Capítulo Vinte e Nove - Mentiras e fachadas

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- Você parece de bom humor. - Testou Cibelle depois de dez minutos ouvindo a suave melodia que Zarina assobiava. - Diga-me, essa felicidade tem nome?

Uma risada coletiva se fez nas criadas ainda ali.

- Temo não ter entendido, minha senhora. - Respondeu a escrava voltando com a escova para pentear seus cabelos.

- Fale-me de como tem sido os passeios com o senhor Vitor... O que vocês tem feito?

- Não fazemos nada de extraordinário. - Falou se esforçando para tratar o tema com indiferença.

Desde que aquele homem bruto aparecera com seus sensíveis bilhetes e aquela força descomunal, Zarina não ouvia outra coisa das empregadas que não fosse a beleza rude daquele francês. Vendo a curiosidade cravada nos olhos castanhos de sua dona, ela se forçou a entregar-lhe mais.

- Conversamos sobre nossas vidas passatempos, hobbies... Quer dizer ele fala. Eu não tenho nada de interessante para dizer. - Explicou se perdendo cada vez mais naqueles passeios. - E desde que ele soube que estou me aprofundando em ler e escrever vem me trazendo livros e mais livros enquanto não para de falar sobre eles!

A risada dele, aquele olhar caloroso e o modo como ele sempre se esforçava para deixá-la a vontade se misturaram com tanta força a realidade, que seu cérebro embaralhado virou apenas uma massa dedicada a ele.

- Sabe, na verdade é irritante como ser mudo não o impede de ser um tagarela! - Explodiu sentindo em seu coração errante sentimentos que não deveriam estar ali.

- Tagarela? Não o imagino assim. - Brincou a duquesa rindo alegremente.

Cada milímetro da atenção dela a estudava atentamente e irritada mais do que era aconselhável, Zarina num surpreendente ato insolente bufou como se a repreendesse. Sendo estranha como sempre sua dona apenas riu mais alto.

- Quais jóias a duquesa usará no jantar? - Perguntou necessitando que as pessoas parassem de falar naquele homem insistente.

Decidindo dar uma trégua a escrava, Cibelle entrando no seu jogo dedicou alguns minutos avaliando o rico vestido marfim com bordado em ouro e pedras preciosas. Com o tempo a escolha perfeita chegou a sua mente. Com tanto luxo exposto, uma dose de simplicidade era necessária.

- Tenho brincos que ficarão excelentes nesse vestido! - Animou-se ela indo até uma das gavetas. Quando Zarina percebeu ela tirar a mais desinteressante das caixas sua respiração parou. - Não são tão bonitos, mas ele está na família há gerações! Foi me dado por Joseph em nosso segundo ano de casados.

Enquanto ela procurava pelo brinco a escrava tentava não deixar evidente suas mãos trêmulas a espera de que ela não percebesse. Mas, só havia seis brincos em cada caixa e não teria como não notar o desaparecimento de um par. Principalmente se ele era feito de diamante e ouro branco.

- Eu jurava tê-los guardado aqui. - Alegou encarando confusamente o espaço vazio no forro aveludado. - Talvez tenha deixado no cofre?

- O que acha de quartzos, Cibelle? - Incentivou esperando distrai-la com seu tom amigável.

- Sim, faça isso. - Concordou ela visivelmente menos animada ao fechar a caixa e pedir para uma criada - felizmente distante demais para notta-las - devolvesse o objeto a gaveta.

Salva por enquanto Zarina terminava de enrolar uma trança em volta do coque nos cabelos dourados quando novamente escutou a voz da sua dona retomar seu interrogatório.

- Talvez seja indelicado o que vou dizer, mas acho tão fascinante o modo como costumam trançar o cabelo. - Aliviada pelo tom renovado da duquesa a escrava riu esperançada pela perspectiva daquele clima amistoso conseguir afastar o desaparecimento dos brincos... De preferência até que ela os esquecesse de vez.

A outra [FINALIZADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora