Capítulo Vinte e Dois

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Jorge Viana

Noto o olhar perdido no rosto de Leonardo e ele se senta no chão à minha frente, mas ainda mantém suas mãos na minha. Respiro fundo e tento organizar meus pensamentos para dar continuidade a história. Sei que minhas palavras foram impactantes para ele, mas para mim dize-las é muito pior. É como se uma ferida fosse reaberta, mas não há nada que eu possa fazer a não ser contar tudo de uma vez. Tenho certeza que será bem pior se eu continuar adiando tudo isso.

- Eu não sei o que dizer. - Ele diz ainda desnorteado e não me olha, o que me faz sentir certo alívio, pois não quero olhar em seus olhos enquanto lhe conto tudo.

- Não precisa dizer nada, só me escuta até o final. - Falo e ele assente.

Ficamos em silêncio por alguns bons minutos, enquanto eu busco palavras para começar a contar tudo de uma vez e acabo soltando minhas mãos da sua.

- Minha mãe era garota de programa, começou cedo nessa vida já que não tinha ninguém no mundo e nem como sobreviver. Ela foi "acolhida" em uma casa de prostituição e aquilo se tornou o seu lar. Ela acabou engravidando uns dois anos depois de começar, de algum cliente que com certeza não lhe daria a mínima. Por mais que haja algumas regras, alguns homens nunca estão satisfeitos e não se importam de quebrar, desde que haja dinheiro para pagar. E então minha mãe seguiu com a gravidez, pois ela jamais iria abortar um filho, mesmo naquela situação. Os donos do lugar exigiram que ela trabalhasse até o fim da gestação e ela o fez, até que meu irmão nasceu... O Lucio. Naquele mesmo dia o gerente do lugar lhe fez uma proposta... Ela poderia cuidar do meu irmão ali, mas quando ele atingisse uma certa idade, passaria a trabalhar para eles também. - Conto e então nossos olhares se encontram e eu vejo o nojo estampado em seu olhar.

- Essas pessoas não são seres humanos, isso é cruel. - Ele diz com raiva e eu o entendo, pois tenho o mesmo pensamento.

- Eu concordo e minha mãe também pensava assim na época, tanto que ela negou essa atrocidade, traçando a vida de um bebê que havia acabado de nascer. Mas aquelas pessoas não se contentavam com um "não", então na mesma noite eles pegaram o bebê e deram um fim. Minha mãe ficou louca na época, mas não poderia fazer nada, que poder ela tinha? Então ela apenas seguiu em frente, tendo a certeza de que seu filho estava morto, mas não estava. Graças a Deus um casal bom encontrou meu irmão em uma caçamba de lixo e eles foram pais para ele, o que me deixa imensamente feliz e tenho certeza que a minha mãe também. - Falo e limpo uma lágrima que escorre.

É reconfortante saber que pelo menos meu irmão teve uma vida diferente da minha. É bom saber que ele não teve que sofrer o mesmo que eu, isso me traz paz.

- Mas tudo que é ruim ainda pode piorar e foi assim que aconteceu. Minha mãe acabou engravidando novamente, dessa vez de mim. E tenho certeza que dessa vez ela sofreu ainda mais, imaginando as coisas que eles fariam comigo também. E então eu nasci, minha mãe não queria sofrer tudo novamente e acabou concordando com a antiga proposta... Só que dessa vez era para mim. - Falo e tento ser forte para não deixar as lágrimas caírem com mais intensidade por meu rosto.

- Jorge... - Ele começa, mas eu nego pois eu tenho que continuar.

- E foi assim que eu cresci, em uma casa de prostituição. Eu não tive a melhor educação, estudei porque minha mãe fez o impossível para isso, e ela tentava me proteger de todas as maneiras, mas isso não foi possível. O combinado era que eu começaria aos quinze anos, e isso é irônico, não? Enquanto alguns jovens planejavam suas festas de quinze anos, eu tinha a certeza que a minha vida acabaria naquele dia. E para piorar tudo minha mãe ainda estava muito doente, estava com leucemia também e não tinha condições de tratar. Então eu enfrentei meu medo, pois queria fazer algo por ela, querendo ou não aquela era a nossa única fonte de renda. - Falo e faço uma pausa para tomar fôlego, pois meu peito parece queimar nesse momento. - E então eu fui, fiz meu primeiro programa com um homem muito mais velho que eu. E eu nunca me senti tão morto na minha vida, era como se eu estivesse perdendo tudo naquele momento e nem a dor física me importava. Aquela uma hora foi uma tortura gigante e quando eu saí do quarto, querendo correr para os braços da minha mãe, o golpe foi pior. Quando eu entrei no nosso pequeno quarto, minha mãe estava morta na cama... Eu tinha acabado de perder tudo no mesmo dia.

Permita-se Amar - (Mpreg) | Spin-off Do Livro "Coração de Aço"Onde histórias criam vida. Descubra agora