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Tinha medo do clima entre mim e Riwty ficar estranho, mas ele continuou sendo o mesmo insolente de todos os dias. Por outro lado, eu me sentia esquisita. Não conseguia conversar com o fae e nem com ninguém, para falar a verdade.

-Miau.
(O gato não comeu sua língua, comi outra coisa.)

Fiquei vermelha como um pimentão e agradeci silenciosamente por Beto não entender o que Bolinho falava. Pensei em pisar no rabo do gato, mas sabia que sentiria o mesmo nível de dor. Mas eu não tinha rabo. Resolvi não arriscar e continuei trabalhando .

-Está tudo bem? Você está muito quieta hoje.

-Não é nada, Beto. Estou apenas pensativa.

O padeiro deu um leve sorriso para mim, passou a mão pelo meu rosto e me abraçou. Afundei naquela sensação familiar, no cheiro de doces e pão assando. O mesmo que Riwty dizia ser o meu. Provavelmente tínhamos um cheiro muito parecido.

Bolinho rosnou e veio até nós. Empurrei o gato com o pé e apertei Beto mais ainda. Eu me sentia uma bagunça. Porém, quando ele tentou me beijar, acabei me afastando. O gato chiou com o movimento do padeiro e eu me peguei olhando surpresa para ele. Riwty estava com ciumes? Com certeza não era isso, já que ele sempre espionava minhas transas. 

O gato olhou para o outro lado e saiu da padaria. Beto ficou visivelmente mais confortável longe do fae. Eu também me sentia assim na presença de Syara. Acho que me sentiria assim perto de qualquer outro deles. 

Beto tentou se aproximar novamente, mas acabou desistindo e passou a mão no rosto, se sujando de farinha. Então voltou para o forno enquanto eu levava mais coisas para o balcão.

O dia estava passando tranquilo, sem nada de diferente, até que o pai de Felipe e outros dois fiéis da igreja dele apareceram. Fugi para a cozinha e pedi para Beto atendê-los.

-Jeremiah está desaparecido. _Ouvi um dos homens dizer.

-Já realizamos buscas nas redondezas e nenhum sinal dele. Também não encontramos um corpo. É provável que tenha sido devorado ou caído no rio._ Falou o outro.

-Acredito que foi devorado, ele não bebia ao ponto de cair no rio._ Esse foi o pai de Felipe.

-Viram Richie e ele brigando na noite do desaparecimento.

Me encostei na parede para ouvir melhor. Ao mesmo tempo em que prestava atenção no relógio para não perder a hora de tirar os biscoitos do forno.

-Pelo unificador. Bêbado como Richie estava teria caído desmaiado com apenas um empurrão.

-Mas nessa época os animais maiores estão se recolhendo. Além disso, não vemos lobos na parte da floresta que ocupamos.

-Não estava pensando nesse tipo de animal. Pensei em um fae.

Arregalei os olhos e abafei meu som horrorizado com a mão.

-Por que diria isso? _ Perguntou Beto.

-Os animais da fazenda sumindo, alguns desaparecimentos foram relatados aqui na região.

-Mas os faes estão em guerra com Právia. O que eles fariam por aqui?

-Não sei, não entendo todas as motivações daquelas criaturas. É possível que alguém da região tenha sido escolhido por um. Vou falar com os outros sacerdotes para realizarem uma investigação.

Eu já estava sentada no chão, congelada em completo horror. Nesse momento Riwty apareceu ao meu lado, provavelmente tendo sentido minhas emoções.

-Você precisa sair daqui agora.

-Me explica o que está acontecendo.

-Shhh.

A voz do sacerdote foi ouvida mais uma vez e Riwty endureceu. Então segurou meu braço e sumimos em fumaça.


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