Capítulo Quarenta e Oito - Batalhas internas

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Nunca caracterizara a si mesmo como um homem impaciente, acreditava ter sempre suas emoções sob controle. Mas, um dia repleto de preocupações e questionamentos sobre a segurança dela, além de um dolorosa saudade, fez Vitor abandonar todo o trabalho como mordomo e correr para a residência da duquesa.

Confiando na palavra da nobre, ele de fato fora tratado como um convidado de honra, entrando sem quaisquer dificuldades e não recebendo um único olhar atravessado de homens que antes o acusaram injustamente na primeira vez que entrou naquele lugar.

Cumprimentando os empregados que já conhecia bem, o mordomo dos duques alegremente o guiou até a ala dos criados tecendo pelo caminho todo elogios a rápida atitude do patrão, que imediatamente após se inteirar das condições do menino arranjara um quarto ao lado da mãe e trocara os móveis simples pelos dos quartos que hospedavam ninguém menos que os visitantes mais importantes do país.

Internamente Vitor queria mandar o idoso calar a boca e revelar que não importava quantas mudanças a culpa mórbida do duque fizesse, ele nunca pararia de desejar que o homem pagasse com o próprio sangue. Mas, como nada bom viria disso ele se conteve.

Como o amor da sua vida não se encontrava no quarto eles prosseguiram até o próximo. Mesmo que suas expectativas estivessem todas centrada na forma em que aquela pele adorável corava ao vê-lo, seu sorriso viera mesmo assim ao encontrar Zarina e Adika ainda dormindo na mesma cama.

Dispensando o mordomo, ele - tomando o cuidado para deixar a porta aberta e evitar escândalos desnecessários - se sentou em uma cadeira próxima e se dedicou a prazerosa tarefa de ler e contempla-la dormir.

- O senhor Chandler e o filho dele não gostavam de falar comigo, além do necessário, então eu só ouvia ordens. - Surpreso seu rosto ergueu das páginas encontrando olhos idênticos ao de Zarina abertos e mirando diretamente nele. - Achei que não queria conversar comigo também, porque eu sou negro.

Chocado com aquela conclusão seu rosto e seus braços negaram veementemente.

- Mamãe me explicou que você não pode falar. - Continuou Adika o acalmando. - Que você é como os irmãos sem língua, mas que diferente deles ninguém arrancou ela de você.

Um brilho de curiosidade igual ao que vira no primeiro dia em que conversou com Zarina, fez Vitor se surpreender novamente ao notar como até nisso mãe e filho eram assustadoramente parecidos. Assim como naquele dia ele como resposta abriu sua boca.

- É esquisito. - Receber a mesma franqueza chocante que a mãe dele lhe dera acabou por desarma-lo e Vitor tentou manter o tom baixo na risada para não acorda-la, mas fora uma tarefa bem difícil. Um som semelhante o acompanhando segundos depois fez seus olhos arregalarem e ele tentou não parecer tão feliz ao ver Adika dar a primeira risada desde o resgate.

- Você gosta de ler?

Já informado da dificuldade da criança para entender várias palavras no idioma novo, ele tentou simplificar ao máximo sua mensagem.

"Sim, eu gosto."

Em uma oportunidade futura ele lhe contaria que não apenas gostava de livro como precisava deles, pois no passado era sua principal ferramenta para que aprendesse a se comunicar. Sem eles, não seria mais que um amontado de sons desconexos e gestos que só Celine entendia.

- De que histórias gosta mais?

"Aventuras."

- Eu também! - Seu entusiasmo fora tanto que Zarina se remexeu na cama e suspendendo as respirações eles esperaram seus resmungos cessarem e ela aprofundar no sono novamente.

A outra [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora