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Bolinho estava na sala de Pá quando cheguei ao terceiro andar. Peguei o gato no colo e fui para o quarto de Pablo com ele, tranquei a porta atrás de mim e esperei o fae me contar o motivo de não poder ir atrás do sacerdote.

Riwty voltou para sua forma humanoide e se deitou na cama. Andei até ele e me sentei ali, olhando fixamente para o fae.

-Está me encarando pela minha beleza ou quer falar algo?

-Você ficou de me contar o motivo de não poder ir atrás dele quando ele estivesse em casa.

-Ah. Isso.

Riwty olhou para o lado com uma expressão que misturava tédio e irritação.

-Não posso ir porque não conseguiria entrar.

-Como não?

-Eles usam proteções, além de terem armas contra nós.

-Armas? Existe uma específica para matar vocês?

-Se cortarem nossa cabeça nós morremos.

-Mas isso qualquer um pode fazer. Existe algo diferente?

-Sim, mas nós não saímos contando por aí.

-Bem, já que sua morte é a minha morte, não há razão para não me contar.

Ele respirou fundo, visivelmente irritado. Riwty passou algum tempo olhando para o nada e achei que não iria responder, mas finalmente abriu a boca.

-Nós não morremos com algo enfiado no nosso coração a não ser que fique preso lá, nos curamos muito rápido. Então o jeito mais eficiente é cortar nossa cabeça ou nos atacar em nossa forma animal, quando estamos mais indefesos. Se ficarmos gravemente feridos não conseguimos fazer qualquer mágica, nosso corpo se concentra em se curar. Por isso, os faes reais quase nunca se transformam em animais, pois sua forma prateada deixa claro que não são comuns.

Até agora ele não tinha falado sobre a tal arma. Será que achava que ia me enrolar até eu esquecer?

-Além de tudo isso, qualquer arma banhada na seiva da árvore sagrada é muito mais letal. Morremos instantaneamente se uma flecha envenenada com isso atingir alguma área essencial como a traqueia ou o coração. Se for apenas um corte, aquilo age como um veneno. Aquilo é extremamente tóxico e alguns usam como alucinógeno. De tempos em tempos essa seiva escorre sem precisar fazer cortes na árvore. É quando recolhemos.

-Nunca ouvi falar disso.

-Os humanos que sabem não compartilharam a informação.

-E quem sabe sobre isso?

-Não tenho como saber de cada indivíduo, mas sei que a igreja unificadora tem o conhecimento disso.

-Por que eles não compartilham isso com o mundo?

-Provavelmente para ser uma vantagem estratégica. Não entendo a cabeça daqueles monstros.

-Nossa quanto ódio.

-Você não sabe tudo o que eles fazem.

-Conta então.

-Eles sequestram os filhos de fae com humanos.

-Nem sabia que vocês tinham filhos.

-Nossa espécie não têm muitos, por algum motivo é difícil, mas com humanos é mais fácil. Tiveram casos de mulheres faes que queriam muito ser mães e procuraram humanos apenas para isso.

-Caramba. E depois?

-Abandonavam os humanos e normalmente eles ficavam loucos.

-Mas eles são bem aceitos?

-Não, mas essas mulheres estavam mais preocupadas em terem a sensação de serem mães do que com os filhos.

-Você disse que os faes são muito discriminadores, estranho isso ser permitido.

-Por um tempo foi, atualmente não é mais. Só que estão querendo permitir novamente.

-Por quê?

-Colocar os meio faes como soldados em nossas guerra. A morte deles não seria uma grande perda.

-Que horror.

Riwty apenas deu de ombros. Pensei em tudo o que ele disse e percebi que não entendia o motivo do sequestro das crianças meio faes.

-Por que a igreja unificadora sequestra aquelas crianças?

-Alguns motivos. As vezes para fazer experiências, as vezes para usar a magia que algumas delas têm e até para comerem em alguns rituais.

-Comer?

-Sim, segundo eles um tipo de justiça, já que vários de nós comem humanos.

-Que horror.

-Sim, por isso os homens fae que engravidam humanas são obrigados a algo para que elas abortem. Para não correrem o risco de que os filhos sejam sequestrados, o rei decretou isso.

-Não faz sentido, ele não liga para essas crianças. Por que se importar então?

-Porque não sabemos o que pode ser usado contra nós com os poderes dessas crianças e pelo orgulho também.

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