A outra [FINALIZADO]

Capítulo Cinquenta e Seis - Por um bem maior

Dez... Esse era o número de dias que Cibelle não via Celine Marchand. No começo aguardava as correspondências com ansiedade, mas como nem uma carta de despedida havia recebido suas esperanças de que ela a escrevesse diminuíam gradualmente. As únicas notícias que tinha da francesa eram as poucas frases sussurradas dos nobres e algumas menções duvidosas dos jornais que em igual estranhamento questionavam a ausência dela. 

As vezes a saudade que sentia do sorriso zombeteiro ou daqueles olhos brilhantes eram tamanhas que a faziam buscar refúgio em observar o céu estrelado se apegando as lembranças como um náufrago agarraria-se a qualquer objeto que flutuasse no mar. Esse estranho hábito havia se intensificado desde que soubera carregar uma vida dentro de si. Pesadelos envolvendo uma criança que ainda não conhecia perturbavam seu sono e eram de natureza tão grotesca que ela frequentemente acordava aos prantos. 

- Só isso? Tragam mais suportes e lembre-se de deixar as velas distante das janelas! Estarão todas abertas para o ar circular e não desejamos que nossos convidados reclamem da iluminação inconstante, certo?  - Retornando ao mundo real, Cibelle segurando a nova bile em sua garganta se aproximou da mãe ocupada demais em gritar com os funcionários extras. - Pelo céus, eu não ordenei ontem que trocassem logo as cortinas? Dourado, é para tudo estar dourado!

Com a data se aproximando as tarefas acumulavam-se rapidamente e com agradecimento a duquesa jogava-se inteiramente a elas como forma de esquecer a amante fugitiva, o marido em crise e o ser que insistia em deixa-la em seus limites. Porém, era justamente o pequeno indivíduo interferindo em sua saúde hoje que a impossibilitava de cumprir com seus deveres e aceitar a ajuda da mãe.

- Quantas vezes precisarei repetir que as flores vão ficar ali? Afinal, já chegaram os novos uniformes ou eu mesma terei que costura-los também? - Berrava ela até que algum amedrontado criado mostrasse os trajes em preto e a máscara branca de designe simples providenciadas especialmente para o baile.

Quando se tratava de moda, Eleanor Crawford podia ser um desastre, mas isso não se aplicava as decorações e organização de eventos. Por isso, mesmo não estando em bons termos e longe de desejar a presença dela, a duquesa fazia vista grossa com o tratamento rude da marquesa viúva, reconhecendo a eficiência da mãe.  

- Minha senhora os empregados estão aqui como pediu. - Confusa ela olhou para o amontoado de homens e mulheres ao seu comando. 

- Eu pedi?

- Disse-me que tinha algo a nos comunicar a respeito do menino. - Continuou sua governanta notando a pele azulada de sua patroa com preocupação.

Tentando se livrar do olhar atento da velha senhora, ela se apressou lembrando o assunto que pretendia tratar. Já tinha ordenado ao médico que inventasse um motivo para a mudança em sua dieta, então se respondesse que estava sendo atormentada por um dia formado de enjôos e sensibilidade os rumores circulariam tão rápido que dentro de um dia toda a cidade saberia.

- O que vou lhes contar é um segredo, então não deixem que Zarina ou o filho dela saibam. Há um motivo para eu ter contratado um maior número de pessoas esse ano. - Começou em tom de alerta. - Muitos de vocês tiveram um apreço pelo pequeno Adika e estão acompanhando a luta dele. Esse menino é especial e merece que façamos algo por ele, então foi pensando nisso que eu juntamente a marquesa decidimos organizar uma festa de boas vindas para os Afars na mansão do meu irmão. Acontecerá no mesmo dia do baile, será algo íntimo e pequeno, porém todos poderão ir. 

A simples menção de diversão fizera as feições curiosas darem lugar a um burburinho animado. 

- É uma surpresa então em hipótese alguma eles poderão saber. - Insistiu achando graça. - Era só isso, podem voltar ao trabalho... E de novo, tenham cuidado.