Jorge Viana
Um ano e três meses depois...
Balanço o pequeno corpo de Gustavo, tentando fazer ele dormir. Sinto meus olhos arderem pelas lágrimas, mas me forço a não derramar nenhuma. O pequeno espaço do meu carro, já bem velho, parece me sufocar e respiro fundo algumas vezes.
Faz cerca de dois meses que fui despejado do pequeno apartamento onde morava com meu filho. Infelizmente depois que perdi meu emprego na lanchonete, não encontrei nenhum outro e juntando o fato de eu estar grávido e doente, aí sim que ninguém quis me dar uma chance.
Pelo menos eu consegui seguir com a gravidez do meu pequeno milagre. Tive muitas complicações até o fim da gestação e pensei que perderia Gustavo na hora do parto, mas Deus não me desamparou naquele momento.
Devido a minha doença, Gustavo nasceu bem menor que a maioria das crianças e alguns médicos falaram que ele teria alguns problemas para se desenvolver. Realmente ele ainda continua sendo menor que a maioria das crianças da sua idade, tem alguns problemas respiratórios, o que me faz gastar o dinheiro que eu não tenho em remédios. Mas, fora tudo isso, Gustavo é uma criança alegre e saudável na medida do possível.
Infelizmente eu não posso dizer o mesmo sobre mim. Devido aos meses que fiquei sem o tratamento, o câncer avançou e agora eu travo uma batalha árdua para poder o vencer. Pois minha maior preocupação em meio a tudo isso, é morrer e meu filho não ter com quem ficar.
Foco meus olhos em meu filho e suspiro aliviado por ele ter dormindo. Sei que ele deve estar com fome, mas o leite que eu ainda tinha acabou. Eu nunca pude alimentar meu filho, pois assim que dei a luz, semanas depois eu comecei meu tratamento. E agora, não tendo mais casa, emprego e morando em um carro velho, todo dinheiro que eu ainda tenho, o que não é muito, é para comprar o leite e mais algumas coisinhas para Gustavo.
Solto um suspiro e limpo às lágrimas que ainda caem por meu rosto. Sinto meu estômago reclamar de fome e sei que não posso ficar sem comer por muito tempo, mas ainda não está na hora.
Deito o corpo de Gustavo no bebê conforto que ainda me sobrou e cubro seu corpo com a manta. Quando fui despejado não pude pegar quase nada, a não ser algumas roupas e objetos pessoais.
Separo uma troca de roupa para mim e Gustavo e saio do banco traseiro em seguida. Ajeito o boné em minha cabeça, acessorio que esconde a minha falta de cabelo.
Eu nunca fui uma pessoa vaidosa, mas me cuidava devido a profissão que tinha. Não gostava muito de chamar a atenção, pensava que assim ninguém iria me querer, mas foi o contrário. E hoje em dia, eu não tenho muita coragem de me olhar no espelho, pois sei que vou sentir pavor de mim mesmo. Meu corpo está ainda mais magro devido aos dez quilos que perdi durante esses meses. Minha pele está ainda mais pálida e sem vida, meus olhos opacos e sem brilho e lábios rachados e sem cor.
Balanço minha cabeça com a intenção de afastar todos esses pensamentos e me sento no banco do motorista. Sigo até um café que tem perto de onde eu deixo meu carro todos os dias. Leva alguns minutos e estaciono de frente ao local, no mesmo horário de sempre.
Logo vejo Giulia, uma menina simpática que conheci há dois meses. Ela trabalha no café e me deixa todos os dias tomar banho por aqui junto com Gustavo, claro, sem que seus chefes saibam.
Desligo o carro e saio em seguida, pego a bolsa com minhas roupas e de Gustavo e pego meu filho em seguida.
- Oi Jorge! - Giulia me cumprimenta com um sorriso e deixa um beijo em Gustavo.
- Oi, tudo certo? - Pergunto com um sorriso pequeno e ela assente.
- Sim, vem comigo. - Ela diz e eu a sigo até a parte de trás do estabelecimento.
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Permita-se Amar - (Mpreg) | Spin-off Do Livro "Coração de Aço"
RomanceQuando se passa a vida toda servindo apenas como um objeto sexual é difícil de acreditar que um dia possa ser amado de verdade. E é exatamente esse pensamento que se passa na cabeça de Jorge. Um homem que teve sua adolescência roubada para a prostit...