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Olhei Riwty comer, talvez não sobrasse nada para Elise e eu achei que aquilo dava para uma semana. Quando vi que tinham apenas dois de cada coisa mandei o fae parar de comer.

-Vou guardar esses para as minhas irmãs. Falando nisso, preciso ver como Ester está.

-Provavelmente mal, tanto que duvido que vá comer isso aí. Então você pode guardar só para Elise e me dar os outros.

Fuzilei Riwty com o olhar, ele apenas sorriu maliciosamente.

-Então, entre o apressadinho e o poeta, qual você prefere?

-Quem?

-O lenhador e o padeiro._ Ele disse revirando os olhos.

-Em que sentido?

-Estava perguntando em relação à questões físicas, mas pode falar sobre tudo se quiser.

Levantei com a comida nas mãos e fui embrulhar em cima do balcão da pia. Aproveitei que não via o olhar do fae para pensar. Então me virei para dar a resposta.

-Em questão física eu não sei dizer, são estilos diferentes, ambos agradáveis, mas estilos diferentes. Enquanto Felipe é mais agressivo, Beto é mais doce, paciente. Os dois são bons.

Riwty sorriu mais ainda, parecendo malignamente satisfeito. Como um gato que engoliu um passarinho.

-Só o fato de você usar as palavras bom e agradável para descrever o sexo com eles já fala muita coisa.

-Por que bom e agradável não seria positivo?

-Porque é pouco.

-O que você usaria para descrever nosso beijo?

Corei até o dedo do pé, mas não ia dar esse gosto para ele.

-Razoável, bonzinho.

Infelizmente seu orgulho não ficou ferido, ele apenas veio até mim e me prensou contra a pia.

-Então eu acho que preciso melhorar.

-Não gostaria de repetir a experiência.

-Se foi bonzinho não foi ruim o suficiente para você não querer outro.

Ele falava cada vez mais perto, suas mãos envolvendo minha cintura.

-Mas se tem melhores...

-Acho que mereço uma segunda chance.

Agora ele falava quase contra à minha boca. Aquele cheiro de floresta era maravilhoso. Uma mecha daquele cabelo lindo e longo caiu em seu rosto, então eu o afastei, era tão macio que escorri minhas mãos por ele. Riwty fechou os olhos com meu toque.

Ele roçou o nariz contra o meu e eu ja inclinava minha boca em sua direção quando um barulho veio do lado de fora. Pulei ao mesmo tempo em que ele se transformava em gato, mas ninguém apareceu.

Virei de costas e respirei fundo, esfregando o rosto. O que eu estava fazendo? Tinha acabado de beijar Beto e agora tinha quase beijado Riwty, fora que pouco tempo antes pensava em voltar para Felipe. Socorro, o que isso dizia de mim?

Recuperei juízo suficiente para lembrar de pedir o que tinha pensado no caminho para casa.

-Riwty, eu queria te fazer um pedido.

-Que eu me lembre você já gastou o que tinha.

Ele estava encostado no balcão com um olhar ligeiramente perdido.

-Mas você não está aqui para fazer favores para mim?

Sua expressão mostrou raiva por um momento, então pensei que tinha abordado o assunto do jeito errado, mas como logo passou resolvi seguir em frente.

-Eu escolho os favores que quero oferecer e você decide se aceita ou não. Você não pode exigir que eu faça nada, mas peça, se eu gostar eu realizo.

Mordi a boca com nervosismo, meu futuro dependia daquele pedido.

-Eu pensei hoje que você poderia tornar legal o comportamento dos tranviados.

O rosto do fae só mostrava tédio quando disse aquela única palavra.

-Não.

-Mas por quê?

-Porque não me interessa.

Raiva subiu em mim e não foi apagada como das últimas vezes, o que me surpreendeu. Riwty disse que era mais difícil ficar com raiva ou mágoa dele porque em algum nível meu subconsciente entendia seus motivos. A raiva não sumiu dessa vez porque provavelmente ele não tinha motivo nenhum que justificasse aquela negativa, o que só me deixou com mais raiva.

-Agora eu que te pergunto, por que agora?

-Como assim?

-Bem, pensei que seria seu primeiro pedido quando falei que havia te escolhido. Depois pensei que a justificativa para não fazer era o medo de perder a alma e seu desespero para que eu fosse embora. Mas depois teve aquela menina e depois de ter feito um pedido e supostamente ter comprometido sua alma, achei que seria o momento, ainda mais depois de ter visto o resultado da tortura que eles passam. Enfim, a cada momento que eu achei que pediria, você não pediu. Por que agora?

A vergonha me atingiu subitamente, não adimitiria para ele que não tinha pensado nisso. Nesse momento me senti a mais burra das criaturas. Sempre pedi coisas para resolver um problema imediato, nunca pensei mais a frente. Analisando minha vida percebi que sempre fiz isso.

-Adoraria saber o que se passa nessa sua cabeça para ter ficado com tanta vergonha.

O sentimento só aumentou com esse comentário.

-Se eu te contar ganho um pedido?

-Não. Você está livre agora, não está mais grávida, se não quiser se casar não se case.

-Mas e Pablo?

-Se quer saber a minha opinião ele nunca deu valor ao que você fez, sempre se agarrando com o parceiro em qualquer lugar que pudesse ser visto e te forçando a se humilhar cada vez mais para protegê-lo. Ele que se vire.

Então Riwty virou fumaça e desapareceu, deixando aquele puxão desconfortável de quando estava longe.

AceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora