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Não, não, não, não, não, não, não. Eu estava perdida, completamente perdida, meu condado era praticante da religião unificadora, eu seria decapitada. Aqueles olhos pareciam ler todos os meus pensamentos, mas mesmo assim o fae sorria docemente para mim. Se ele realmente entendesse o que se passava na minha mente, aquele sorriso demonstrava que era uma criatura sádica.
-Você não pode me escolher, eu não aceito.
-Sinto muito, mas não é uma opção. Eu já fiz minha ligação e agora você me terá te seguindo por aí.
-Você não pode fazer isso, eu serei morta.
-Te seguirei na forma de um animal.
-Que animal?
-O coelho, que é minha forma animal de origem.
Minha cabeça rodava, não fazia ideia do que era uma forma animal de origem. Enfiei a cabeça entre os joelhos e comecei a respirar fundo, o fae sentou perto de mim e tentou segurar minha mão.
-Não encoste em mim._ falei gritando e levantando rapidamente.
Senti tontura e precisei me apoiar em uma árvore, para meu horror era a linda planta prateada, tirei a mão correndo. O fae, Riwty, acho que era o nome dele, riu de mim.
-Acalme-se humana.
-Eu posso e provavelmente serei morta, não consigo me acalmar. Eu deveria matar você.
Sabia que não conseguiria fazer isso, não sabia lutar e aquele homem era muito mais alto que eu e parecia bem mais forte, mas tentei parecer ameaçadora. O que consegui foi um sorriso de pena do fae, eu não aguentava mais os sorrisos dele. Criatura debochada.
-Você acabaria morrendo do mesmo jeito, como disse, eu fiz a ligação. Vamos, tente ferir meu braço.
Uma faca de osso apareceu em sua mão, não confiei nele, aquilo podia ser algum truque. Peguei minha faca de cozinha que carregava na bota, minha grande arma, e apontei para ele.
-Vamos, corte meu braço.
Ele estendeu o longo braço na minha direção, as mãos pareciam macias e conseguia ver algumas veias esverdeadas mesmo por baixo da pele escura, Riwty era lindo.
Foquei minha raiva acumulada de todos esses dias e cortei profundamente o braço do fae, sangue verde brotou de seu corpo ao mesmo tempo em que eu gritava.
Um talho apareceu no meu braço esquerdo então eu pressionei para diminuir o sangramento.
O fae passou a mão por seu braço e seu corte sumiu, esperei que o mesmo acontecesse com o meu, mas continuei sangrando.
-Mas Você não disse que estávamos ligados? Por que eu não me curei?
-Eu te liguei a mim, não o contrário. Se eu morrer durante a ligação, você morre, mas o contrário não acontece.
-Quanta justiça. Eu estou sangrando.
-Você poderia ter feito um corte menos profundo, ou simplesmente acreditado em mim.
Franzi os olhos para ele, levantei a saia de cima, o que me rendeu uma sobrancelha levantada do fae e cortei uma tira da anágua. Enrolei meu braço com o pano branco e encarei o homem, uma péssima escolha, os olhos de Riwty pareciam girar e eu não conseguia me desviar deles, não sei quanto tempo passei naquele estado até que sua risada me trouxe de volta para o mundo real.
Enrubesci de raiva.
-Você não quer saber como nossa ligação funciona? Talvez já saiba.
-A única coisa que quero saber é como faço para me livrar de você.
-Você precisa aceitar um favor.
Aquilo me gelou. Será que daria um pedaço da minha alma para ele se fizesse isso? Melhor que fosse apenas um pedaço.
-Apenas um?
-Pelo menos um, depois perguntarei se quer que eu vá embora e você poderá me dispensar ou não.
-Claro que vou.
Riwty sorriu como se soubesse de algo que eu não sabia e eu quis socá-lo.
-Vamos, bata em mim.
-Você consegue ler minha mente?_ perguntei assustada.
-Não, apenas suas emoções, mas suas expressões são tão transparentes que nem precisaria disso.
Enrubesci novamente, sentindo a raiva borbulhar.
-Viu, muito óbvia.
Avancei para estapeá-lo, mas ele segurou meu pulso.
-Vai sentir dor se fizer isso.
Desvencilhei-me dele e respirei fundo três vezes, não ia chorar, não agora.
-Então qual é o favor que vai me oferecer?
-Não é agora, ofereço quando eu quiser.
-Então estou presa com você até que decida o contrário?
-Exatamente.
Gemi de frustração e me joguei na grama. O fae se jogou ao meu lado e senti o cheiro de pinha invadir meu nariz.
-Seu nome significa alguma coisa?
-Outono.
Analisei a aparência de Riwty e percebi que combinava bastante com ele. O fae ainda sorria e seus caninos alongados brilhavam. Inconscientemente estendi o dedo em sua direção. Sua boca parou de sorrir e ele segurou meu pulso.
-O que pensa que está fazendo?
-Queria saber se é afiado.
Dessa vez corei de vergonha mesmo. Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.
-É afiado sim.
Então ele abriu a boca e espetou levemente o canino no meu dedo indicador, sangue brotou dali. Ele soltou minha mão, lambeu o dente manchado e soltou um gemido.
-O sangue de vocês humanos é simplesmente o melhor e olha que eu sou apaixonado por ovelha.
Meu coração parou e eu sentei abruptamente. Comecei a imaginar todas as formas que eu poderia acabar morta com essa situação.
-Calma, não podemos machucar os humanos ligados. Claro que a partir do momento que me mandar embora não tenho mais nenhuma obrigação contigo.
Seu sorriso dessa vez era demoníaco.
-Você poderia sorrir menos, por favor?
O rosto do fae mostrou certa confusão e depois divertimento.
-Por que, humana?
-Seu sorriso me incomoda e meu nome é Ellie.
-Prazer, Ellie.
Ele não parou de sorrir.

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