoberto e eu ia perder a cabeça, literalmente.
-Ele é muito estressado, só isso.
O olhar de Beto ficou desfocado por alguns segundos e ele concordou com a cabeça.
-Gatos são animais imprevisíveis mesmo.
Eu odiava quando ele fazia isso, parecia que todos os humanos eram apenas fantoches nas mãos dos faes. Provavelmente nós éramos apenas isso mesmo.
Fiquei imaginando que qualquer outro fae poderia fazer isso comigo, ou até mesmo Riwty. Um arrepio veio com a ideia. Mas, eu poderia pedir para Riwty resolver isso. Eu realmente nunca tinha parado para pensar nas possibilidades que ser escolhida por um fae trazia.
Seguido a isso veio a lembrança de Beto me contando sobre como as pessoas ficavam loucas depois da passagem dos faes na vida delas. Eu não podia depender de Riwty para tudo, até porque ele podia simplesmente negar como fez com o último pedido.
Mas ele tinha me dado alguma magia, que era algum tipo de proteção contra os faes. Poderia usar isso para proteger a mim e minha família.
Era assustador ver como ter seus desejos atendidos subia à cabeça.
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Aceito
FantasyOs fae são criaturas da floresta, lá eles vivem e predam. Porém, quando escolhem um humano a vida do mortal muda para sempre, pois ganhará todos os favores que quer do fundo do coração. Porém, a lenda também diz que esses favores têm um preço, a alm...