Eu havia deixado Mariane trancada, ela ainda estava deprimida. Corri para o andar de cima e fiz duas canecas de chocolate quente. Voltei apressada para o quarto e encontrei a garota dormindo. Não sabia se deveria acordá-la.
Coloquei a caneca dela na mesinha e comecei a tomar o meu, nem de longe era tão bom quanto o de Pá. Pablo bateu na porta e colocou a cara para dentro.
-Está tudo bem por aí?
-Sim, tudo tranquilo.
-Vovó pediu para te entregar algumas encomendas.
-Você tem as medidas aí?
-Não, mas busquei seu caderno de anotações e os tecidos têm o nome de cada garota.
-Tudo bem.
-Trouxe sua caixa de costura também.
-Obrigada pela ajuda.
-Não é nada.
Ele beijou o topo da minha cabeça e pegou a louça suja, deixando apenas o chocolate quente de Mariane.
Havia três cortes de tecido, um verde de cetim, um amarelo de seda e um azul também de seda. O azul era extremamente lindo, parecia o céu de inverno.
Vi a descrição dos modelos nos papéis de cada um e resolvi comecar pelo mais fácil. Era o tecido verde. Peguei o cetim e imaginei a peça pronta, um corpete justo, com um decote extremamente baixo, o colo dessa menina era muito bonito então ficaria perfeito. O decote teria um babado plissado que passaria abaixo dos ombros, deixando-os descobertos. O corpete teria seis faixas finas de renda preta, duas na frente, duas nas laterais e duas nas costas. A saia seria enorme e teria as faixas de renda continuando do corpete. Ela tinha pedido para eu fazer também uma cintura bordada em contas pretas. A renda e as contas seriam compradas depois e acrescentadas no preço final. O vestido seria lindo.
Coloquei os outros dois cortes dentro do meu baú e comecei a recortar o tecido. Já tinha feito um bom progresso quando lembrei de acordar Mariane para o chocolate quente, que já deveria estar frio.
-Mariane_ chamei balançando seu braço.
-Hm.
-Seu chocolate.
Ela bocejou e esfregou os olhos, aquelas grandes pedras negras me encaram sem foco por um momento, antes que ela acordasse totalmente.
-Está um pouco frio.
-Eu não consegui te acordar_menti envergonhada.
-Desculpa.
Sacudi a cabeça indicando que não era nada.
-Miau
(Você é uma mentirosa)Revirei os olhos e não respondi.
-Você precisa usar o penico?
-Eu gostaria sim, mas acho que consigo sozinha hoje.
-Tudo bem.
Entreguei o penico para ela e Mariane realmente conseguiu usá-lo sozinha, apesar da dificuldade. Tive que descer para esvaziar dessa vez, durante o dia poderia acertar alguém. Orientei Mariane a trancar a porta e ela fez isso sem questionar. Encontrei Pablo saindo do banheiro.
-Pablo, Mariane precisa tomar banho. Pode me ajudar a carregar água e a banheira?
-O quarto dela não tem tina?
-Não.
-Vou transferir uma para lá, precisamos comprar algumas coisas. Vou fazer uma lista e Pá vai aproveitar a viagem para a capital para comprar.
-Temos previsão para ir?
-Sim, daqui uma semana. Precisamos aproveitar que Beto está ajudando a vovó para fazer isso.
Concordei com a cabeça, sentia como se minha execução estivesse se aproximando. Eu só tinha dezesseis anos, não queria me casar agora. Meu sangramento não tinha vindo ontem, mas um atraso de um dia não era algo a se considerar.
Eu carreguei dois baldes de água quente enquanto Pablo carregava a banheira. Bati na porta e Mariane a abriu para nós.
-Pablo, pode buscar o penico para mim?
Ele desceu enquanto eu preparava o banho de Mariane. Mesmo que tivéssemos limpado seu corpo com panos molhados quando chegou, era diferente de um banho de verdade.
Quando Pablo deixou o penico no quarto, tranquei a porta e ajudei Mariane a se despir. Ela ficou na tina até a água começar a esfriar e eu força-la a sair pelo medo de que ela pegasse uma gripe.
O resto do dia passou tranquilamente, li para ela algumas vezes e costurei o vestido verde. Mariane me observava, parecia fascinada com o tecido tomando forma.
-Eu não sei costurar.
-Nossa, que incomum.
Todas as mulheres aqui da vila sabiam o suficiente para fazerem os próprios vestidos simples, até mesmo minhas irmãs, mas elas não gostam e o resultado é terrivel, então prefiro eu mesma fazer.
-O que você fazia na sua vila?
-Eu limpava a casa de um fazendeiro, não era muito interessante, mas eu não tenho nenhum talento.
-O que você gostaria de saber fazer?
-Tocar um instrumento.
-Minha irmã toca piano, não é uma grande vocação, mas a técnica dela é boa, ela acerta todas as notas. O único problema é que ela não aprende nada novo há muito tempo.
-Onde ela aprendeu a tocar?
-Na igreja, mas como ela saiu não tem acesso a novas partituras.
-Quem dera, mas Pá, meu sogro_ acrescentei vendo sua confusão_ tem um aqui, é bem velho, mas funciona. Quando Ester se casar com o filho mais velho dele, Pá vai dar o piano de presente.
-Muito gentil da parte dele.
-Sim, Pá sempre foi maravilhoso conosco.
Eu costurava uma parte difícil do corpete, então me distraí completamente e não vi Bolinho comendo minha linha verde.
-Ellie, seu gato está comendo sua linha.
-Bolinho_ ralhei com ele_ isso custa dinheiro.
-Miau
(Eu faço outra para você depois, me deixe comer essa em paz.)Eu desisti, Riwty só fazia o que queria mesmo.
-Mariane, amanhã eu vou voltar para o trabalho e para minha casa.
-Ah, tudo bem.
-Eu te aconselharia a ficar na cozinha com Pá amanhã, para conhecer a rotina. Além disso, não se esqueça de manter a porta sempre trancada, aqui é uma taverna e sempre tem gente bêbada. Ah, tome cuidado com o filho mais velho de Pá, ele não gosta de pessoas como você.
O olhar dela endureceu.
-Obrigada, Ellie, você está sendo uma ótima amiga.
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Aceito
FantasyOs fae são criaturas da floresta, lá eles vivem e predam. Porém, quando escolhem um humano a vida do mortal muda para sempre, pois ganhará todos os favores que quer do fundo do coração. Porém, a lenda também diz que esses favores têm um preço, a alm...