Em profunda agonia ao saber que seu mundo esperançoso não passava de uma farsa brilhante comparado a realidade de sua inutilidade, seu cérebro em uma tentativa de preservação pensava incessantemente em coisas boas para aliviar a dor. Coisas como o aconchego de sua mãe, a companhia de seu irmão, o humor de sua amiga eram frequentes em sua cabeça... Porém, o que curiosamente mais desejava - de um jeito quase assustador e necessitário - era estar com ela.
Constatava ela surpresa que queria sua risada, seu humor sarcástico, seus comentários escandalosos e contanto que pudesse estar ao seu lado ela nem se importaria de ser alvo de suas piadas. Tomado por esses pensamentos tão reveladores Cibelle não percebia que inconscientemente já estava guiando o cavalo bem além de Herveston Hill e exatamente as portas dela.
Com a lua banhando a imensa propriedade em prata, branco e azul a Maison au clair de lune fazia jus ao novo nome que a proprietária lhe batizara. Planejava dar meia volta, mas sua roupa inadequada para montaria começava a pesar no corpo, os arranhões causados pelos galhos em seus braços começavam a arder e como faziam anos que não montava seus músculos desacostumado reclamavam de dormência. Em igual concordância o pobre cavalo vítima da longa fuga e incapacidade de sua condutora demonstrava tanto cansaço quanto ela.
Se convencendo de que era apenas por piedade ao animal Cibelle desmontara dando as rédeas ao cavalariço que a observava de longe em prontidão. Com todos ali acostumados a presença da duquesa, os poucos que ainda trabalhavam na entrada mantiveram a discrição permitindo que ela passasse como se fosse mais uma moradora ali. Quando alcançou o primeiro degrau o clarão da porta abrindo-se a fez olhar para cima e engolindo seu choro ela apenas continuou a subir até estar de cara com uma assustada mulher de impressionantes olhos azuis.
- Posso passar a noite aqui? - Mal a lágrima traiçoeira havia caído e Cibelle já estava nos braços de Celine.
- Quantas quiser. - A voz sedosa mergulhada em preocupação só a fizera chorar mais. - Vitor, prepare um quarto.
- Não quero incomodar. - Disse afundando o rosto em seu ombro envergonhada.
Agia como uma criança chorona em vez da dama elegante que nascera para ser e para piorar sentia o olhar de todos em suas costas testemunhando aquilo.
- Prepare o quarto conjugado. - Ordenou indicando o quarto pertencente aos condes de Bath. - Desse modo não irá incomodar já que o uso sempre.
- Obrigada.
- Entre, está gelada.
Sentindo-se como um dos ratinhos na história que seu pai lia para ela, Cibelle se aproximava da sala de música sob os mesmo efeitos hipnotizantes das notas musicais, mas diferente do instrumento que Hamelin tocava, não era uma flauta que mais uma vez a atraía e sim aquele perturbador pedido de socorro vindo do piano. Não demorara muito para a pianista notar sua presença e assim que os dedos pararam e ela viu de novo a vulnerabilidade exalada nos olhos seu coração se apertou dolorosamente.
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A outra [FINALIZADO]
RomanceLivro I da trilogia "Amores inimigos" "Amar ela era como caminhar de encontro a minha própria condenação." A secretamente abolicionista Cibelle Herveston é a grande duquesa de Manchester. Bela, recatada e devota. Ela foi descrita até mesmo pela rain...