Capítulo Cinquenta - Renegados

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Nas sombras do corredor a escrava guardando silêncio, contemplava a criança que já tinha e o homem que não podia ter, dividirem a leitura de mais alguma aventura entre o bem e o mal. Com uma paciência tocante ele fingia uma dor de cabeça, deixando - com uma expressão pacífica no rosto - que seu filho contasse a história em voz alta e assim desfrutasse do livro sem sentir vergonha da lentidão que os diferenciava.

Com uma paz que juntava cacos ela pôde imagina-los com uma família unida e feliz. Livres, eles viveriam em algum lugar que os aceitassem, com uma imensa gratidão Zarina nunca se cansaria de observar aquela cena e estimaria para sempre o homem que lhe deu isso. Como se seus sonhos tivessem revelado sua presença os olhos dele se demoraram nos seus e como se tivessem ensaiado ambos sorriram derrubando suas forças.

- Querido, é hora de dormir. - Seu melhor olhar de mãe parou a birra antes de acontecer.

- Continuamos amanha? - Zombando da pressa dele Vitor bagunçou os cachos de Adika que riu os pondo de volta. - O senhor não respondeu.

Entrando na brincadeira seus lábios sugeriram estar dando a língua e com a ausência do músculo o humor infantil fizera ele gargalhar com força. Vê-lo tão animado novamente deveria encher seu coração de mãe com alegria, porém só a fazia mais miserável por tirar aquilo dele.

- Por favor, se afaste enquanto meu filho e eu ainda podemos te superar. - Apesar de não ter chegado nem perto disso seus ouvidos zumbiram como se ela tivesse gritado. - Eu não posso amar outro homem que vou perder.

"Isso não vai acontecer." Afirmou encarando preocupado a porta onde eles só se afastaram alguns metros.

- Irá sim, eu já vi como essas relações acabam. - Captando a preocupação dele Zarina diminuiu para um tom sussurrante. - Pode não ser agora, mas no momento em que perceber que não pode ter uma vida normal vai se cansar de estar com alguém como eu. - Sua mão tomou a dele antes que escrevesse. - Vitor, eu não quero você trazendo esperança ao meu filho, isso acaba aqui.

Evitando que mais coisas se partissem com as palavras dela, ele segurando os cantos de seu rosto tomou seus lábios em um beijo teimoso de despedida.

"Me perdoe Zarina, mas eu vou ser egoísta ao menos uma vez."

Sentindo aquele bilhete queimar sua mão mesmo depois dele ter deixado-a, Zarina se apressou para dentro e sua frustração se transformou em vergonha, quando seu filho tarde demais tentou aparentar normalidade mesmo metade de sua cabeça residindo fora da cama.

- Se engana...

- Mamãe, eu estou aleijado não cego. - Rebateu Adika admitindo que não só espiara como os tinha visto se beijarem. - Se o ama eu só espero que ele tenha boas intenções e que a senhora seja feliz.

- E se ele não tiver boas intenções? - Brincou querendo distraí-lo de problemas adultos.

- Então terei que sair mais rápido dessa cama e proteger a honra da senhora. - Uma risada brotou arruinando a expressão séria dele e beijando seu rosto ela se juntou a cama o abraçando apertado.

- A única felicidade que preciso é você.

Igualmente sem esperanças, Adika apenas retribuiu o abraço esperando que aquilo fosse o suficiente para diminuir a dor que mesmo no sorriso a mãe escondia.

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A outra [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora