Capítulo Dois

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Jorge Viana

Continuo parado em frente à porta fechada do apartamento, olhando para o casal a minha frente, que me encaram com surpresa e um deles, acompanhante de Apolo, tem algo a mais no olhar.

- Acho melhor entrarmos. - A voz de Apolo diz após alguns segundos de completo silêncio e isso me causa alívio.

Ele não me rejeitou ou mandou embora, então isso já está mais do que bom para mim.

Apolo guia sua cadeira na minha direção e abre a porta do apartamento. Olho para o rapaz que ainda está parado no corredor e entro em seguida. Não preciso ser muito inteligente para saber o que ele está pensando e para ser sincero, eu queria muito que o pai do meu filho fosse alguém como Apolo. Mas, nem tudo é como queremos.

Assim que entro no apartamento, Apolo aponta uma poltrona vazia, a qual eu me sento sem muito insistir. Sinto todo meu corpo cansado e meus braços doem por estar carregando Gustavo ainda. E infelizmente, eu me sinto mais fraco a cada minuto que se passa.

Observo quando o rapaz desconhecido entra também e fecha a porta. Apolo lhe lança um olhar significativo e em seguida ele está sentado ao seu lado, entrelaçando suas mãos.

Acho bonito o casal que eles formam e resolvo tirar o olhar de puro terror e medo que há no rosto do desconhecido para mim.

- Eu já vi como está me olhando, mas pode ficar tranquilo... Esse filho não é do Apolo. - Falo olhando para ele, que praticamente suspira de alívio.

E sinceramente? Eu não posso culpá-lo. Acho que me sentiria igual se fosse comigo.

- Me desculpa, eu... - Ele gagueja e percebo que ele está realmente envergonhado.

- Tudo bem, faria o mesmo em seu lugar. Mas é sério, Apolo e eu nunca tivemos nada. - Falo e aperto ainda mais Gustavo contra meu peito.

Me sinto extremamente nervoso nesse momento e com medo. Eu sei que Apolo não tem nenhuma obrigação comigo, muito menos com meu filho... Ainda mais agora que ele tem um companheiro.

- Ele é filho do... - A voz de Apolo chama minha atenção, mas ele para de falar, engolindo em seco em seguida. E bem, eu o entendo.

- Do Vicente? Sim. - Respondo em um suspiro. - Fazia muito tempo que não o via mais, até que ele apareceu pouco tempo antes de morrer e me obrigou a ficar com ele sem proteção. Descobri a gravidez duas semanas depois que soube da morte dele. - Conto e vejo surpresa em seus olhos, assim como algo a mais.

- Quantos anos ele tem? - Apolo pergunta, olhando para meu filho em meus braços.

- Um ano e três meses. - Respondo com um sorriso e passo meus dedos pelos cabelos ralos de Gustavo.

- Nossa, ele parece ser mais novinho. - O desconhecido fala e assinto, sentindo meu peito se apertar.

- Tive muitos problemas na gravidez. - Falo e automaticamente minha expressão se torna mais séria. Lembrar da minha doença me deixa com um buraco no peito.

O silêncio nos envolve por um tempo e não me atrevo a dizer nada, já que o medo fala mais alto por mim agora.

- Por que precisa de ajuda, Jorge? - Apolo pergunta após um tempo.

Sinto o olhar dos dois homens em mim e tento buscar as palavras, mas não as encontro, então apenas tiro o boné em minha cabeça, lhes mostrando a dura realidade.

Ouço um ofego baixo, que vem do homem sentado ao lado de Apolo.

- Eu estou doente, tenho leucemia. Descobri poucos meses depois de saber sobre a gravidez de Gustavo. Estava com cinco meses na época e teria que escolher se matava meu filho, ou deixava o tratamento de lado. E bem, vocês já sabem o que eu escolhi. - Conto e uma lágrima escorre por meu rosto. - Quando descobri a gravidez, dei um jeito de ser expulso da casa de prostituição onde trabalhava, mas fiquei feliz por isso. Eles são capazes de coisas cruéis quando descobrem a gravidez de alguém de lá. - Falo e respiro fundo.

Permita-se Amar - (Mpreg) | Spin-off Do Livro "Coração de Aço"Onde histórias criam vida. Descubra agora