Prólogo - A morte marca

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No inverno de 1845 a pequena Cibelle Herveston sentada sobre a poltrona do pai esperava aflita por notícias. Sua mãe normalmente sempre tão tranquila e alinhada jazia nervosamente andando de um lado para o outro murmurando coisas desconexas e roendo as unhas sempre bem feitas. Seu aspecto também não era o dos melhores... A trança loira estava amassada pelo sono, os olhos inchados com a noite mal dormida e ao andar o roupão lhe mostrava os pés descalços. Nunca antes tinha visto sua mãe em tal estado, mas ela também não estava em melhor condições.

Fora acordada pelos empregados no meio da noite e agora estava na sala principal para fazer companhia, ou melhor para vigiar a saúde de sua mãe. Tinha sido instruída pela governanta a gritar pelos empregados caso ela desmaiasse ou fizesse qualquer coisa que pusesse sua condição em risco. 

Nos últimos dias a marquesa tinha se posto fraca, anunciando a todos que sonhos ruins lhe tiravam o sono e uma sensação inquietante tomava seu coração. Como uma mulher de crendices ela pedira a todos que tomassem cuidados em sua tarefas temendo algo que ela nem mesmo sabia.

Seu irmão e seu pai há muito já pegaram seus cavalos com alguns lacaios e a própria polícia numa tentativa louca de alcança-los e evitar que um escandâ-lo de proporções bélicas tomassem a família Crawford. A criada ao lado servia um chá calmante a qual a marquesa imediatamente recusou dispensando-a rudemente em seguida. Precisando se acalmar a caçula toma o chá que seria de sua mãe mesmo odiando aquele gosto amargo em sua boca. 

Com dez anos Cibelle estava saindo da infância para tornar-se uma adulta, mas ainda sentia-se uma criança e portanto possuía o paladar da tal. Gostava de coisas doces, especialmente os bolos que sua cozinheira favorita fazia. E assim como uma criança Cibelle não só não compartilhava os mesmo gostos dos adultos como também a compreensão de um. 

Não entendia porque estava ali ou o quão séria era a situação. Já que ninguém havia se incomodado em contar a garota sobre o que estava acontecendo, ela propositalmente pegava apenas trechos aqui e ali que os empregados sussurravam. Alguma coisa a ver com sequestro, um doutor, seu irmão e Anne... Falavam como Ethan estava furioso, de que previam um desastre já que o próprio em um ataque de raiva pegara a arma e chamara a polícia. Ele urrava segurando o cano prateado com força nas mãos, gritando aos quatro ventos que ele mesmo recuperaria a honra perdida nem que para isso precisasse tirar a vida do homem que ousou afastar Anne dele.

Sem aviso um grito horripilante atravessa toda a casa, arrancando a caçula de seus pensamentos e fazendo todos os ossos de seu corpo infantil gelar. Atenta Eleanor imediatamente disparara em direção ao grito, derrubando todo o jogo de chá no tapete importado. Cibelle não perdendo tempo apressou-se em acompanha-la até a entrada da mansão de onde vinha os gritos que sua governanta lançava. Ela cobrindo os olhos chorava inconsolavelmente em direção a porta. 

Lá os criados se aglomeravam fazendo uma parede que impossibilitava a pequena de ver o que acontecia. A centímetros de distância homens seguravam um pedaço de tábua gigante, seu pai gritava ordens para os empregados e a mãe tinha uma expressão horripilante no rosto, mas fora a visão de seu irmão coberto por sangue que finalmente assustou a garota. Sem se preocupar com decoro, Cibelle alarmada passou por entre as pernas dos adultos até chegar ao centro de tudo. Anos de arranhões com suas travessuras não preparariam Cibelle para o que estava por vir e a menina quase caiu para trás ao se deparar com a imagem da própria Anne em cima daquela tábua. 

O vestido de noite que ela usava havia sido reduzido a trapos sujos que mal lhe cobriam o corpo, os sapatos e as joias não jaziam mais ali, seu rosto imaculado estava sujo com manchas vermelhas que derramavam-se de forma descontrolada por ferimentos tão grandes quanto seus cabelos. Uma respiração fraca saia de seus pulmões de uma forma estranha, como se ela estivesse engasgada no próprio sangue e o ar fosse insuficiente a sua volta. Sentindo as mãos tremerem a pequena tentou se aproximar, mas uma mão grande rapidamente envolveu seus olhos e a impediu de continuar a ver a cena. Cibelle com lágrima nos olhos lutou para sair dos braços de seu pai, mas ele era visivelmente mais forte e segurava sem muito esforço a garota. 

A outra [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora