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Entramos na lojinha e eu fiquei espantada com a quantidade e variedade de tecidos ali dentro. Rolos e rolos estavam guardados nas prateleiras, amostras de fitas, rendas e botões ficavam embaixo dos vidros dos balcões.

Era o sonho de qualquer costureira, se eu pudesse levaria vários e faria milhares de coisas para mim e minhas irmãs. Infelizmente eu não tinha dinheiro para isso e estava contando com a caridade de Pá para fazer meu enxoval. 

-Olá, em que posso ajudá-las?

A vendedora usava uma blusa rosa com rendas e uma saia azul escura. Seu cabelo ruivo estava preso em um coque com vários cachinhos soltos do penteado. Ela parecia uma boneca de porcelana, sua pele tinha bem menos sardas que a minha, mas isso era minha culpa por não usar chapéu.  Ela era uns quinze centímetros mais baixa que eu e bem mais magra, dando uma aparência de fragilidade. 

- Olá, eu queria saber se a Marie teria tempo para mim e essas duas meninas hoje.

-Senhora Lint, não tinha te reconhecido ali. Eu estou sem meus óculos. Acredito que ela tenha tempo para vocês sim, mas vou lá confirmar.

A mulher ao meu lado riu e balançou a cabeça.

Eu não conseguia parar de olhar todos aqueles tecidos, tinha vontade de correr a mão por eles e sentir a textura. Eu não conhecia vários daqueles panos, o que me deixava ainda mais animada. Voltei meus olhos para o vestido curto da vitrine, ainda espantada com o fato de que elas andavam com as pernas de fora. Será que elas usavam meia calça? Não conseguia imaginar ninguém andando com as canelas completamente nuas. 

Como se para esclarecer minhas perguntas, a mulher mais estranha que eu já havia encontrado saiu de uma das cabines. Ela era extremamente alta, com a cabeça raspada e usava uma argola que fazia sua boca pender para frente. Usava um vestido curto e suas pernas estavam nuas, nenhuma meia. A pele dos braços e das pernas era recoberta de tatuagens circulares. Conseguia imaginar facilmente uma pessoa como ela sendo morta simplesmente pela aparência em minha vila.

Eu tentei não arregalar muito os olhos, mas acho que não consegui. Ela por sua vez também me encarou espantada. Fiquei nervosa quando ela veio até mim e pegou uma mecha do meu cabelo.

-Eu conto nos dedos as vezes que vi pessoas de cabelo vermelho e hoje eu encontrei duas. 

Com isso, ela simplesmente foi embora, me deixando paralisada pelo choque.

-É bom quando nos dizem que somos especiais, não é?_ Falou a senhora Lint. 

-Aquela mulher era de Právia?_ Perguntou minha irmã.

-Sim.

-Todas elas raspam o cabelo e têm tatuagens?

-Todas as que eu vi raspavam alguma parte dele, mas essa é a primeira vez que vejo com a cabeça inteira assim. Quanto às tatuagens, essa tem uma quantidade bem comum, já vi algumas que tatuaram o rosto quase todo.

Aquilo me lembrou da festa das  meninas e em como Riwty desenhou todo o meu rosto. 

-A verdadeira novidade para mim foi aquele aro na boca.

A senhora Lint e Ester pareceram se perder em pensamentos, provavelmente pensando em que mais havia de estranho na cultura daquelas mulheres. Eu só conseguia me lembrar de que eles estavam refugiados em nosso país porque os fae estavam massacrando toda a sua população. Pensando por outro lado, foram os humanos que decidiram exterminá-los. Porém, os fae mataram idosos e crianças, qualquer inocente. Se bem que os humanos teriam feito a mesma coisa se pudessem. Será que Riwty estava nessa guerra antes de me encontrar? ao pensar nele virei a palma da mão.

-O que é isso?

Ester segurou minha mão e ficou encarando a marca, a senhora Lint veio logo após para ver do que se tratava.

-É apenas uma queimadura.

-Isso não parece... Sim, você se queimou naquele dia quando pegou os biscoitos no forno.

Quando olhei para o rosto de Ester ela estava com o olhar vidrado, Belinda tinha a mesma expressão. Quando consegui abaixar a mão, percebi que a marca parecia realmente uma queimadura. Agradeci mentalmente a Riwty. 

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora