Riwty olhava tranquilo os detalhes da padaria, as vezes pegando algum doce e comendo. Fiquei com um pouco de raiva por ele estar desperdiçando o nosso trabalho, mas Beto parecia tão assustado que não falou nada.
-Eu tenho uma pergunta para os dois, se eu puder.
Concordei com a cabeça enquanto Riwty largava uma tortinha de amora por tempo suficiente para dizer sim.
-Tendo um fae na sua vida por que não pediu coisas grandiosas como enriquecer ou algo assim?
Dessa vez até o fae me encarou, como se curioso com a minha resposta.
-Bem, até pouco tempo atrás eu achava que estava perdendo pedaços da minha alma, então usei os favores para coisas que achei extremamente necessárias. Mesmo assim Riwty me deu alguns presentes.
-E agora que sabe que não está?
-Bem, creio que continuarei mais ou menos no mesmo nível. Não quero ficar cada vez mais ligada a ele.
Vi algo como mágoa passar pelo rosto de Riwty, mas logo desapareceu. Infelizmente ainda sentia levemente sua tristeza dentro de mim.
-Veja bem, nossas emoções estão interligadas, o que não me permite ter sentimentos negativos em relação a você e toda vez que se afasta muito sinto dor. Acho que tenho o direito de não querer me comprometer ainda mais.
-Sim, é verdade.
Depois da explicação a sensação em meu peito finalmente sumiu.
-Você é uma pessoa impressionante, Ellie.
-Eu não escolheria qualquer humano.
Revirei os olhos para o fato de Riwty ter de algum jeito roubado meu elogio.
-Agora que você sabe sobre nós eu tenho mais alguém com quem conversar. Vou passar os dias aqui na padaria a partir de hoje.
Eu não merecia isso e Beto menos ainda, mas o medo dele ainda estava visível, então sobrava para mim aparar as asinhas de Riwty.
-Não mesmo.
-Por que não?
-Você não tem motivo para ficar aqui.
-Mas eu quero e você não pode me impedir, além disso eu posso ajudar.
-Eu vou fechar a padaria, já estamos há algumas horas aqui e me sinto cansado. Acho que preciso digerir todas essas informações.
Olhei para o relógio da parede e vi que eram 15:30, realmente tínhamos perdido tempo. Riwty voltou a sua forma de gato e saiu em direção à floresta.
-O que quis dizer com sentimentos positivos, Beto? Riwty está apaixonado por mim?
-Não necessariamente, pode ser amizade ou admiração._ Respondeu ele dando de ombros.
Aquilo me tranquilizou um pouco, terminei de arrumar as coisas com ele e saí da padaria.
-Até amanhã.
-Até.
Vi um pássaro marrom em uma árvore e continuei andando. Esperava que ele não fosse muito óbvio me seguindo de perto, realmente se alguém visse aquilo não precisava pensar demais para chegar a alguma conclusão preocupante para mim.
Quando chegasse à taverna chamaria Elise para uma conversa, tinha quase certeza de que ela concordaria com a ideia de deixar nossa casa para John e Ester enquanto a fazenda não era reconstruída.
Reparei que muitas pessoas me olhavam feio e estranhei aquilo, elas tinham sido bem mais legais desde que John sofreu o acidente. Quando os sussurros vieram percebi que não aguentaria passar por todos os olhares na taverna e decidi ir para casa, indo pelo caminho mais vazio.
-Miau.
(Não ligue para eles, são idiotas.)Levei um susto com a aparição súbita de Bolinho, mas fiquei contente com sua frase. Peguei o gato no colo e continuei andando pelo caminho da minha casa.
-Ellie.
Felipe estava parado em frente ao meu portão. Tentei esconder meu desagrado, mas não sei se tive muito sucesso. Bolinho, por outro lado, chiou para ele.
-Oi, Felipe.
-Eu não quis acreditar no que disseram, mas vi com meus próprios olhos.
Apertei o gato com mais força contra mim. Todos tinham descoberto sobre Riwty?
-O que foi que você viu?
-Você e o padeiro trancados sozinhos na padaria.
O alívio tomou conta de mim, estava tão feliz que ninguém tinha me descoberto que demorei para sentir raiva.
-E?
-Como pôde fazer isso comigo?
-Do mesmo jeito que você frequenta o bordel.
Felipe se encolheu visivelmente.
-Não é a mesma coisa, elas não são nada para mim.
-Isso deveria me fazer me sentir melhor? Além disso eu não te devo satisfações. Se meu noivo não se preocupa com isso, você não deveria se preocupar.
-Pablo não te ama.
-Eu também não te amo. Nós não nos amamos, podemos ter nos amado um dia, mas não mais. Eu não posso continuar com essa situação, Felipe.
Tirei o anel do meu dedo e entreguei para ele.
-Para mim acabou.
-Não faça isso.
Vi que uma lágrima caía de seu rosto. Senti pena, mas não o suficiente para voltar atrás. Contornei seu corpo e ia entrar em casa quando sua mão apertou meu braço com força.
-Não saia assim, não terminamos de conversar.
Bolinho avançou em Felipe, que se afastou com um grito de dor.
-Acabamos sim.
-Miau.
(Se encostar as patas nela sem sua autorização mais uma vez vai ser a última coisa que vai fazer, apressadinho.)
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Aceito
FantasyOs fae são criaturas da floresta, lá eles vivem e predam. Porém, quando escolhem um humano a vida do mortal muda para sempre, pois ganhará todos os favores que quer do fundo do coração. Porém, a lenda também diz que esses favores têm um preço, a alm...