O jantar em seu estômago há horas havia sido digerido pelo seu corpo dando a ela os nutrientes que diariamente precisava. Mas, não eram os nutrientes que ainda a mantinha acordada tomando uma taça moderada de seu vinho favorito na sala principal... Era a raiva que ascendia seu sangue e fazia seu espírito ferver impaciente.
- Alguma notícia?
- Ele não chegou ainda minha senhora. - Informou a governanta próxima a poltrona em que sua duquesa residia.
- Que horas são?
- Como dissera cinco minutos atrás, ainda são uma da manhã, duquesa. - Apesar de estar remoendo-se por dentro, Ilda mantinha os sentimentos perfeitamente mascarado em seu rosto plácido.
As últimas labaredas crepitavam fazendo a ausência de mais pessoas na sala terrivelmente evidente e irritada como nunca estivera com aquele silêncio, Cibelle centrou toda sua raiva na lua que atravessava sua janela como se quisesse mandar a ela seu recado indignado. Dentro de si, o bom senso apelava para trazer a dama estimada de volta, desistir de confronta-lo e calmamente dormir. Só que não era mais ela que mandava em seu corpo agora, era seu verdadeiro "eu" e ele queria tudo menos a docilidade pacifica e submissa da duquesa de Manchester!
- Chega! Se ele não me dará uma resposta sei quem vai me dar. - Decretou Cibelle anunciando para noite lá em cima seu desafio.
- Minha senhora, o que está fazendo? - Perguntou a governanta subitamente alarmada ao ver a perfeita dama que sempre fora sua senhora, escandalosamente correr até o quarto.
Indiscutivelmente mais lenta que a jovialidade dela a velha só tivera tempo de vê-la tentar fazer um penteado nos cabelos e se frustrar com a inexperiência jogando os grampos no chão. Ainda de cabelos soltos e resmungando baixo a duquesa prosseguiu até o quarto adjacente onde ficavam seus pertences.
- Não ficarei em casa a noite toda esperando como uma tonta. - Fora a única coisa que a governanta conseguira ouvir observando sua senhora sair atrás de luvas e um chapéu.
Ao perceber o que estava fazendo toda a feição plácida de Ilda desmoronou.
- Pretende sair a essa hora duquesa? - Exclamou a velha com os olhos arregalados.
- Pretendo e ninguém irá me parar.
- Mas, não pode ir! É perigoso para uma dama sair sozinha!
- Não irei sozinha.
Usando da mesma pressa Cibelle simplesmente passara pela governanta, fingindo não escutar seus passos logo atrás continuando sem interrupções todo o caminho até a ala dos empregados onde sem esquecer das boas maneira batera antes de entrar.
- Ainda necessita de mais descanso? - Surpresa demais para respondê-la, Zarina apenas negara com um movimento de cabeça fechando o livro sobre o seu colo. - Está confortável nessas roupas? - Lentamente ela analisou o simples vestido verde de linho que poucas horas atrás pusera e sentindo o aroma de sabonete ainda fresco no corpo ela confirmou. - Então venha comigo. Não aguento mais vê-la trancada nesse lugar.
Em meio a sua confusão Zarina só tivera tempo de pegar uma capa e sair apressada até a saída onde sua dona a esperava de modo impaciente. Mais confusa ainda ela com cuidado observou a orgulhosa governanta daquela mansão - uma mulher em que nenhum de seus dias em Herveston Hill vira expressar qualquer emoção além de desprezo por ela - estar a beira de jogar-se aos pés da duquesa suplicando.
- Minha senhora por favor... Meu senhor pediu que ficasse em Herveston Hill. - Suas palavras não tiveram efeito algum nas mulheres que continuavam a descer as escadas. - O duque ficará irritado se voltar e não encontra-la aqui!
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A outra [FINALIZADO]
RomanceLivro I da trilogia "Amores inimigos" "Amar ela era como caminhar de encontro a minha própria condenação." A secretamente abolicionista Cibelle Herveston é a grande duquesa de Manchester. Bela, recatada e devota. Ela foi descrita até mesmo pela rain...