Capítulo Quarenta e Um - Adika

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Bastava apenas uma análise rápida e qualquer um saberia que as duas mulheres inquietas na sala se tratavam de ladies da mais alta estirpe.

- Aquela velha não estava mesmo louca. - A tal velha não disfarçara a carranca para o patrão assim que ele chegara com sapatos mergulhados em esterco e entrado na cômodo onde nada menos que uma duquesa e uma condessa o esperavam. - O que vocês querem?

Que ele não se curvasse e cumprisse cada regra de etiqueta, Cibelle entendia, mas aquilo era mais do que ignorância vinda de suas origens humildes. Era uma óbvia e proposital demonstração de desrespeito.

- Meu nome é_

- Eu sei quem vocês são. - Cortou Chandler rudemente. - Nem mesmo se minha criada não houvesse me dito eu deixaria de reconhecer a condessa de Bath diante de mim. - Apesar dos olhos do homem estarem cheios de recordações a condessa não conseguia lembrar dele não importava o quanto se esforçasse. - O que eu não sei milady, é o que duas nobres vieram fazer aqui.

- Viemos atrás de um menino, um escravo que adquiriu há cerca de um ano atrás. - Esclareceu Celine dando o mesmo tom rude. - Seu nome é Adika Afar.

- Como souberam disso? Essa informação deveria ser sigilosa.

- Ele ainda está aqui?

- Sim.

- Oh, graças a Deus! - Disse a loira numa lufada de ar. - Viemos leva-lo de volta para a mãe, senhor.

- Eu não faço caridade, duquesa. - Imediatamente as mãos de Cibelle afundaram no vestido para não deixar escapar os insultos que foi educada a nunca proferir.

- Então, vamos tratar de negócios.

Um sorriso que mostrava a falta de alguns dentes brincou nos lábios do proprietário.

- Eu não faço negócios sem uma boa xícara de café. - Rebateu acenando para a mulher.

Com uma lentidão compreensível para todos menos para o próprio patrão, a idosa que provavelmente era a única criada ali as serviu com um sorriso educado no rosto.

- O que foi senhoras? - Questionou após notar que nenhuma delas faziam algo além de olhar a xícara com inquietude. - Meu café não é tão bom para o padrão de vocês?

- Por favor senhor, não viemos fazer uma visita. A mãe dele está lá fora, inconsolável! - Cortou Cibelle sem paciência para joguinhos. - Rogo para que abra o coração e ajude-me a unir uma família novamente.

- Se queria tanto mantê-los juntos por que não o comprou também? Acaso faltou dinheiro no ducado? - O riso desdenhoso só fez Celine desejar saber como seria tirar alguns dentes a mais dele.

- Isso... Ocorreu um erro, senhor. - Explicou ela envergonhada. - Achávamos que ele estava morto esse tempo inteiro.

- Bom, não chegou longe da verdade. - A cor sumiu do rosto de ambas e Cibelle deixou cair a xícara que seus dedos finos seguravam.

- O que disse?

- Como não chegou longe da verdade? - Questionou a condessa encarando-o com todo o nojo que um escravista como aquele merecia.

Ignorando o fato de que ele próprio havia manchado o tapete com esterco o homem contraiu cada ruga ao ver a mancha que o café provocou.

- Vocês nobres com essa superioridade irritante... Sempre se achando melhor do que nós. - Começou contemplando as mãos sedosas que nunca viram um dia de trabalho na vida. - Servi ao conde de Bath por cinco anos e você nem mesmo me reconheceu. - Por um segundo ele vira o brilho recordatório tomar os olhos azuis dela. - Pode não parecer agora, mas eu era um homem influente duquesa... Administrava as riquezas do condado antes do marido dela me condenar a isso. - Uma mão foi as botas demonstrando seu enojamento. - Quando propus a compra de escravos como uma nova forma de diminuir os gastos ele me tratou como um cão e me escorraçou de suas terras... Eu cumpria bem além de meus deveres, era leal e nem um agradecimento recebi por meu empenho ao condado.

A outra [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora