Leonardo Monteiro
Meus olhos analisam a expressão serena de Jorge e solto um suspiro pesado ao pensar que ele pode estar mesmo grávido. Nos últimos dias eu pude reparar uma pequena mudança nele, mas deixei passar, pois não imaginei algo do tipo. O que é meio bobo, né?! Somos um casal e eu deveria ter tomado cuidados maiores.
Não é que não queira ser pai outra vez, isso é sim um desejo enorme que eu tenho, mas me sinto com medo. Não faz nem um ano que Jorge está livre de um câncer. Seu corpo foi muito maltratado durante o tratamento e ele precisa de mais tempo para se recuperar, o que uma gravidez não ajuda nenhum pouco. Ele diz ser forte e eu acredito em suas palavras, mas e se sua saúde piorar? Eu sei que a culpa iria me consumir ao extremo.
Respiro fundo e trago seu corpo para junto do meu, sentindo ele se agarrar mais a mim em seu sono. Deixo um beijo em seus cabelos e fecho meus olhos, pedindo a Deus que dê tudo certo no final.
* * *
Sinto a mão de Jorge se apertar cada vez mais a minha e sorrio para ele, tentando passar calma, o que eu não tenho muito no momento. Faz alguns minutos que ele foi atendido e recolheram algumas amostras de sangue para fazer exames. Eu sei que doente ele não está, pois poderia reconhecer os sintomas e graças a Deus ele não teve nenhum.
- Acho que eu vou vomitar. - Ele diz baixinho e vejo que sua perna esquerda não para de balançar.
- Calma, ok? Vai ficar tudo bem... Quer ir ao banheiro? - Pergunto, mas ele nega.
- Não, pode pegar água pra mim? - Ele pergunta e isso me faz sorrir, pois é claro que eu faço isso por ele.
Aceno em concordância para ele e me levanto após deixar um beijo em sua mão, sigo até o bebedouro e encho um copo descartável com água, voltando segundos depois.
- Ei, eu estava pensando em algo. - Falo e Jorge olha em minha direção, como se pedindo para eu continuar. - Acho que já está na hora do Gustavo frequentar uma pré escola.
- Sim, também andei pensando nisso. - Ele diz após terminar de beber sua água. - Mas não sei, tenho medo.
- Por que, Sol? - Pergunto confuso e trago ele para junto de mim, o abraçando de lado.
- E se não cuidarem dele direito? Eu sei que dona Emília e Maju fazem isso, mas e se os outros não fizer? Já vi muitos casos na TV de maus tratos a crianças e eu viraria o cão se fizessem algo ao meu bebê. - Jorge responde e acho fofo ele todo bravinho.
- Eu entendo seu medo, amor, mas também há muitas escolas de respeito e nós podemos procurar a melhor. Por enquanto eu vou cuidar dele enquanto você trabalha, mas em breve eu creio que estarei de volta ao hospital. - Falo e ele sorri, me olhando.
- Claro que estará, você é inocente e um ótimo médico... Eles só estão perdendo sem você. - Ele diz e eu sorrio, deixando um beijo em seus lábios rosados.
Os próximos minutos se passam comigo e Jorge procurando na internet boas indicações de escolas, e confesso que isso serviu para me distrair também. Mas o nervosismo voltou assim que o nome de Jorge foi chamado novamente e nós voltamos ao consultório.
Resolvi trazer Jorge até à clínica de um médico que conheço há alguns anos. Fomos colegas na faculdade e já fizemos algumas parcerias para cuidar de pacientes grávidos e doentes. E mesmo sabendo que Jorge não está mais doente, eu quis trazê-lo ao melhor, pois, já que não posso cuidar dele, não admito que qualquer um faça isso.
- E então, quais foram os resultados? - Pergunto para Júlio, assim que nos sentamos em sua frente.
Sinto a mão de Jorge apertar a minha e olho para ele, lhe dando um sorriso calmo, mesmo que eu esteja mais nervoso do que ele.
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Permita-se Amar - (Mpreg) | Spin-off Do Livro "Coração de Aço"
RomanceQuando se passa a vida toda servindo apenas como um objeto sexual é difícil de acreditar que um dia possa ser amado de verdade. E é exatamente esse pensamento que se passa na cabeça de Jorge. Um homem que teve sua adolescência roubada para a prostit...