Os primeiros raios reluziam sobre a pele negra de Zarina que ajudava a duquesa com os últimos botões de seu novo vestido. Era uma rotina estranha para nobres que facilmente só acordavam depois do meio-dia, mas os duques de Manchester sempre despertavam antes mesmo do sol nascer.
- Já decidira que penteado minha senhora gostaria hoje?
- Zarina. - Advertiu ela repreendendo-a gentilmente pelo tom formal.
- Desculpe-me... Como devemos fazer seus cabelos hoje Cibelle? - Um sorriso pouco entusiasmado era perceptível nos lábios carnudos dela, mas isso pouco fazia para diminuir a animação de Cibelle naquela manhã.
- Nenhum! Decidi que hoje os quero soltos. - Anunciou ela lembrando dos elogios que ouvira durante todo o baile. Por causa da noite incrível que tivera ao lado de Joseph, ela sentia uma alegria tão juvenil que tinha vontade de sorrir para o mundo até que seus lábios se desfizessem.
- Vai deixar os cabelos soltos? - Repetiu Zarina descrente. Para uma escrava que nascera sem a imposição de fúteis costumes aquilo não era nada demais, porém era incomum que mulheres adultas - especialmente as brancas e de berço - não carregasse nas cabeças algum ridículo penteado elaborado.
- Vamos, é tão estranho eu querer estar confortável em meu próprio lar? Meu marido ficará fora o dia todo, não terei visitas e como sempre estarei no escritório do duque por toda a manhã. - Listou sorrindo.
- Mas, nem refizemos os seus cachos. - Preciptou-se ela estranhando aquele comportamento tão despreocupado na dona mais recatada que pertencera.
Atraída pelas palavras dela Cibelle olhou seu reflexo. Com certeza vitimas de sua movimentação sobre os travesseiros seus cabelos estavam mais ondulados do que cacheados fazendo-a recordar de seus tempos de criança quando sua mãe não se importava em deixa-los naturais.
Diferente de seu irmão que era uma cópia da mãe em cada detalhe, Cibelle havia herdado essa única característica física de seu pai, mas como a moda aclamava pelos cachos era uma regra social molda-los daquele jeito. Mas, na noite passada ficara tão cansada pelas inúmeras danças que dispensou todos os preparos noturnos e só tirou as peças necessárias antes de cair na cama e experimentar o sono leve que desde a morte de Anne não tivera.
Além de seus cabelos Cibelle reparou em seu vestido e se encantou mais uma vez com a beleza daquele tom de lilás. O corte simples brincava com as duas camadas de babados distribuídas elegantemente nas mangas curtas, em seu colo e um pouco sobre a cintura. Os bordados de lavanda, jasmin e outras flores brancas adornavam o vestido e davam um frescor que nunca vira antes em sua pele pálida.
Mas, o que definitivamente a surpreendera fora aquele tecido... Como a madame Joly prometera ele era tão leve que Cibelle quase sentira vontade de perguntar se estava mesmo adequadamente vestida sem precisar aguentar metade do seu peso em panos. Reparando que Zarina ainda aguardava ordens ela finalmente falara.
- Apenas prenda os lados com duas mechas. - Rendendo-se um pouco ela observou sua criada pegar apenas alguns fios de seu cabelo e os prenderem atrás de sua cabeça com um simples adereço de pérolas e ametista no centro. - Perfeito, obrigada Zarina! Imagino que queira logo voltar aos seus estudos. Hoje terei tempo, então se estiver de acordo adoraria ensina-la um pouco.
Pelo reflexo ela viu os olhos castanhos escuros erguerem surpresos.
- Jamais pediria isso a vossa graça. A senhora é uma duquesa e certamente deve ter coisas mais importantes a fazer do que ensinar uma escrava. - Ao perceber o desconforto claro no semblante da dona, Zarina abaixou os olhos de modo submisso.
- Sei que no papel ainda é uma, mas gostaria que não pensasse assim. - Meneou ela culpada.
- Enquanto meu nome ainda pertencer a alguém serei sempre uma escrava. - A franqueza expressa na voz de Zarina assustaram a ambas. - Me perdoe duquesa, eu não queria desagrada-la. - Apressou-se abaixando ainda mais o rosto. - Aceitarei o castigo que minha senhora achar melhor.
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A outra [FINALIZADO]
RomanceLivro I da trilogia "Amores inimigos" "Amar ela era como caminhar de encontro a minha própria condenação." A secretamente abolicionista Cibelle Herveston é a grande duquesa de Manchester. Bela, recatada e devota. Ela foi descrita até mesmo pela rain...