Anos de convívio com aquele líquido âmbar fizeram dele quase imune ao álcool. No passado, quando ele ainda não era forte o bastante para encarar nem os insultos do pai, bastava apenas alguns copos para o precioso amigo trazer seu gosto de felicidade. Hoje era necessário uma garrafa.
- Meu senhor, desculpe interromper. - Havia horas que o duque permanecia enclausurado em seu escritório somente bebendo e observando o fogo que vinha da lareira morrer.
- Fale logo, Frederic.
- As criadas expressaram uma certa preocupação com a duquesa e francamente eu também. - Mesmo que aquilo fosse impróprio e passível até de punição Joseph deixou passar a inconveniência. Empregados não se metiam nos assuntos de seus patrões, mas aquele velho o conhecia desde criança e se tivesse sentimentos suficientes para mais de uma pessoa por vez ele o teria considerado um avô. - Acontecera algo no seu retorno, meu senhor? A duquesa está bem?
- Eu não posso falar pela minha esposa. - Acostumado aos seus acessos de brutalidade o mordomo apenas acenara anunciando que o deixaria em paz. - Frederic, o que elas disseram?
Ocultando sua surpresa pela demonstração óbvia de preocupação no patrão, o velho buscou relembrar com exatidão todos as queixas preocupadas que as criadas lhe bombardearam até que ele desistisse de atuar como o mordomo discreto que fora treinado e agisse como um ser humano preocupado com alguém que sempre lhe ofertou o mesmo.
- Segundo a senhora Haden, ela não dera uma única palavra, não parecia em condições de tomar decisões e quando a tocaram para trocar suas vestes pelos trajes noturnos a duquesa teria as empurrado assustada.
Assim que seu relato acabou ele percebera um fagulha de emoção no patrão antes dele trocar o copo pela garrafa inteira do uísque que bebia.
- Vá.
- Meu senhor eu também tenho notícias sobre a missão que me dera. - Quando o duque o encarregara daquela tarefa Frederic achou no mesmo minuto que não encontraria nada e que logo poderia provar sua crença, mas graças ao seu conhecimento de cada brecha de Herveston Hill ele em poucos dias descobriu para sua infelicidade que fora um ingênuo.
- Informe-me depois, vou para a cama.
- Precisa de ajuda para trocar suas vestes?
- Não. Inferno, terei sorte se conseguir dormir esta noite. - Revelou ele com tanta amargura no rosto que por um momento o velho conseguira vislumbrar a duquesa falecida ali.
As vezes era perturbador pensar no que aquele garotinho sorridente transformara-se. Foram tantos os pedidos para que a escuridão que permeava aquela propriedade não corrompesse a inocência que ele tinha quando criança. Mas, nem mesmo todas as preces do mundo impediriam o inevitável... Os anos sem uma única amostra de amor haviam tirado o brilho nos olhos do menino e hoje Frederic não conseguia olhar para o novo duque sem ver os pais nele.
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A outra [FINALIZADO]
RomanceLivro I da trilogia "Amores inimigos" "Amar ela era como caminhar de encontro a minha própria condenação." A secretamente abolicionista Cibelle Herveston é a grande duquesa de Manchester. Bela, recatada e devota. Ela foi descrita até mesmo pela rain...