Capítulo Nove

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Leonardo Monteiro

Estaciono meu carro em minha vaga e fico bons minutos olhando fixamente para o painel apagado do carro. Respiro fundo uma, duas, três... Incontáveis vezes, sempre ouvindo as palavras do meu pai ecoar em minha cabeça.

" Se existe algum sentimento aí dentro por esse rapaz e se você acha que ele pode te corresponder, corra atrás disso. Não deixe sua oportunidade passar por culpa de algo que não deu certo. Decepções amorosas todos nós temos, mas isso não quer dizer nada. Cedo ou tarde você pode encontrar a pessoa certa. "

Reflito nas palavras do meu pai, sentindo meu coração acelerar a cada segundo por apenas pensar na possibilidade de estar com Jorge. Mas mesmo que haja algum sentimento dentro de mim e uma vontade, eu não posso simplesmente derramar as coisas em cima dele. Ele é meu paciente e está doente, não precisa de mais alguma coisa para o preocupar.

Decido deixar esses pensamentos de lado e pensar nisso depois. Eu ainda tenho uma semana e não preciso de uma resposta concreta nesse momento.

Solto um suspiro pesado e pego minha mochila, saindo do carro em seguida. Olho em meu relógio e vejo que já são 21h, bem no horário do meu plantão.

Entro no hospital pela porta dos fundos, usada pelos funcionários e vou diretamente para o vestiário. Troco de roupa em poucos minutos e mal saio do cômodo, um enfermeiro me olha com desespero.

- O paciente Jorge está tendo uma crise de pânico. Os batimentos cardíacos estão muito alto, prestes a dar uma parada cardíaca. - Ele diz acelerado, sem que eu ao menos pergunte.

- Ele está respirando normalmente? - Pergunto, enquanto ando apressado pelos corredores com o rapaz ao meu lado.

- Ele está com a máscara de oxigênio, mas não o medicamos por causa das condições de tratamento e resolvi te chamar. - Ele responde e assinto.

- Fez o certo. - Falo a ele.

Dou graças a Deus quando chegamos ao quarto de Jorge e corro até ele. Vejo que seus batimentos cardíacos estão muito acelerados e isso me preocupa. Observo uma expressão de dor em seu rosto e seu peito sobe e desce sem parar, mas ele não acorda de maneira nenhuma.

- Preparem uma dose de midazolan. - Peço a um dos enfermeiros e volto meu olhar para Jorge.

Sei que isso não é nem um pouco profissional, mas involuntariamente minha mão aperta a sua, buscando lhe mostrar conforto e que tudo está bem... Ele não está sozinho.

O enfermeiro volta com o sedativo já pronto e peço para ele mesmo aplicar, já que de uma maneira estranha, minhas mãos estão trêmulas.

Fico aliviado ao ver os batimentos cardíacos de Jorge ir se acalmando aos poucos, assim como ele também toma uma expressão mais serena e menos atormentada em seu rosto.

- Podem ir, eu mesmo vou o observar. - Falo após alguns minutos de silêncio, me referindo aos dois enfermeiros no quarto.

- Sim senhor. - Os dois respondem, mas não olho para eles. Minha atenção está em outra pessoa.

Escuto o barulho da porta se fechando e respiro fundo. Sem soltar a mão de Jorge que está na minha, eu alcanço a cadeira próxima a cama e me sento em seguida. Meus olhos observam cada detalhe do rosto dele, que possui um pouco mais de vida agora, duas semanas após o início do tratamento.

E eu não consigo entender como em tão pouco tempo, esse homem conseguiu mexer comigo dessa forma. Acho que o pior, foi sentir o medo que acabei de sentir. Só a ideia de que algo pior acontecesse com ele, me atormentou de uma forma sem precedentes.

Permita-se Amar - (Mpreg) | Spin-off Do Livro "Coração de Aço"Onde histórias criam vida. Descubra agora